Palavras Domesticadas

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sábado, 22 de janeiro de 2011

Jorge Mautner - 1975


“Ele é um feiticeiro eletrônico. Sua cabeça é como o caldeirão de uma bruxa, onde fervem fantásticas misturas aquecidas pelo sol e por uma intrincada instalação elétrica. Desse caldeirão saem rocks, baiões, maracatus, mambos e até blues, tudo muito cheio de humor, malícia e sutilezas. E para completar essa grande mistura, Mautner toca violino e bandolim elétrico, com a manha e o charme de um autêntico cigano.”
Assim começa uma matéria sobre Jorge Mautner, publicada na revista Pop de janeiro de 1975, com o título “Jorge Mautner – Um Salto no Escuro Para Iluminar o Rock”. O texto é de Valdir Zwestech, e o título faz referência a dois trabalhos de Mautner. “Um Salto no Escuro – título de uma música e um show que ele apresentou em 1974, e “Para Iluminar a Cidade”, seu primeiro disco. Abaixo, trechos da matéria:
“Ele tinha 14 anos quando escreveu seu primeiro livro. E com 15, em plena década de 50, já cantava seus rocks para os fregueses de uma pizzaria do Brás, bairro italiano de São Paulo. Mas só agora, já com 34 anos de vida e estrada, é que Jorge Mautner pintou para ocupar seu lugar no mercado musical brasileiro. Com o sucesso de Maracatu Atômico, na voz de Gilberto Gil, surgiu a chance de Mautner gravar seu LP e sair pelo Brasil mostrando sua música cheia de saudáveis misturas. Filho carioca de pais alemães fugidos do nazismo, Mautner nasceu a 17 de janeiro de 1941. Capricorniano, curioso e inquieto, logo abriu os ouvidos para a música: de um lado, a formação erudita dos pais; de outro, a contagiante efervescência popular do samba, do carnaval, da macumba, dos blues e, mais tarde, do rock.
Em 1965, Mautner botou uma mochila nas costas e foi para os Estados Unidos. Lavou pratos, foi funcionário das Nações Unidas, massagista, datilógrafo de banco, garçom e se envolveu com os caras mais ligados da efervescente cultura pop. Em 1971 foi para Londres e lá encontrou os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil curtindo o exílio. O encontro foi fundamental. Com Gil e Cae, Mautner compôs várias músicas, escreveu artigos para jornais e fez até um filme, O Demiurgo. No Fim do ano voltou para o Brasil e imediatamente montou um show (Para Iluminar a Cidade) no Teatro Opinião (Rio). Nesse show já aparecia a vigorosa fertilidade de Mautner e, principalmente, o verdadeiro poder de feiticeiro eletrônico que ele tem ao misturar ritmos, raízes, influências, assuntos e sons, conseguindo sempre um resultado aparentemente divertido mas cheio de sutilezas. O show foi gravado ao vivo, mas o disco teve problemas de distribuição. Agora Mautner está com novo LP, produzido por Gilberto Gil para a Phonogram. E com novo show, Um Salto no Escuro, iluminando o Brasil inteiro.”

4 comentários:

  1. Muito bacana o seu blog. Sobre Jorge Mautner, posso falar, pois escrevi o livro Jorge Mautner em Movimento. O mestre Mautner, hoje um amigo, é de fato e com certeza absoluta um gênio que ficou na fronteira da massificação. Seria excelente para o país se ele tivesse atingido essa massificação.
    Belo registro, belo texto de Valdir, que sacou o salto de Mautner no escuro, salto este que continua em movimento em 70 anos de vida.
    Se achar um tempinho visite www.concrecoisa.blogspot.com Augusto de Campos gostou muito e eu fiquei muito feliz pelo retorno dele.
    Um forte abraço e um excelente domingo. César Rasec

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  2. Valeu César. Quero conhecer seu livro sobre o grande Mautner. Também irei visitar seu blog. Se tem o aval do poeta Augusto de Campos é porque é bom mesmo.
    Abraço

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  3. Vale a pena mencionar o disco "Árvore da Vida", gravado com Mautner tocando violino e cantando, acompanhado de Nelson Jacobina,ao violão. Um excelente registro da obra genial de Jorge Mautner. Confira. Parabéns pelo blog. Abraço.

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  4. Árvore da Vida é um excelente disco, que eu possuo em vinil. Gosto muito da obra de Mautner, musical e literária. Um abraço

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