Palavras Domesticadas

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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mandaram Mal


A revista Música, era um bom informativo sobre o assunto que lhe dava título. Trazia boas matérias e entrevistas, não só de música brasileira, como internacional (rock, jazz, etc), e também sobre equipamentos. Em seu nº 43, de 1980, a revista trazia na capa artistas nordestinos que na ocasião faziam sucesso, e eram destaque por seus trabalhos, que tinham grande aceitação: o então casal Zé Ramalho e Amelinha, e Ednardo. Mas o motivo dessa postagem, e do título da mesma, é uma outra matéria, falando do recém-falecido na época, Vinícius de Moraes.
A jornalista responsável pela matéria fazia uma análise da obra poética e musical de Vinícius, falando de Bossa Nova, seus vários parceiros, etc. Várias músicas do extenso trabalho de Vinícius como letrista são citadas. E um verso foi colocado em destaque, dentre tantos que se notabilizaram em sua carreira. Pelo menos essa era a intenção da jornalista. Imagino que escolher um único verso para se colocar em destaque, quando há tantos belos e consagrados não deve ter sido uma tarefa fácil. Porém, ironicamente, ela destacou exatamente um que não é de sua autoria: "ADEUS, VOU PRA NÃO VOLTAR/E ONDE QUER QUE EU VÁ/SEI QUE VOU SOZINHO" é parte de Pra Dizer Adeus, cuja letra é de Torquato Neto. Os versos até que poderiam ter sido escritos por Vinícius de Moraes (tanto é que causaram confusão na jornalista). Edu Lobo, parceiro de Torquato nessa composição também foi parceiro de Vinícius (Arrastão, Canto Triste e outras), mas Pra Dizer Adeus identifica muito Torquato, pois é talvez sua letra mais consagrada.



Ao ver o tremendo furo que foi dado, coloquei na ocasião um asterisco ao lado dos versos, e escrevi a caneta ao pé da página: “Os versos de Pra Dizer Adeus, atribuídos equivocadamente a Vinícius, são na verdade de Torquato Neto”. Para uma revista especializada em música, não ficou nada bem. Mandaram mal.

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