Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Opção pela Mudez


Prefiro ficar calado, quando a maioria das pessoas sente necessidade, obrigação de expressar opiniões ou simplesmente expressar frases que nada irão acrescentar. Prefiro o silêncio, pois ele pode expressar muito mais coisas que frases tolas . (Alfred A. McBryan)

Tem dias que a necessidade de ficar quieto é maior. Nesses dias as palavras parecem não querer sair de minha boca. Por isso prefiro ficar calado, sem ninguém pra me pentelhar. (Maurício A. de Castro)

Ficar calado, num canto, com seus pensamentos, sem procurar papo, e preferindo estar assim é uma coisa normal. Mas a maioria das pessoas não entende que isso não significa que você esteja com algum problema ou de mal com o mundo. Ficar calado é apenas um modo de você se encontrar consigo mesmo, e talvez até melhorar sua relação com o mundo. (M'Bala Kafou)

Nos dias em que prefiro ficar calada, contemplando meus pensamentos sem abrir a boca, é um sacrifício quando sou obrigada a manter uma relação verbal com alguém, por mais que sinta prazer na companhia dessa pessoa. Me sinto invadida.(Michele Fontaine)

Ficar calado é uma necessidade especial pra mim. É bom quando as pessoas compreendem essa posição. Me sinto incomodado quando alguém ao perceber nessas ocasiões o meu silêncio, tenta me "acudir" puxando uma conversa que às vezes não me interessa, como se minha opção por permanecer calado escondesse por trás uma necessidade de conversar com alguém. Não se trata disso, é apenas um desejo interior. Isso não significa que eu não goste de me comunicar com as pessoas, é apenas a manifestação de um desejo momentâneo. (Charlie "The Madman" Lawrence)

Não há nada mais chato do que quando por uma necessidade social somos quase obrigados a conversar, e participar de um assunto que não nos interessa, e que não nos acrescenta nada, não tendo nada a ver com a pessoa que somos. Prefiro ficar calado, e contemplar meus pensamentos, sem ter que me expressar verbalmente quando aquilo que penso não vai ao encontro do interesse das demais pessoas, ou quando o que elas falam e pensam não faz parte de meus interesses. Prefiro mesmo ficar calado. (Pierre Thibeau)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Jethro Tull em Vinil


Na próxima sexta, dia 30, vou tocar meus discos em vinil do Jethro Tull na Noite do Vinil, que acontece toda semana no Relicário Bistrô. Tenho uma boa parte da discografia do Jethro em vinil, por isso, a banda estará bem representada na próxima sexta.
Lembro que o primeiro disco do Jethro Tull que comprei foi Thick As A Brick, por volta de 1980 numa lojinha no centro da cidade, que durou pouco. Estava em promoção, por um ótimo preço: 250 cruzeiros. Depois comprei vários outros, e fui formando uma boa discografia da banda, que sempre foi uma de minhas preferidas. Não me lembro da primeira vez que ouvi o Jethro Tull, mas me lembro perfeitamente da primeira música deles que me chamou atenção: Skating Away on the Twin Ice of the New Day, que costumava tocar na rádio JB, do Rio, que eu gostava de ouvir em um antigo rádio a válvula que eu tinha no quarto. Eu sempre adorei essa música, e é uma de minhas preferidas do repertório da banda.
Em meu livro Chicletes & Prazer, que brevemente será lançado, há um trecho em que essa música se faz presente na vida do casal protagonista, Alex e Layla:

"Layla abriu uma gaveta da escrivaninha, pegou uma caixa de fósforos, levantou-se da cama e acendeu alguns incensos, perfumando o ambiente. Em seguida, pediu para eu escolher um disco para ouvirmos. Seus discos revelavam um gosto musical bastante eclético, e em muitas coisas parecido com o meu. Além de discos de MPB, que eu conhecia pouco na época, havia outros que eu curtia bastante: Black Sabbath, Hendrix, Yes, Emerson, Lake & Palmer, Deep Purple (ela também tinha Machine Head). Pedi para ela colocar um disco do Jethro Tull, uma banda que eu havia conhecido há pouco tempo, e que havia me impressionado bastante. O disco se chamava War Child, e para falar a verdade, não me agradou tanto quanto os outros que eu já havia escutado. Porém uma música em especial me chamou a atenção de uma forma, que só por ela já valeria o disco, em minha opinião. A música tinha um clima diferente, umas variações, um instrumental e um vocal maravilhosos. Chamava-se Skating Away on the Ice of the New Day. Ao fim do disco, pedi para ela repetir aquela música, que me enfeitiçou.
Layla me traduziu o longo título: Patinando no Gelo Fino de Um Novo Dia. Achei o título fantástico. Parecia falar do que acontecia comigo naquele momento, quando via minha vida se transformar por vários fatores, sendo que a causa principal estava ali, diante de mim. Conversamos sobre aquela frase, e o que seria pra nós a ideia de se patinar no gelo fino de um novo dia. Para mim, o gelo fino representava algo que estava ainda se formando, uma situação nova. Um novo dia, ainda comparando com minha vida. Não era apenas um dia a mais. Era algo realmente novo, no sentido de experiências novas, novos caminhos. A leitura que fiz daquele título era algo bem particular. Era a minha visão, e da minha maneira eu patinava naquele gelo ainda fino que estava se formando em minha vida."

Acho que o casal do livro não perderia essa noite do vinil em homenagem ao Jethro Tull.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Muito Rock'n Roll no Telão



Ontem terminei de ler o livro sobre o festival de Woodstock, sobre o qual havia falado nesse espaço quando o comprei. O livro descreve não só o festival em si, como também comenta sobre o documentário que foi gravado. E me lembrei de quando o assisti pela primeira vez. O filme passou nos cinemas daqui quando foi lançado, mas eu era criança, e embora tivesse noção que uma coisa grandiosa havia acontecido, não era ainda minha área de interesse, e eu nem tinha idade para assistir. Quando adolescente, já devidamente consciente do que Woodstock significava, finalmente eu teria a oportunidade de assistir a uma sessão do filme. Quando tinha 15 anos, no antigo Cine Capitólio acontecia aos sábados, às 22h uma sessão especial, chamada Sessão Arte, onde só passavam filmes premiados, no caso Woodstock havia ganho o Oscar de melhor documentários em 1970. Porém naquele sábado, eu estava fortemente gripado, com uma febre de quase 40º graus. Até tentei ir assim mesmo, mas não havia a menor condição. Fiquei frustradíssimo. Naquela época nem vídeo-cassete existia, portanto para se assistir a um filme só no cinema, na tv, ou em salas especiais, tipo cineclube. Passei parte de minha juventude sem acesso àquelas imagens que eu tanto sonhava em ver. Até que em 1981, o público fã de rock teve uma surpresa das mais agradáveis. Um cinema da cidade, Dom Marcelo, que se localizava onde hoje é uma agência do banco HSBC, na rua 13 de Maio, fez uma programação especial de filmes clássicos de rock durante uma semana inteira. Parecia um sonho. A programação incluía Last Waltz (o Último Concerto de Rock), The Songs Remains The Same (do Led Zeppelin), Tommy e Woodstock. O único ponto destoante foi Fama, que fechou a semana, e não tinha nada a ver com o restante da programação. Assisti a toda programação, exceto Tommy, que já havia assistido, e obviamente, Fama. Eu até assistiria Tommy novamente, mas era fim de mês, e coincidentemente, o pouco dinheiro que restava de minha mesada era exatamente o valor que teria que pagar pelos ingressos dos três filmes que assisti. Woodstock, que tinha três horas de duração (o livro fala em três horas e meia) eu assisti duas sessões seguidas. O Último Concerto de Rock, eu também assisti duas vezes. Lembro que o filme do Led Zeppelin não passou aqui quando foi lançado. Realmente, naqueles tempos pré-vídeo-cassete, dvd e downloads pela internet, assistir àquelas imagens no telão na mesma semana foi um evento dos mais marcantes.

domingo, 25 de abril de 2010

Folhas a voar

A palavra fácil, o verbo desprovido de vaidade vocabular não precisa trazer a sofisticação de frases de uso não-cotidiano a passear com seus trajes a rigor pelas avenidas movimentadas de nosso idioma. É como se deixar levar pela falta de compromisso com sonoridades nobres, num papo de botequim num final de tarde, onde os assuntos se sucedem como folhas de papel a voar desgovernadas pela ventania de ideias descompromissadas com o profundo.
Carregamos conosco uma série de convicções, que muitas vezes, ao encará-las de frente, enxergamos detalhes que as faz tornarem-se menores e menos importantes do que na verdade nossas mentes nos faziam entender. Certas ideias que herdamos do meio que nos cerca, são como peças de roupas que com o passar do tempo se desgastam e se tornam grotescas e fora dos padrões do bom gosto.
A grandeza vivencial de se tornar mais um que não busca nada além da essência de sua verdadeira natureza interior, faz com que a tarefa de atravessarmos a escura e tortuosa caverna que abriga nossas decisões e atitudes pessoais se torne uma tarefa menos dolorosa e cruel. Caminharmos ao encontro do que nos é essencial nos afasta de vãs tentativas de buscarmos formar o quebra-cabeça de nossa personalidade com peças alheias.
Muitas vezes, buscando nos engrandecer diante dos olhares dos que nos cercam, tropeçamos na falta de convicção que espalha suas incertezas pelo solo irregular das atitudes forçosamente tomadas em breves delírios de quem procura fugir de seus próprios instintos, e acaba vendo a si mesmo como alguém com o qual não se identifica.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Carnaval na avenida e na ponta da agulha


O carnaval oficial da cidade começa hoje. Entenda-se por carnaval, os desfiles das agremiações, porque não há clima de carnaval nas ruas, não se ouve batucadas e nem se vê blocos de foliões. Esse carnaval fora de época não tem cara de carnaval. Talvez para quem vá assistir aos desfiles, pode vir a sentir um certo espírito carnavalesco, mas que esse carnaval deslocado de sua data oficial parece estranho, disso não há dúvida. Pelo menos na próxima Noite do Vinil, na sexta, dia 23, procuraremos reviver os velhos carnavais das marchinhas e dos antigos sambas-enredo, quando ainda não eram feitos para virarem produtos vendáveis, e eram mais bonitos. Em nosso caso particular o que vemos hoje é uma briga entre dirigentes de escolas e blocos e o poder público, relativa às verbas destinadas aos desfiles, e a cada ano saem mais pobres. Prefiro mesmo ouvir e cantar aquelas marchinhas, que hoje já não se fazem mais. Pelo menos em vinil, no Relicário Bistrô, na 28 de Março em frente ao Isepam,a partir das 22h poderemos lembrar de antigos carnavais, mesmo em pleno abril. Como curiosidade, vou transcrever uma famosa marchinha, vertida para o latim, que encontrei no livro Balanço da Bossa e Outras Bossas, de Augusto de Campos.

O horticultrix
Cur tam tristis es
Quid autem tibi acciderit?
Fuit camelia
Quea de ramo cecidit
Suspiros dedit duos
Postea perivit.
Veni, horticultrix
Veni, amor mi
Ne sis tam tristis
Quia mundus tibi est
Tu camelia pulchritudine
Logissime praestas.

(Ó jardineira/ por que estás tão triste/ Mas o que foi que aconteceu?/Foi a camélia que caiu do galho/deu dois suspiros/ E depois morreu/ Vem jardineira/ Vem meu amor/ Não fiques triste/que este mundo é todo teu/ Tu és muito mais bonita/ Que a camélia que morreu.)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uma Maratona Inesquecível- parte 2


No sábado, após trabalhar até o meio-dia, e cerca de 30 horas sem dormir, almocei, cai na cama e apaguei. Dormi a tarde toda, e quando acordei já era quase hora de pegar o ônibus para a segunda noite do festival. Precisava daquela tarde de sono para me recuperar. No sábado seriam dois shows: a banda mineira de rock progressivo, Sagrado Coração da Terra e Titãs. Aquele segundo dia seria menos cansativo. Havia recuperado minhas forças, e no dia seguinte, domingo, não iria trabalhar. Cheguei no mesmo horário do dia anterior, e já conhecendo melhor a cidade, sabia o caminho para o campus da universidade. O local estava bem cheio, principalmente por causa dos Titãs, uma das bandas mais populares da época. O local estava bem mais lotado que na noite anterior. Já havia muita gente gente louca, e a exemplo da sexta, muita maconha era consumida livremente, sem repressão. O Sagrado Coração da Terra, a banda que abriu a segunda noite, fez um grande show. Um rock progressivo da melhor qualidade, que agradou a todos. Era o aquecimento para o tão aguardado show dos Titãs. Poucos minutos depois de encerrado o primeiro show, começou a chover. A chuva aumentava, e quando os Titãs subiram ao palco já caía uma verdadeira tempestade. O chão de barro virou um enorme lamaçal. Eu que estava com uma jaqueta de jeans, me cobri com ela, embora não resolvesse muita coisa. Mas ninguém arredou pé, e o show, mesmo com toda a chuva, foi fantástico e inesquecível. Saí com os pés e a barra da calça completamente enlameados. Novamente tive que aguardar durante horas o primeiro ônibus na rodoviária, e era interessante reconhecer quem estava no show pela lama nos pés e nas calças. Cheguei de manhã, menos cansado do que no dia anterior. Lavei minhas calças e meu par de tênis enlameados, e dormi bastante. O show de domingo estava programado para começar mais cedo, pela tarde. Era tudo que eu precisava. Começando mais cedo, terminaria também mais cedo, e eu poderia voltar no mesmo dia. Havia um ônibus para Ubá a uma da manhã. Minha preocupação era com o horário, pois tinha que abrir a estação às 7:30. Como não daria tempo de almoçar antes de viajar, por causa da hora que acordei, resolvei almoçar por lá. A cidade estava tomada pelo público do evento. Era um clima bem legal. Após almoçar me dirigi ao local do show, e após algum tempo o público foi informado que haveria um atraso nos shows, que só começariam à noite. Comecei a desconfiar que teria que voltar no mesmo horário de ônibus das noites anteriores. Só poderia chegar pra trabalhar com uma hora de atraso. O problema é se tivesse algum trem circulando cedo. Eu teria que dar explicações, e eu era novo na empresa. Mas o que eu pensava naquela hora era nos shows. Na entrada comprei uma camisa com uma foto de Hermeto Pascoal, essa da foto, que guardo até hoje. O primeiro show foi de Egberto Gismonti. Muito bom, embora Egberto não tenha se comunicado muito com o público. Falou através de sua música. Depois subiu um violonista chamado Romero Lubambo. O show final do festival foi de Hermeto Pascoal, que foi de arrepiar. Eu já havia tomado muita cerveja, e estava mais do que empolgado. No fim do show, eu não me esqueço que o cara da barraca em que eu comprei as cervejas me falou que eu fui a figura mais marcante pra ele de todo o festival. Novamente esperei por horas na rodoviária de Viçosa, preocupado com o meu atraso. Ao chegar à estação, apreensivo pelo atraso e esgotado por mais uma noite virada, verifiquei que não houve movimento algum, e meu atraso não foi notado. Apesar do cansaço e de todo sufoco que passei, aquele fim de semana mineiro foi perfeito e inesquecível.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma Maratona Inesquecível - parte 1


Há vinte anos eu era ferroviário, e por determinação da empresa, a antiga RFFSA, fui transferido para Minas. Desembarquei em Ubá, na zona da mata mineira, em junho de 1990, em plena Copa do Mundo. Logicamente eu não estava nada satisfeito com a transferência, até porque não sabia o que iria encontrar pela frente. Fui muito bem recebido, e aos poucos fui me adaptando à minha nova realidade. Meu colega de trabalho era um senhor já perto de se aposentar, e muito paciente com o novo colega ainda inexperiente e com muito a aprender. Sempre que desejava vir em casa, normalmente de 15 em 15 dias, ele cobria meu horário, e depois eu o compensava – uma prática comum, embora considerada irregular pela chefia. Trabalhamos juntos por dois meses, até ele se aposentar, em agosto. Um outro colega iria substituí-lo, mas ele estava de férias, e só se apresentaria na segunda semana de setembro. Então naquele mês de agosto, já um pouco mais experiente, tive que assumir sozinho a estação, e assim não poderia me ausentar dela e vir em casa. Naquele mês ouvindo o rádio soube que haveria um festival com várias atrações musicais durante três dias em Viçosa, uma cidade vizinha. As atrações eram imperdíveis, shows de artistas que nunca havia assistido, como Lô Borges, Wagner Tiso, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Ainda haveria um show dos Titãs, minha banda nacional preferida na época, em sua fase áurea, com a formação original. Os Titãs eu já havia assistido a um show dois anos antes, mas também era imperdível. O festival foi organizado por formandos da Universidade Federal de Viçosa, e além da música promoveriam durante o dia eventos ligados à consciência ecológica. Daí se vê como a juventude daquela época era diferente da de hoje, mais consciente e ligada no que havia de melhor em termos culturais e comportamentais. Os ingressos seriam vendidos por várias cidades vizinhas, inclusive em Ubá, onde eu estava morando. Mas o grande problema era que eu estava sozinho na estação, e não tinha como combinar me ausentar naquele fim de semana. O que eu sabia é que não perderia aquele evento por nada. Comprei meu ingresso, e resolvi encarar uma maratona das mais pesadas. Eu trabalhava de 7:30h às 16:30h de segunda a sexta , e nos sábados de 08:00 às 12:00. No primeiro dia do evento, 31 de agosto, cumpri meu horário, descansei um pouco, comi alguma coisa, e por volta das 7 da noite peguei o ônibus para Viçosa, viagem que demorava uma hora e meia aproximadamente. Cheguei por volta de 8 e meia e me dirigi ao campus da universidade. Devo ter chegado lá por volta das 9 horas. Havia no local bastante gente. Um telão passava imagens de shows. Lembro de ter visto o The Doors. Também havia números teatrais. O primeiro show foi do saxofonista Nivaldo Ornelas, depois foi a vez de Wagner Tiso, e encerrando com Lô Borges. Uma grande noite de estreia. Não me lembro bem, mas os shows devem ter terminado por volta das três da manhã. O primeiro ônibus para Ubá só sairia às 7. Eu já estava ligado desde às 7 do dia anterior, e teria que trabalhar até o meio-dia daquele sábado, e ainda chegar meia-hora atrasado. Cheguei quase morto para trabalhar, mais de 24 horas ligado, parecendo um zumbi. Na próxima postagem conto o restante da maratona.

domingo, 18 de abril de 2010

O Guru de Jimmy Page


A revista Rock Stars nº 3, de 1983, trazia uma matéria sobre uma figura bastante polêmica – Aleister Crowley, sob o título de O Guru de Jimmy Page.
A matéria começa destacando:
“Uma aura de infortúnios pareceu perseguir o Led Zeppelin depois que Jimi Page aderiu ao ocultismo, comprando uma mansão que pertencera a Alesteir Crowley e montando uma loja de artigos de magia. Em suas declarações, Page defendia entusiasticamente o guru: “Crowley acreditava realmente no futuro, numa nova era, tinha um senso contemporâneo em suas teorias”(...)
A verdade é que o cara era muito louco, e também foi o guru de Raul Seixas e Paulo Coelho na fase em que andaram envolvidos com entidades esotéricas. Essa influência fica bem nítida em discos como Gita e Novo Aeon. Abaixo um pequeno resumo da vida de Crowley, transcrita da citada matéria:
“ Filho de um abastado fabricante de cerveja, Edward Alexander Crowley nasceu em outubro de 1875, em Leamington, pacata cidadezinha inglesa. O pai, ao aposentar-se, tornou-se pregador religioso, enchendo a cabeça de Alesteir com a noção de que sexo era sinônimo de pecado. A mãe, igualmente carola, disse suspeitar que ele, Aleister fosse a própria Besta do Apocalipse. É fácil adivinhar o que isso produziu numa criança de imaginação fértil...
Com a morte do pai, Aleister foi, aos onze anos, mandado a uma escola cristã, onde começou a manifestar revolta contra a religião. Seduziu uma criada aos catorze anos, iniciando uma vida sexual que seria das mais intensas (e, já que considerava o sexo pecado, isso incutiu nele a convicção de que se tratava de um satanista). Aos quinze, uma bomba de fabricação caseira explodiu-lhe na cara, deixando-o desacordado durante quatro dias. Há quem atribua a esse incidente seus dotes reais de mago – que eram os de influenciar as pessoas através de sua vontade poderosa.
No fim da adolescência, não passava de um bon vivant que tentava adquirir prestígio como escritor, e praticava com habilidade o montanhismo. Atraído por textos esotéricos, ingressou em sociedade de magia e acabou recebendo uma “revelação”, quando Horus, espírito maligno superior, teria lhe ditado o Livro da Lei – curiosamente semelhante a seus próprios escritos. A partir daí, sua vida praticamente se resume em atrair discípulos para suas cerimônias de magia sexual (nas quais se transavam todas as práticas sexuais conhecidas e imagináveis), em arrancar dinheiro de seus adeptos e dissipá-lo, em consumir drogas em quantidades absurdas, em chocar os cidadãos com seu exibicionismo incurável e ser perseguido de país a país por imprensa e autoridades. Muitos dos que o cercavam enlouqueceram ou sofreram mortes violentas. Ele próprio resistiu até os 72 anos, morrendo pobre e decadente em dezembro de 1947.”

sábado, 17 de abril de 2010

Poema em Sibemol


Sou um poeta bissexto, daqueles que só se arriscam a escrever um poema quando surge uma rara inspiração não se sabe de onde. Penso que escrever poemas é coisa pra quem é do ramo, coisa que não sou. Esse, por exemplo, eu escrevi nos anos 80. Chama-se Poema em Sibemol.

Deixe-me cair no embalo
Deixe-me cair na gandaia
Antecipando a data marcada
Seguindo o calendário maia

Aterrissando nas aldeias
A procura de mentes sãs
Nas caravanas pela relva
Desbravada por nossos cães

Observando os perigos
Que apontam os nossos guias
Redescobrindo os tesouros
Que valorizavam os velhos dias

To be or not to be
Repetia o antigo sábio
Mas sem que a convicção
Fosse além do encarnado lábio

To be or not to be
Repetia sem parar
E a memória vinha em ondas
Que se perderam do mar

Abrindo clareiras nos túneis
Revelando normas ocultas
Sem visões de olhos fundos
Julgando alheias condutas

Distante dos muros erguidos
Para esconder antigas cores
Como esguichos de água fria
Para abrandar diferentes calores

Nas trincheiras do perigo
Que abundam nas picadas
Velhos trastes vislumbrados
Acadêmicas ruas asfaltadas

Enquanto o gado anda solto
Aqui ou em Corto Maltese
Segue o monge absorto
Defendendo a sua tese

E a lição que nós tiramos
De tantas observações
Vai servir de delirium-tremens
Quando os para-quedas deixarem os aviões

E é por isso que o pensamento
Como Howlin’Wolf solta o seu brado
E atravessa o perímetro urbano
Para sair do outro lado

Como o endeusamento ostensivo
Dos mitos dos antigos clãs
A se formar nos rios da madrugada
A desaguar no oceano das manhãs

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Power Trio e Seus Cometas no País dos Mutantes



Em 1967, Gilberto Gil iria apresentar Domingo no Parque no Festival de Música da Tv Record, e queria cantar acompanhado de um grupo de rock. Caetano, que tinha a mesma ideia, conseguiu a banda argentina Beat Boys, que estava no Brasil, para acompanhá-lo em Alegria Alegria. Gil queria uma banda que não fosse do estilo jovem guarda, procurava algo mais ousado. Então alguém lhe indicou um grupo paulista que estava surgindo, e que tocava umas coisas meio malucas, e talvez fosse isso que Gil procurava. Era perfeito para o que ele se propunha, e assim Os Mutantes foram incorporados ao grupo que no ano seguinte seria responsável por uma revolução no panorama da MPB: o Tropicalismo.
Por isso a mostra A Irreverência da Tropicália, que o Sesc está trazendo durante esse mês, não poderia deixar de fora o lado elétrico e rock'n roll do Tropicalismo. Assim, a Betinho Assad Power Trio, formada por Betinho Assad (guitarra), Fábio Cabelo (baixo) e Felipe Begão (bateria) virou um quarteto com a participação especial de Thiago Azevedo, da banda Vibratto nos vocais, para apresentar um tributo aos Mutantes.
Foi com certeza um desafio para a banda, que traz em seu repertório blues e rocks de raiz, tocar Mutantes, uma banda que faz um som mais experimental e irreverente, com pitadas de ritmos brasileiros e latinos. Primeiramente foi necessário buscar alguém para fazer o vocal, já que o repertório dos Mutantes não é adequado ao estilo vocal de Betinho. Foi então convidado Thiago da banda Vibratto, especializada em classic rocks, que teria que topar o desafio de fazer o vocal de algumas músicas cantadas originalmente por Rita Lee, num tom diferente do seu. Além disso, a banda teria que escolher as músicas que melhor se adaptassem a seu estilo, sem poder deixar de fora alguns clássicos dos Mutantes.
O resultado desse desafio foi apresentado ontem no Sesc, e o que posso dizer é que foi um grande show. Thiago, que confessou que não era um grande conhecedor do repertório dos Mutantes, estava totalmente à vontade no palco, e foi interessante vê-lo cantar em português – só o havia visto cantar em nosso idioma uma única vez, em um show em homenagem a Raul Seixas, quando fez uma participação especial cantando Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás.
A apresentação começou com o maior hit dos Mutantes, Ando Meio Desligado. Foi uma excelente amostra do que viria pela frente. A banda estava entrosada com o som dos Mutantes, e a interpretação foi bem convincente. Em seguida vieram outras pérolas do repertório mutante, como Não Vá Se Perder Por Aí, Portugal de Navio e Minha Menina, de Jorge Ben, gravada por eles em seu primeiro disco. Em seguida, foi a vez de um autêntico rock'n roll, que levantou o público: Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde Que Eu Tenha O Rock' n Roll. O trio, de guitarra, baixo e bateria, estava perfeito e o vocal de Thiago parecia ser de alguém que ouvia Mutantes desde criança.
Foram tocadas músicas de todos os discos dos Mutantes da fase Rita, Sérgio e Arnaldo, sendo que a maioria era do álbum de 1972, Os Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets, da fase mais lisérgica e elétrica da banda. Desse disco, além de Posso Perder... também tocaram Dune Buggy e Beijo Exagerado, que Thiago destacou que tem uma levada a la Stones. Hey Boy e Tiro Leite (não sei esse é o título correto) também foram apresentadas, e o show se encerrou com outro hit da banda, Top-Top. Essa música, que foi gravada com vocais de Rita Lee, teve que ser colocada no tom adequado à voz mais grave de Thiago, o que acredito que deve ter dado um pouco de trabalho nos primeiros ensaios. Nessa música Thiago saiu do palco e deixou o trio executando uma jam instrumental, mostrando toda a virtuose de cada membro, numa performance memorável. Fábio Cabelo, um baixista de estilo sóbrio e seguro executou um solo de alto nível, remetendo a baixistas como Jack Bruce e Jaco Pastorius, duas de suas grandes influências. Felipe Begão é um baterista que tem uma técnica e uma coordenação fantásticas, e seus solos são contagiantes pela precisão e ritmo, de quem bebeu na fonte de Ginger Baker e principalmente Mitch Mitchell. Betinho é um músico que se adapta perfeitamente a qualquer estilo. Embora suas influências mais marcantes sejam Jimi Hendrix, Eric Clapton e Stevie Ray Vaughan, e mais voltado para o blues, ele se sente bem à vontade em qualquer repertório, como já provou no tributo ao Black Sabbath e no show de ontem.
Pra tudo ficar perfeito só faltou tocarem Jardim Elétrico. Quem sabe, de uma outra vez. Seria apenas mais um desafio.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Led Zeppelin, Woodstock e Tropicália num mesmo pacote


Hoje chegaram mais três livros que eu havia encomendado: Led Zeppelin- Quando os gigantes caminhavam sobre a terra, Woodstock e Tropicália.
O primeiro é uma edição de luxo, com capa dura, cerca de 550 páginas e um apêndice com fotos em papel couché. A trajetória do Led Zeppelin é esmiuçada, pelo menos o grande número de páginas assim sugere. Aliás, a Larousse Editora, responsável pela publicação no Brasil, também lançou dois outros livros com a mesma qualidade gráfica, sobre Beatles e Rolling Stones. Creio que sejam um ótimo documento histórico para os interessados em bandas clássicas de rock.
Woodstock, o segundo livro, é um que eu estava me cobrando há muito tempo, já que foi lançado por ocasião dos 40 anos do Festival de Woodstock, no ano passado. A resenha que eu li sobre a obra, e a opinião de quem já leu, me sugerem que é uma excelente obra sobre o lendário festival de rock. Traz relatos minunciosos não só sobre os shows, como os bastidores do evento. Muito já foi falado, comentado, especulado e inventado sobre Woodstock, mas creio que esse livro traga informações reais e precisas sobre fatos ocorridos antes, durante e após os três dias de agosto de 1969, quando ocorreu o festival. Também traz boas fotos. Espero lê-lo em breve.
Tropicália faz parte de uma série chamada Encontros, da Azougue Editorial. Folheando o livro vejo que se trata da reunião de textos já publicados anteriormente em livros, jornais e revistas. Para quem, como eu, já possui um grande material sobre o assunto, corre-se o risco de esse tipo de livro trazer matérias e textos que já se tenha. Por exemplo, existem duas ou três transcrições do livro Balanço da Bossa e Outras Bossas, de Augusto de Campos, que já possuo, e talvez mais uma ou outra matéria que já tenha lido. Mas reler também é válido, e além do mais, a grande maioria dos textos reunidos são inéditos pra mim.
Espero brevemente poder ler essas aquisições, e quem sabe, comentar aqui.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tropicália em vinil


Na próxima sexta-feira, dia 16 vai acontecer a primeira Noite do Vinil “pra valer” do ano. Na sexta anterior, apenas apresentamos a nova casa que vai abrigar esse projeto, que já entra em seu terceiro ano. Como não havia um tema específico, e ainda estávamos arrumando a casa e pesando os prós e contras que qualquer mudança traz, aquela noite nos serviu de teste para avaliarmos fatores como qualidade e distribuição do som, adequação do espaço físico do bar para o evento, atendimento, etc. Logicamente surgiram algumas falhas, que poderão ser corrigidas, e talvez outras venham a acontecer, mas nosso principal objetivo com essa mudança é oferecer um melhor atendimento aos frequentadores em potencial das noites de boa música que temos a oferecer. Muita gente estava insatisfeita com o atendimento do bar anterior, e deixou de prestigiar o evento, e estava havendo um esvaziamento, que acabava se refletindo na disposição de nós, organizadores, para continuarmos com o projeto.
Agora, de casa nova, o Relicário Bistrô, na Avenida 28 de Março, 48 - em frente ao Isepam, esperamos recuperar aquele entusiasmo dos primeiros tempos. O primeiro tema a ser apresentado vai ser o Tropicalismo. O tema foi bem escolhido, pois está acontecendo no Sesc Campos uma mostra relativa a esse movimento musical, em que a audição de discos de vinil também faz parte da programação, porém o formato em que se encaixa é totalmente desfavorável. O tempo de audição é muito curto, na prática, não chega a 40 minutos, pois por ser antes dos shows das quintas, e no mesmo ambiente, os músicos têm que passar o som, testar o palco, etc. Assim, o tempo de uma hora, que já era reduzido, fica ainda menor. Mal dá pra rolar um único disco. Por isso foi acertada a decisão de levarmos para a Noite do Vinil o que seria impraticável apresentarmos no Sesc. Levarei algumas pérolas tropicalistas, como o álbum Tropicália – o disco coletivo, que serviu como manifesto do movimento, além de discos de Caetano, Gil, Gal, Tom Zé e Mutantes. Sexta, dia 16, a partir das 22h.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Blow-Up


Em junho de 1967 a revista O Cruzeiro trazia uma boa matéria sobre o então novo filme de Antonioni, Blow-Up, que acabou virando um filme cult, e que de vez em quando é exibido em sessões especiais de film-art ou em cine-clubes. Eu mesmo assisti a uma exibição de Blow-Up em 2008, no antigo cine-clube que acontecia aos sábados no Palácio da Cultura, por ocasião da morte de diretor.
A matéria apresenta o novo filme como “uma explosão nas brechas da nossa moral”, e traz informações que eu desconhecia, como por exemplo, que o filme anterior de Antonioni havia sido o grande concorrente do nosso O Pagador de Promessas, que ganhou por pouco o Festival de Cannes, em 1962. Depois disso Antonioni ficou cinco anos sem filmar. O filme também apresenta uma antológica cena da banda Yardbyrds com Jeff Beck na guitarra, tocando em um pub londrino.
Alguns trechos da matéria:
“Finalmente depois de cinco anos de espera, Michelangelo Antonioni, o mais discutido diretor cinematográfico da atualidade, que perdera por pouco, em 1962, com seu esplêndido filme “O Eclipse” para o nosso “O Pagador de Promesas”, conquistou o guardião máximo do Festival de Cannes, pela direção de Blow-Up.
O nome de Michelangelo Antonioni é sempre notícia no mundo do cinema, tanto para os críticos como para as plateias. E agora, muito mais, depois que o gênio recebeu a Palma de Ouro das mãos da atriz italiana Virna Lisi, por seu último filme “Depois Daquele Beijo” (Blow-Up), no encerramento do Festival de Cinema de Cannes(...)
“Depois Daquele Beijo”, assim se chama no Brasil o filme Blow-UP, é o seu segundo filme colorido. Desta vez Antonioni, que não gosta de estudar as cenas que vai filmar, preferindo sempre chegar ao lugar do trabalho e resolver os problemas que se apresentarem, foi para a cidade em que se desenrola a história - Londres - e lá constatou que poderia fazer um filme-festival(...)
Que é o novo filme de Antonioni? Uma história quase sem fio, que ele desenvolveu, esteticamente, em algo que canalizará muitas libras, dólares, liras, francos, pesos e cruzeiros para os cinemas que o lançarem (...)
No elenco destacam-se as interpretações de Vanessa Redgrave (filha do excelente ator Michael Redgrave e irmã de Lynn Redgrave, a premiada em Georgy, a Feiticeira), David Hemmings e Sarah Miles. Os modelos liderados por por Verushka são figuras de destaque na atmosfera de vanguarda que caracteriza o filme.”

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Jack Kerouac



Uma noite eu sonhei que era Jack Kerouac
mandando brasa nas estradas do mundo
Subi no terraço: Rua Houston
e vi as torres gêmeas brilhando
o pelo louro da menina
as tranças negras do crioulo
sua guitarra, sua angústia calma
Peguei a lata de spray, desci pra rua
e pintei dois olhos verdes nas paredes
Ontem à noite sonhei que conversava com Jack Kerouac
Ele me disse que renascia negro, tocador de piston
e seu sopro era tão alto
que despertava todo mundo
Eu acordei mandando brasa nas estradas do mundo

Júlio Barroso

sábado, 10 de abril de 2010

Minha Vida com os Beatles


Minha mais recente aquisição literária é o livro Magical Mystery Tours - Minha Vida com os Beatles. O que me chamou a atenção na obra, além do fato de ser mais um livro sobre os Beatles, é o fato do autor Tony Bramwell ser considerado por muitos como o cara que mais sabe sobre a banda. Na contracapa, inclusive, há uma frase de Paul McCartney: "Se quiser saber algo sobre os Beatles, pergunte a Tony Bramwell. Ele se lembra de mais coisas do que eu."
O autor foi amigo de infância de Paul, George e Ringo em Liverpool, e acompanhou toda a trajetória dos Beatles de uma forma bem mais direta do que qualquer fã, já que era amigo dos componentes, trabalhou com a banda, e tinha acesso a eles. Ainda não li o livro, apenas a orelha e o texto de contracapa. O texto da orelha diz:"Dos primeiros vídeos musicais dos Beatles até a direção da Apple Films, dos passeios de bicicleta e troca de discos com George Harrison até trabalhar e divertir-se com todos os Beatles, Hendrix, Ray Charles e o The Who, a vida de Tony realmente envolveu todas as faces do rock'n roll."
Eis o texto de contracapa:
"Imagine ser amigo de infância de George Harrison, Paul McCartney e John Lennon e, além de crescer com eles, ser convidado para trabalhar junto com a banda mais famosa do mundo, os BEATLES! Isso aconteceu com Tony Bramwell, que encontrou com George no segundo andar de um ônibus em Liverpool, em 27 de dezembro de 1960, a caminho de um show dos"Beatles- Direto de Hamburgo". Desse momento mágico em diante, ele se tornou parte da história do grupo e acompanhou a ascenção meteórica dos quatro rapazes que se tornaram astros do rock and roll. De modo direto e articulado, Tony compartilha suas memórias e conta novos fatos sobre a infância, a família e o dia-a-dia da banda.
Você também irá conhecer uma faceta pouco comentada sobre a vida do Fab Four: os bastidores das negociações empresariais, e descobrir como a falta de experiência de Brian Epstein, o empresário dos Beatles, fez a banda deixar de ganhar muitos e muitos milhões de dólares."

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Poeira tropicalista no Sesc




Dando prosseguimento ao projeto A Irreverência da Tropicália, desenvolvido pelo Sesc Campos, ontem aconteceu o show da banda Poeira D'Água, que trouxe ao público sua visão do movimento musical tropicalista. Formada por Faustho Terra Tupy (violão e voz), Lutte Oliveira (idem), Dani Nunes (voz) e Renato Arpoador (percussão), a banda praticamente fez sua estreia nos palcos da cidade. Uma apresentação anterior aconteceu, mas somente com a música O Maquinista do Tempo, classificada em terceiro lugar no Festival Estudantil de Música, promovido pela prefeitura de Campos. Do grupo também fazem parte Jorge Maravilha (percussão), Sérvullo Sotto (baixo) e João Felipe Veloso (bateria), que não participaram do show devido ao formato adaptado para o evento, acústico e mais intimista.
O show apresentado pela banda, além da música, trouxe textos e informações históricas sobre o movimento, para ilustrar a inclusão de certas músicas, o que enriqueceu a apresentação.
A banda abriu o leque das influências que o tropicalismo exerceu nos anos posteriores ao exílio de Caetano e Gil, considerado como o fim oficial do movimento. Na verdade, a Tropicália de uma certa forma continuou a existir, pois a estética criada pelos baianos continuou rendendo frutos. E foi basicamente essa influência pós-tropicalista que o Poeira D'Água apresentou em seu show.
Baby, de Caetano, deu início ao show, em uma bela e pessoal interpretação. Em seguida foram mostradas outras tantas composições que trazem as marcas da influência tropicalista, mesmo tendo sido lançadas pós-68. Jorge Ben, por exemplo, mesmo não tendo sido considerado oficialmente um tropicalista não poderia ficar de fora, e Zazuera caiu bem dentro do contexto do show, assim como Maracatu Atômico, representando Jorge Mautner, que na verdade só não participou do movimento por na época estar nos Estados Unidos, e depois veio a conhecer Gil e Caetano em Londres. Tom Zé, que fez parte do grupo tropicalista, teve escolhida a composição Menina Amanhã de Manhã, gravada originalmente em seu disco de 72, e depois regravada em 76 no disco Estudando o Samba. Gil, logicamente não poderia jamais ser esquecido, e o Poeira D'Água apresentou duas composições do mestre, aliás, muito bem interpretadas e apresentadas: Aquele Abraço e Back in Bahia. A fala de Faustho, explicando o contexto histórico das duas músicas, ilustrou bem o tom antagônico que elas exercem na história pessoal do autor. Enquanto a primeira foi composta pouco antes da partida para Londres, apesar do tom alegre (a alegria mostrada na letra é em virtude de sua libertação da prisão), a segunda fala sobre sua volta ao Brasil, mais precisamente à Bahia.
O período do exílio foi muito bem ilustrado também por uma fala de Faustho, quando foi relatada a visita feita por Roberto Carlos a Caetano em Londres em 68, e que acabou gerando a composição Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos, de Roberto e Erasmo, também apresentada - uma comovente canção em solidariedade a Caetano, e por extenção também a Gil.
Em seguida, a banda prestou uma bela homenagem aos Novos Baianos, filhos diretos do Tropicalismo, talvez os melhores representantes de toda uma geração de músicos que bebeu na fonte, e soube tirar proveito da enorme riqueza deixada pelos tropicalistas. Preta Pretinha, Sorrir e Cantar Como Bahia, Eu Sou O Caso Deles (uma de minhas preferidas), Mistério do Planeta, A Menina Dança, Brasil Pandeiro e Besta É Tu em interpretações pessoais e adaptadas ao formato intimista da apresentação encerraram o show. No bis, o Poeira fugiu do roteiro e apresentou uma composição própria, Quizumba no Sarapatéu (não sei se o nome é esse. Se não for, me corrija, Faustho).
Mesmo sem estar com sua formação completa, em um show não autoral, o Poeira D'Água em sua primeira apresentação nos dá uma mostra que vem mais coisa boa por aí.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O grande azarado no meio do caos


Às vezes eu me acho o sujeito mais azarado do mundo. É lógico que essa afirmação traz uma grande dose de exagero, mas em certas circunstâncias ela até procede. Estou de licença-prêmio há mais de dois meses, e desde de que tirei minha licença, fiz planos de fazer uma viagem ao Rio. Esse plano foi adiado primeiramente devido ao enorme calor que fez nos meses de verão, e que acabava me desestimulando a viajar, depois outros fatores me impediam de sair da cidade. Resolvi então fazer minha viagem à Cidade Maravilhosa justamente ontem, quando caiu a maior tempestade desde 1966, segundo os jornais. Meu plano era fazer uma viagem curta, de apenas dois dias, tempo suficiente para comprar alguns itens, visitar um amigo e fazer alguns programas culturais.
A coisa começou a dar errado desde que desci na rodoviária para comprar a passagem e embarcar. Sempre costumo comprar a passagem na hora, porém nessa segunda muita gente ainda voltava do feriadão da Semana Santa, e só havia passagem para as 10:30h, quando sempre costumo sair daqui por volta das 08:00h. Pra piorar, quando fui pagar minha passagem com meu cartão Rio Card, o bilheteiro me comunicou que o mesmo não tinha crédito suficiente. Como estou de licença e pouco tenho usado meu cartão, não foi feita a recarga automática. Tive que pagar do meu bolso. Como se isso fosse fosse pouco, a viagem foi péssima. A cada posto de pedágio, o ônibus, que tinha alguma irregularidade quanto ao pedágio (viva a Empresa 1001!), perdia longos minutos até ser liberado, e foram quatro paradas. Uma viagem que leva normalmente pouco mais de 4 horas levou 5 horas e meia.
Ao chegar ao Rio, devido à hora, resolvi fazer minhas compras antes de deixar minha bagagem no hotel. O tempo estava nublado e chovia pouco. Estava no centro do Rio, e após fazer ums compras em um shopping, fui ao sebo Berinjela, onde sempre vou. Lá tive a felicidade de encontrar um cd que procurava há anos, e nunca consegui: o terceiro disco do guitarrista Carlos Santana, e por apenas 15 reais. Foi o que valeu minha viagem.
Só ao sair do sebo é que vi que chovia, e muito. Peguei meu guarda-chuva, e com minha mochila nas costas resolvi encarar a chuva e ir a pé até o hotel, que ficava próximo. Mas chovia muito. Uma chuva que não via há anos. Parecia qie o mundo estava desabando. Era muita água, e um vento forte, que tornava o guarda-chuva quase inútil. Além do mais, por meu guarda-chuva ser daqueles dobráveis, o vento forte o danificou. As ruas começavam a se alagar, e eu minha mochila já estávamos completamente molhados. O caos já estava formado por volta das seis da tarde, e chegar ao hotel, fugindo dos alagamentos era cada vez mais difícil. Os ônibus, em virtude das ruas alagadas, não chegavam a seu destino, e as filas eram quilométricas. Ao ver as enormes filas até me senti privilegiado por não depender de condução para chegar a meu destino. Cheguei ao hotel que nem um pinto molhado, e ao entrar no quarto vi minha bagagem completamente enxarcada. Não só a roupa que eu usava, mas a que estava dentro da mochila também estava bem molhada. Meus tênis e minhas meias então, nem se fala. O enorme rio que tive que atravesar a pé os deixou em péssimo estado. Um livro escrito pelo ex-mutante Arnaldo Batista (Rebelde Entre Rebeldes) que eu havia levado para ler no hotel estava em estado deplorável. Tentei fazer o que pude, enxugando as folhas com a toalha, até que em casa eu pudesse usar um secador de cabelo, a melhor alternativa nesses casos.
Só me restou ir dormir às nove horas, na falta de outra coisa melhor pra fazer, enquanto a chuva não parava. Hoje pela manhã, resolvi voltar pra casa no primeiro ônibus que encontrasse na rodoviária. A chuva ainda caía forte e o caos no Rio continuava. Os ônibus escassos circulavam entupidos de passageiros. Após esperar longos minutos consegui um coletivo que me lavasse à rodoviária. Finalmente chegando lá, de bermudas e sandálias havaianas, pois os tênis e a única calça que havia levado estavam ainda sem condições de uso, fui informado que os ônibus estavam fora de circulação até pelo menos até as 13:00h, e a ponte Rio-Niterói estava interditada, e era por volta das 08:30h. Depois das nove os guichês voltaram a funcionar, e então consegui uma passagem para as 13:30h, ou seja, fiquei 4 horas esperando na rodoviária.
Essa foi minha tão planejada viagem ao Rio. Pelo menos eu trazia na minha bagagem o tão sonhado e desejado cd de Santana, que nada sofreu, por estar numa embalagem plástica. Pensando bem, até acho que sou um cara de sorte. Daqui a pouco vou ouvi-lo.