Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Revistas e Livros de Humor - Rê Bordosa e Bob Cuspe (Angeli)


Angeli é um de nossos grandes cartunistas. Criador de tipos inesquecíveis, carregados de um tipo de sátira que remete a um realismo com doses de um humor sarcástico, seus personagens, muitas vezes inspirados em pessoas reais, formam uma galeria de tipos que podemos até encontrar pelas ruas. Rê Bordosa, por exemplo, uma de suas personagens mais marcantes, pode muito bem se identificar com personagens reais - mulheres que vivem entre noites repletas de doses excessivas de bebida, drogas, sexo sem compromisso, falta de regras, etc.
Sobre a personagem, o autor descreve no livro:
"O sol nasceu para todos. Menos para Rê Bordosa, que preferiu refugiar-se na escuridão da vida noturna. Conhaque misturado com cerveja, vodca digerida com cocaína, sexo com sentimento de culpa. Por isso sem pestanejar, trocou seus verdes anos pelo roxo das olheiras."

Bob Cuspe, o punk revoltado, e sem perspectivas pode muito bem se encaixar na personalidade dos muitos jovens, que inspirados no modelo do punk americano, expressavam sua revolta em atitudes agressivas para com a sociedade, mas sempre apresentado por Angeli de uma forma bem humorada. E assim, seus personagens foram sendo criados, e faziam parte de sua revista mensal, Chiclete com Banana, que ele publicou nos anos 80.

A editora Circo, epecializada em publicar quadrinhos nacionais, inclusive a revista citada, também lançava livretos com tiras, vendidos em bancas de jornal. Uma edição especial de Chiclete com Banana foi lançada dentro de uma série denominada Traço e Riso, dando destaque aos dois persnagens aqui comentados. Outros tipos que também apareciam na revista fazem parte do livro, como Meia Oito, que remete àqueles personagens altamente politizados, que mesmo com o passar dos anos, anda acredita em uma revolução comunista, como nos velhos tempos da ditadura. Rigapov é um maluco que ainde vive sob a paranoia da guerra fria EUA X URSS, e acredita que o mundo pode explodir a qualquer momento numa guerra nuclear. Tudo a ver comos tempos atuais e a ameaça do Irã.

No sumário do livro, os personagens são assim descritos:
Rê Bordosa: Sexo, drogas, conhaque, ménage à troir, cerveja, ressaca e anemias em geral
Meia Oito: Liderança e resistência, política, vodca, macarrão à romanesca, onanismo e depressões a granel
Bob Cuspe: Falta de esperança, saco cheio, trânsito engarrafado e alfinetes pelo corpo todo.
Rigapov: Hiroshima, Afganistão, Vietnã, El Salvador... as quatro bestas do apocalipse em um idiota só.
No texto de contracapa, o livro e seus personagens são apresentados assim:
"Entre carros, edifícios e muitas chaminés surge Angeli lambusado de sexo e spaguetti à bolonhesa. Os adolescentes degenerados, a boêmia, as crises existenciais, a trepada mal dada, o terror nuclear, o rock e as drogas pesadas, são temas abordados neste livro com a mestria de quem passou anos comendo bolinho de carne e coçando o saco."

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Palavras Explodem


Vejo torpedear sobre mim palavras de ordem que parecem naves estelares percorrendo os ares, levitando e remoendo sílabas, procurando sentido em frases soltas a ziguezaguear num balé de palavras, como uma tempestade cósmica a brincar de tiro-ao-alvo em meus ouvidos, e desvendar caminhos secretos em labirintos em espiral que não se sabe onde vão dar. Ligando turbinas, espalhando pelo ar resíduos de um poema-poeira que se perde nos confins de uma memória que não deixa rastros nem registros.
Vejo explosões que formam frases sem sentido pelo espaço, enquanto meus olhos espreitam alfabetos inteiros explodindo e se derramando como lavas de um vulcão, e sorrio, pois a falta de sentido é um motivo a mais para se acreditar que as interrogações e as incertezas são reflexos de um espelho que o mundo quebrou diante de nós para que construamos nossa própria imagem através de nossos atos e pensamentos.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Preciosidades em Vinil - Frampton Comes Alive (1976)


Em 1976 Peter Frampton lançaria um álbum ao vivo que faria um sucesso estrondoso. Frampton Comes Alive virou um fenômeno de vendas, mesmo se tratando de um álbum duplo, portanto, mais caro. Com uma vendagem estimada em 16 milhões de cópias, e execução maciça nas rádios, o disco elevaria Frampton à condição de maior megastar surgido na segunda metade da década de 70, e o disco ficaria em primeiro lugar nas paradas durante 10 semanas. Gravado em São Francisco entre março e novembro de 1975, Frampton Comes Alive capta toda a energia de suas apresentações, e emplacou sucessos como Baby, I Love Your Way e Show Me The Way. Outras músicas também se destacaram, como Somethin's Happenin e Do You Feel Like We Doo, que traz efeitos de talkbox, aquele aparelho que através de um tubo que liga a guitarra à boca de quem toca, permite que efeitos vocais saiam através da guitarra, como se ela reproduzisse a voz humana. Jupin' Jack Flash, dos Stones é outra que se destaca no repertório do disco. Em qualquer festinha que rolasse na época, Frampton Comes Alive era um ítem obrigatório, tamanho o sucesso que o disco fazia entre a galera.
A imagem bem apessoada de Frampton - cara de garoto, cabelos longos e louros e um visual saudável, ajudaram no sucesso do então novo astro da música americana, apesar de ele já ter na época um bom tempo de estrada, como membro da banda Humble Pie, e mesmo em sua carreira solo anterior ao álbum.
Curiosamente, o sucesso sem precedentes de Peter Frampton - só quem viveu a época para saber a dimensão - durou pouco. Seu álbum seguinte, I'm You, apesar da grande promoção e expectativa gerada pelo fato de ser o sucessor de um álbum tão elogiado e de sucesso, não conseguiu nem de longe repetir o feito alcançado por Frampton Comes Alive. Em pouco tempo, e aos poucos, Peter Frampton foi sumindo da mídia, seus shows se escassiando, e em menos de dois anos, ele já não era o astro de maior sucesso mundial que havia sido. Porém, seu trabalho não perdeu a qualidade.

Em 1982 Peter Frampton, veio pela primeira vez ao Brasil, e eu tive a oportunidade de assisti-lo em um show no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro,como comprova o ingesso, que guardo até hoje. Foi um grande show, com o ginásio lotado. Logicamente o repertório de Frampton Comes Alive ganhou grande destaque no show, além de trazer outras músicas de seu repertório. Aquele foi o primeiro show internacional que assisti, e posso dizer que valeu a pena me deslocar até o Rio especialmente para assisti-lo.
Apesar desse disco ter sido muito marcante em minha juventude, só fui adquiri-lo recentemente, através de um amigo que está se desfazendo de seus discos de vinil. Eu apenas tinha uma fita cassete gravada nos anos 80, e havia baixado um arquivo em mp3 do álbum. Mas me faltava tê-lo no formato original em que foi lançado, em vinil. A foto da capa, que ilustra essa postagem, preferi tirar com álbum aberto, onde ele aparece de corpo inteiro, uma arte gráfica que não se encontra nas versões em cd, por razões óbvias.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Let It Bleed - Deixa Sangrar


Estou começando a ler o livro A Última Transmissão, do crítico musical americano Greil Marcus, um dos mais respeitados do segmento rock. O livro foi lançado no Brasil em 2006 pela editora Conrad. Comprei esse livro na época do lançamento, ou seja, há 4 anos (quase 5), mas só agora comecei a lê-lo. O livro é uma coletânea de artigos escritos pelo crítico ao longo dos anos. O livro começa com um artigo escrito na revista Rolling Stone americana em 27 de dezembro de 1969:
"Let It Bleed é o último álbum dos Rolling Stones que nós veremos antes que os anos 60, prestes a terminar, se transformem nos 70; ele tem a arte da capa mais vagabunda desde Flowers e uma lista de créditos que parece ter sido editada por uma gráfica do governo. Os tons das músicas são ao mesmo tempo obscuros e perfeitamente claros; as letras são ininteligíveis e muitas vezes introspectivas. Os Stones como banda e Mick Jagger, Keith Richards, Mary Clayton, Nanette Newman, Doris Troy, Madelaine Bell e o London Bach Choir como cantores às vezes carregam as canções para muito além de suas letras. Há o vislumbre de uma história - e pouca coisa mais. Com "Live With Me", "Midnight Rumbler" e "Let It Bleed", os Stones se pavoneiam vestindo suas máscaras assumindo papéis já conhecidos. Escondidas no meio das faixas mais cintilantes, encontran-se músicas à espera de um ouvinte que as alcance: "You Got the Silver", de Keith Richards, é um revival de "Love in Vain", de Robert Johnson. Mas são a primeira e a última faixas de Let It Bleed que contam qual é a história que temos aí.

"Gimme Shelter" e "You Can't Always Get What You Want" desmentem o brutalismo de "Midnight Rumbler" e as riquezas fáceis de "Live With Me". Os anos bateram à porta: foi um longo caminho de "Get Off My Cloud" até "Gimme Shelter", de "(I Can't Get No) Satisfaction" até "You Can't Alwaysss Get What You Want". Um novo mapa está sendo traçado: a velha postura de arrogância e desdém não foi apagada, mas está borrada. Antigamente os Stones eram conhecidos como o grupo que iria sempre dar uma boa mijada, como nos velhos tempos, num posto de gasolina dos velhos tempos. Agora, porém, Jagger canta assim: "I went to the demonstration/to get my fair share of abuse..." (Eu fui à manifestação/tomar a dose de abuso a que tenho direito).

"Gimme Shelter" é uma canção sobre próxima década. A banda evolui sobre a melhor melodia que eles jamais encontraram, adicionando instrumentos e sons aos poucos até explosões de baixo e bateria escorregarem sobre a primeira crista da música e encontrrem os uivos de Jagger e Mary Clayton, uma cantora negra de estúdio de Los Angeles. É um encontro cara a cara com todo o terror que a mente consegue juntar, movendo-se rapidamente sem jamais brecar, para que homens e mulheres tenham que vencer o terror em seu próprio passo. Quando Clayton canta sozinha, tão alto e com tanta força que você acha que seus pulmões estão estourando, Richards a enquadra com riffs medidos, pressionados, que passam queimando pelo emocionalismo dela e arremessam a música de volta ao julgamento distancido de Jagger: "It's just a shot away, it's a shot away[...]It's just a kiss away, it's just a kiss away" (Está a apenas um tiro de distância[...] Está a apenas um beijo de distância). Você sabe que um beijo só não é suficiente(...)"

Essa crítica, escrita à época do lançamento de Let It Bleed, revela um descontentamento do crítico com o rumo que a banda tomava naquele fim de década, aliás, a mais revolucionária do séc.XX. As várias músicas que viraram verdadeiros clássicos comprovam a importância de Let It Bleed na carreira do Stones e na história do rock. O tempo e o distanciamento comprovam isso.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Walter Franco na Estrada - 1975


Em novembro de 1975, o jornal HitPop, que vinha encartado na revista Pop, trazia uma matéria com o cantor e compositor Walter Franco, considerado um dos “malditos” da MPB, por fazer um trabalho diferenciado e anti-comercial. A matéria intitulada “Walter Franco Na Estrada” dizia:
“Rejeitado pelas gravadoras durante muito tempo, sob as alegações de que seu trabalho era pouco comercial, Walter Franco não aceitou fazer concessões e não se abalou com as vaias que caíram sobre ele e sua “Cabeça”, no Festival Internacional da Canção, em 1972. Naquele dia ele ouviu do compositor Astor Piazzolla, o maior nome do tango moderno: “Isso não é apenas música, é uma revolução”. Depois do Festival, já contratado pela Continental, ele fez seu primeiro LP, produzido por Rogério Duprat e considerado um dos melhores de 1973. E as coisas começaram a melhorar, apesar de o disco ter vendido, segundo a gravadora, apenas quinhentos exemplares. Hoje, depois de Gal Costa ter incluído Me Deixe Mudo em seu show “Cantar”, e de Chico Buarque ter gravado essa mesma música, sua composição Feito Gente acabou se tornando a faixa principal do disco e nome do aplaudido show de Wanderléa. Agora, preparando seu próximo LP (que será produzido por Antônio Carlos Sion, pela Continental), Walter quer formar “um pequeno grupo de bons músicos para poder viajar, cantando, tocando e saindo do banquinho para usar o palco”. Isso tem muito a ver com sua formação (ele é ator, diplomado pela Escola de Arte Dramática de São Paulo) e com sua visão de vida e música. ”Quando estou num palco”, ele diz, “sinto vontade de pôr pra fora uma transação integral, tudo o que sou, como diz Mário de Andrade: Eu sou trezentos, trezentos mil, mas um dia toparei comigo. Nesse próximo disco, ele se propõe mostrar que harmonia e amor não podem existir separados, “que respirar é um ato de amor, que viver é um ato de amor, e a partir daí começa meu trabalho”. Místico, Walter crê “na santidade do ser, eu creio em Deus, sem pudor. E o silêncio, que é uma coisa santa, está no meu trabalho. Mas eu tenho tronco e membros, e também grito.”

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Reflexões de Adolescente


Ainda adolescente eu já gostava de desenhar e escrever. Essa prática se intensificou a partir dos 16 anos. Ficava desenhando, e se ocorresse uma ideia que servisse para ilustrar com palavras o que eu havia desenhado, eu elaborava um texto. Quase nada restou daquela época.
Um dos poucos desenhos acompanhados de texto que se conservaram é esse que ilustra essa postagem. E tem uma particularidade: o desenho e o texto foram criados a poucos minutos da virada do ano de 1975 para 1976. Ao final do texto eu coloquei 75/76, pois eu terminei de escrever minha reflexão exatamente à meia-noite, ao som dos foguetes anunciando um novo ano. Em seguida, mudei de roupa e fui curtir o baile de reveillon, que na época ainda existia, no Automóvel Club, um clube tradicional da cidade, do qual eu era sócio. O texto fala de satisfação pessoal, de realização profissional, no caso, não-realização. Termina com uma citação de Catorze Anos, um velho samba de Paulinho da Viola, que eu nem conhecia direito na época, tanto é que eu suprimi um pedaço da letra. O correto seria "Tinha eu catorze anos de idade..." Só coloquei catorze anos. É engraçado hoje ver o desenho e ler o texto. É como se eu estivesse vendo a mim mesmo, do jeito que fui um dia. O texto, na ítegra é o seguinte:

Profissional frustrado e descontente é esse aí de baixo. Se formou em Direito para satisfazer a seus pais. Ele sempre se achou um heroi. Sempre se achou um orgulho para a família, e não podia falhar dessa vez. Tem que ser doutor. Seus pais sempre lhe diziam isso. E como bom filho que ele sempre se orgulhou de ser não pensou duas vezes, resolveu atender s vontade dos pais.
Tem diploma na mão, ganha bem. Mas acha seu trabalho chatíssimo, e às vezes até sente sérias dificuldades. Esse é um fato que se repete em vários lares. E esse cara aí de baixo atendeu a vontade de seus pais, como naquele tempo que sua mãe lhe dizia para ir no armazém comprar dois quilos de açúcar.
Qualquer dia ele larga o emprego, pois esse açúcar é muito azedo.
"Tinha eu catorze anos
Quando meu pai me chamou
Perguntou-me se eu queria
Estudar Filosofia, Medicina ou Engenharia
Tinha eu que ser doutor"
Paulinho da Viola

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Seres Tribais


Somos seres tribais, e alcançaremnos o caminho de nossa verdade interior intuitivamente. Abriremos picadas em florestas densas, e superaremos nossas dificuldades aprendendo a caminhar sem temor. Usaremos nossos sentidos e os quatro elementos naturais como nossos guias, contrapondo nossos conhecimentos primitivos à futurista tecnologia, e provaremos que o retorno do ser humano ao seu sentido básico e primitivo de sobrevivência ainda é possível nesse início de milênio.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Gal, anos 70


"Quando eu me deparo com um público legal, um público quente, o show sempre é mais quente, porque eu geralmente me comunico muito com o público. Quando eu tô entrando no palco eu olho para as pessoas, eu sorrio para elas, eu olho pra elas e rio mesmo, como se tivesse conversando, olho diretamente para a cara de cada um. Agora quando eu me deparo com um público antipático, às vezes eu fico agressiva. Eu já cantei num lugar um dia, acho que foi em Petrópolis ou Teresópolis. Eu entrei no palco, de repente só tinha assim aquelas pessoas idosas, aquela gente toda, aquelas senhoras rindo, cá-cá-cá, conversando, com certeza dizendo:"Olha a roupa dela que engraçada, aquele cabelão, e não sei o que, menina, parece uma boneca, uma bicha", falando coisas desse tipo. Pô, você tá cantando, você tá olhando as pessoas falando tchi-tchi-tchi e rindo. É insuportável. Eu cantei Detalhes de uma maneira inteiramente agressiva. Eu não canto desse jeito, e nesse dia eu cantei Detalhes agredindo o público.


No Festival da Record, eu cantei Divino Maravilhoso. Anunciaram Caetano Veloso e Gilberto Gil (autores da música) e já começaram a vaia. Aí entro eu, a vaia dobrou. Eu vi a raiva e consegui entender. Quando eu passei pra frente do palco as pessoas que estavam vaiando acabaram aplaudindo, era impressionante. Eu me lembro que tinha uma menina assim uhuhuhuhu, me vaiando, no meio de algumas pessoas que estavam aplaudindo, com raiva, eu fiquei com tanta raiva que eu parei assim, olhei pra ela e fiz: "é,é,é,é preciso estar atento" - e fui direto no olho dela, olhando assim pra cara dela, mas com uma violência tão grande que, eu não tô exagerando, a menina parou e sentou na cadeira, eu fiquei impressionada. Era um acontecimento muito forte também, era uma coisa muito verdadeira, pô, tava acontecendo aquela coisa nova pra mim, eu tava dizendo com toda vontade, eu acreditava e era verdade.
Depois de tudo aquilo que aconteceu, a prisão de Caetano e Gil, eu fazia o meu show pensando neles. Eu não podia fazer nada, o que eu podia fazer era gritar, cantar. Então eu cantava por eles, cantava pensando neles, cantava de uma maneira muito violenta. Era como se eu tivesse lutando por eles. Eu tava lá, junto com eles, eu tava ali. Era o que eu podia fazer, era cantar, cantar, cantar."

sábado, 18 de dezembro de 2010

O Fim dos Secos & Molhados, segundo Ney Matogrosso


Em 1992 a jornalista Denise Pires Vaz lançou uma biografia de Ney Matogrosso, chamada Um Cara Meio Estranho. O livro contou com a colaboração do próprio biografado. Apesar de ser uma figura reconhecidamente reservada e discreta fora dos palcos, Ney em entrevistas à autora revelou vários aspectos de sua vida pessoal, desde a difícil relação com o pai severo e militar, sua homossexualidade, sua fase hippie, o sucesso fulminante com os Secos & Molhados, sua adesão à seita do Santo Daime, etc. Entre tantas coisas, ele fala da separação dos Secos & Molhados, e seus problemas pessoais  com João Ricardo, um dos mentores do grupo, que acabou se tornando um desafeto até os dias de hoje.

Sobre os Secos & Molhados e seu fim, o livro faz o seguinte relato:
“Em pleno 1973, o Secos & Molhados venderia mais de um milhão de discos! E a história começaria a se complicar. Na opinião de Ney, na hora em que entrou o dinheiro, acabou o romantismo. Durante uma viagem do grupo ao México, o empresário Moracy do Val foi afastado pelo pai do João Ricardo, João Apolinário, que passou a exercer a função. O Secos & Molhados iniciava o caminho da dissolução. Era tanto disse-que-disse que ninguém conseguia averiguar a verdade. A certa altura, Ney avisou a João Ricardo que sairia do grupo como tinha entrado, porque João Apolinário não estava agindo corretamente, e ele, João Ricardo, mostrava-se conivente com aquilo. O outro chorava, jurava que não, e a história continuava.

O ritmo intenso de trabalho não significava dinheiro na mão, porque ele era todo canalizado para a construção de um escritório faraônico do conjunto, numa área nobre do Jardim Paulista, em São Paulo. Ney não entendia a necessidade de tanto luxo, mas deixou o barco correr, pensando que fazia parte do negócio. Afinal, o dinheiro do seu trabalho também financiava a obra. Grande engano. Escritório pronto, mandaram um contrato para ele assinar, como funcionário da firma Secos & Molhados, formada por João Ricardo e seu pai. De dono e gerador do dinheiro passaria a empregado. Através do mensageiro, mandou aquela tradicional resposta sobre o que fazer com o papel do contrato, além de avisar que saía do conjunto naquele momento.”

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Inauguração da Praça Travessia - Três Pontas 1977


"Em música eu comecei com 15 anos num conjunto vocal, do tipo dos Platers. A gente tocava rock, e aquele troço todo. Com 15 anos mesmo eu fui ser crooner de boate. Depois nós fizemos um conjunto de baile e saímos por aí. Até hoje eu não estudei música. Eu tentei duas vezes, mas não consegui, por preguiça. Em Três Pontas eu não podia ver nada, não ia nada pra lá. O máximo que eu podia fazer era ouvir rádio. Por causa do problema de cor, eu não podia entrar no clube, então tinha que ficar até de madrugada do lado de fora, pra poder ouvir quando tinha alguma orquestra tocando. Uma coisa que eu odiava era o dia 7 de setembro, o colégio saía marchando, e as pessoas quando me viam começavam a rir. Era muito chato... Desde que eu me entendo por gente, uma das coisas que eu mais queria era sair de lá. Como sempre, eu fui muito calado, e o pessoal de casa não tava sabendo bem o que estava acontecendo..."
Esse depoimento de Milton Nascimento à revista Bondinho em 1972, revela o preconceito que sofreu por ser negro na década de 50, quando o racismo era mais escancarado. Mas esse comportamento não era somente em cidades do interior. Era uma coisa geral. Anos depois, mais do que merecidamente Três Pontas homenageou seu filho mais ilustre (apesar de carioca de nascimento), inaugurando uma praça que à princípio ganharia seu nome, mas que o próprio homenageado preferiu que levasse o nome da música que lhe abriu as portas para a carreira de cantor e compositor: Travessia.
Era fim de julho de 1977, e a cidade vivia um dia especial. A festa, como não poderia deixar de ser, foi um grande acontecimento musical, quando alguns dos mais importantes astros da MPB da época se reuniram para prestar uma grande homenagem a Bituca. A revista Música nº 15 fez uma matéria, relatando a grande festa:
“Um dos parceiros de Milton, Fernando Brant, declarou à rádio local, ZYV 36, naquele 30 de julho: “Um dia Três Pontas ainda vai se chamar Milton Nascimento.” Mas talvez isso seja difícil acontecer, pois Milton preferiu que a praça a receber seu nome se chamasse Travessia. Nesse dia, a pequena Três Pontas recebeu, para a inauguração da praça e para o show ao ar livre que Milton organizou em retribuição à homenagem recebida, uma multidão que ultrapassava cinco mil pessoas. Para o show, eram aguardados Simone, Alaíde Costa, Ivan Lins, Beto Guedes e chegou-se mesmo a cogitar a presença de Caetano Veloso. No entanto, no palco montado na Fazenda Paraíso, a alguns quilômetros do centro da cidade, estavam os inseparáveis parceiros Brant, Ronaldo Bastos, os irmãos Borges, Fafá de Belém, Francis Hime, Clementina de Jesus, o Som Imaginário, Azimuth, Grupo Água e outros músicos, como o flautista Paulinho Jobim,filho de Tom Jobim.
Às 14h25, quando o Som Imaginário tocava “Nada Será Como Antes”, considerado pelos integrantes do grupo como “o tema do Milton” os espectadores aplaudiam a figura negra de Milton, o característico boné em conjunto com a camisa e calça jeans. Ele cantou Fazenda e A Lua Girou. Francis Hime foi chamado ao palco e, logo em seguida, subiu Chico. O Que Será transformou-se em um dos momentos mais emocionantes da festa, Aos poucos, outros convidados apareceram, e o que aconteceu, realmente, não pode ser chamado de um show, mas sim festa, onde amigos se encontraram e cantaram. Milton declarou: “É muita emoção. Não estou querendo justificar nada, não. Mas isso é a coisa mais linda. É coisa de irmão.”

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Revista Bravo - Especial Lennon


Os trinta anos da morte de John Lennon, não poderiam passar em branco pela imprensa cultural mundial. No Brasil, dentre outras publicações, a revista Bravo! fez uma edição especial em homenagem ao ex-beatle. Lennon foi uma das mais brilhantes personalidades do séc. XX. É claro, que seus companheiros dos Beatles também têm seus nomes em destaque na história, mas Lennon talvez tenha tido um foco maior por seu ativismo político, sua vida conturbada mas coerente, marcada por uma série de contestações, seu casamento com Yoko, seu engajamento na luta pela paz mundial, e tantas outras coisas que o tornaram a figura marcante que é até hoje, trinta anos após seu assassinato.
A revista, que ainda se encontra nas bancas, faz uma bela homenagem a John, destacando vários aspectos de sua vida, desde sua infância, o sucesso com os Beatles, seu ativismo político, seu trabalho solo, seu casamento com Yoko, discografias (Beatles e carreira solo) etc. A edição, de quase 100 páginas ainda traz muitas fotos, e textos interessantes.

Lembro ainda da notícia da morte de Lennon, a trinta anos,quando o mundo foi pego de surpresa com a notícia do inusitado assassinato. Soube pela tv, ainda pela manhã, e fiquei chocado com a notícia. Tinha, e ainda tenho, uma enorme admiração por John, pelo artista, pela personalidade pública, por seu senso de humor um tanto ácido, que me levavam a prestar uma atenção especial a tudo que ele fazia, falava e produzia. Tenho até hoje guardado o jornal do dia seguinte a sua morte, noticiando o fato, e tudo que foi publicado na época. Até uma edição especial de capa, da revista Veja, que não chegou à minha cidade eu consegui. Naquele período, por um problema entre a editora Abril e os distribuidores de revistas da cidade, as publicações daquela editora não chegavam à cidade. Mas pra minha sorte, um vizinho era representante da Abril,e com ele eu acabei conseguindo um exemplar de brinde.
A revista Bravo! por ser uma publicação cultural, que produz boas matérias sobre literatura, música, cinema, artes plásticas e outras manifestações culturais, produziu um bom número especial, sem cair na repetição, trazendo bons ensaios e entrevistas, como do baterista João Barone, e análises de sua obra e a influência deixada por seu pensamento e comportamento. Numa época de tão poucas personalidades que mereçam um destaque como ele mereceu, essa revista é uma edição para se guardar.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Negócio Seguinte:


O jornalista Luiz Carlos Maciel foi um dos primeiros no Brasil a abrir espaço para assuntos ligados à contracultura, e movimentos ligados à revolução cultural e comportamental que acontecia nos anos 60 e 70. Na época ele mantinha uma coluna semanal no jornal O Pasquim, chamada Underground, que falava basicamente em rock, movimentos culturais de vanguarda, psicanálise, etc.
Em 1981 vários dos textos publicados em sua coluna foram reunidos no livro Negócio Seguinte. A própria capa do livro já dá uma pista dos assuntos retratados, coisas que faziam parte de sua coluna.
O texto de contracapa faz uma breve descrição de Maciel:
"Cabelos compridos, vestido de jeans, falando ao povo com simplicidade, Maciel transpôs a década erguendo uma obra filosófica que se projeta como o estrato mais avançado do pensamento no Brasil. A solidez da sua cultura e o êxito da aplicação do método para incorporar o mundo novo ao Conhecimento, em nosso país, fazem que Maciel e seu trabalho redimam a velha Universidade, onde se formou. Uma universidade elitista, é verdade. Mas competente. Maciel é talvez o único exemplo - pelo menos o mais conhecido e o único de projeção nacional - da transição feliz, no sentido de produtiva e criadora."

Na época em que comprei o livro, eu estava me iniciando no interesse pela contracultura, e através de Negócio Seguinte pela primeira vez li sobre figuras emblemáticas dos movimentos contraculturais, como Abbie Hoffman, Marshall McLuhan, Herbert Marcuse, Wilhein Reich, Thimothy Leary, Jerry Rubin, e outros. Muito se fala também de rock, e figuras lendárias como Hendrix, Dylan, Beatles, Stones, além de assuntos em voga na época, como revolução sexual, movimento, hippie, maconha (há um texto bem elucidativo sobre a cannabis) teatro de vanguarda, etc. Os textos foram publicados originalmente entre 1969 e 1971, e refletem bem a atmosfera da época.
Há ainda entrevistas com Caetano e outra com os Novos Baianos, com participação de Glauber Rocha, ainda antes do encontro com João Gilberto, e a gravação do antológico disco Acabou Chorare.
Um manifesto hippie, denominado Você Está na Sua também faz parte do livro, e começa dizendo;
"Seguinte: o futuro já começou. Não se pode julgá-lo com as leis do passado. A nova cultura é o começo da nova civiização. E a nova sensiblidade é o começo da nova cultura. Sua continuação é a nova lógica. Não: as leis do passado não servem."
Esse livro foi muito importante pra mim na época, pois me trouxe uma série de esclarecimentos sobre aquela época que eu não acompanhei, por ser ainda criança, embora observasse os ecos daquela revolução comportamental que acontecia. Foi bom passar a conhecer alguns daqueles personagens que ajudaram a mudar um pouco a fisionomia do mundo, mesmo que muitos daqueles movimentos tivessem, hoje analisando, um caráter utópico. Mas, não dá pra negar: de alguma forma, o mundo depois daqueles anos de contestação, não foi mais o mesmo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Imagens Raras - Festival de Saquarema (1976)


Leio na revista dominical de O Globo que após mais de 34 anos, imagens de um importante festival de rock acontecido na praia de Saquarema/RJ, destinadas a se tornar na ápoca um documentário do evento, estão sendo recuperadas. São imagens históricas de uma fase importante do rock brasileiro, um verdadeiro documento.

Tendo à frente o jornalista, empresário e agitador cultural Nelson Motta, que na foto acima aparece de camisa estrelada e chapéu, conversando com Lee Marcucci, baixista da banda Tutti-Frutti, que acompanhava Rita Lee, o projeto do festival incluía um disco ao vivo e um documentário, que nunca foram realizados.
Ao contrário do que diz a matéria de O Globo, o evento não ocorreu no verão, e sim em maio de 1976. Lembro que li bastante sobre o evento na época, tendo um vasto material guardado até hoje. A matéria abaixo retirei da revista Música nº 2, de julho de 1976.
"A cidade de Saquarema viveu os dias 21, 22 e 23 de maio em uma agitação tão grande, que já os acrescentou em sua história. Tendo cerca de dez mil habitantes (dados da época), foi sacudida de repente por 40 mil pessoas, gente vinda de muitos lugares diferentes, atraídos por dois grandes acontecimentos: o 2º Campeonato de Surf, que escolheu um campeão para representar o Brasil no Havaí, e o 1º Festival de Rock, que reuniu muitos músicos, técnicos, publico, enfim, tudo o que um festival ao ar livre necessita para acontecer.
Rita Lee só chegou no domingo, de avião, e encerrou o festival. Porém, sua equipe de produção chegou a Saquarema uma semana antes do festival e ajudou muito na organização de tudo.

Rita Lee fez o lançamento de algumas músicas do novo LP que sai em julho (o hoje antológico Entradas e Bandeiras), fechando o festival com fogos de artifício e efeitos tão especiais que, na fumaça de Ovelha Negra, tudo ficou tão nublado a ponto de Rita tropeçar nos pedais de Luís Sérgio, e desligar a guitarra.
Raul Seixas apresentou-se no sábado, fez uma apologia ao diabo e um discurso que sacudiu a multidão, que até aquele momento estava meio apática (a matéria de O Globo diz que Raul estava "careta", e isso prejudicou sua apresentação).

Virou o microfone para o público, que cantava o coro de Sociedade Alternativa, criando um clima muito louco e fazendo muita gente chorar de emoção. "O que existe é uma esquizofrenia controlada. Se você conseguir canalizar isso, você fica em paz, mas primeiro você tem que chamar os seus fantasmas e brigar com eles. Mas nem todos são iguais. Alguns nasceram apenas para ver."
No festival ainda se apresentaram o grupo gaúcho Bixo da Seda, Flávio Spirito Santo e Angela Ro Ro. Vamos aguardar a restauração dessas imagens históricas

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Walt Whitman - Um Precursor da Poesia Moderna


Um poeta adiante do seu tempo, considerado precursor dos beatniks e da poesia moderna, Walt Whitman foi redescoberto nos anos 80, não sei se por coincidência, quando a geração beat passou a ganhar, tardiamente, espaço no Brasil. Tomei conhecimento de sua poesia em meados dos anos 80, quando foi lançado pela Editora Brasiliense seu livro Folha das Folhas da Relva. Talvez tenha sido seu primeiro livro lançado no Brasil. Ao ler sobre Whitman e o legado poético que deixou, fiquei curioso em conhecer sua poesia, e assim logo adquiri Folha das Folhas da Relva, e pude então tomar conhecimento de sua obra e da força poética dos seus versos.

O prefácio de Paulo Leminski diz em um trecho:
"Toda revolução digna deste nome produz seu grande poeta.
"Antena da raça", o poeta capta, nos tempos de comoção social, a tremenda energia vital liberada pelas grandes transformações coletivas, em seu momento agudo, revolucionário ou insurrecional. Assim, se Maiakovski é o poeta da Revolução Russa, não é exagero dizer que Walt Whitman (1819-1892) é o poeta da Revolução Americana, ocorrida uma geração (1776) antes do seu nascimento (...)
Dai-nos, hoje, senhor, autopia de cada dia.
Whitman, o primeiro beatnik, vive da longa vida que só uma grande poesia (ou uma grande revolução) irradia."
Abaixo, um poema retirado do citado livro:

Certa Vez Numa Cidade

Certa vez eu passei
por uma cidade bem populosa,
guardando impressões
para futuro emprego,
com suas mostras, sua arquitetura,
costumes, tradições,
embora dessa cidade eu agora
me lembre apenas de uma mulher
que encontrei por acaso
e me deteve por amor de mim
e juntos estivemos
dia por dia e mais noites por noite
- posso afirmar que só me lembro mesmo dessa mulher que se apegou a mim
apaixonadamente,
de quanta vez andamos, nos amamos,
de novo nos deixamos,
de novo ela a pegar-me pela mão,
e sem precisar ir:
vejo-a bem perto a meu lado
de tristes lábios trêmulos
calados

domingo, 5 de dezembro de 2010

Flu Campeão Brasileiro


Mais um Campeonato Brasileiro chega ao fim, dessa vez com uma conquista do Fluminense. Foi bonito ver uma equipe que a duras penas, com desfalques importantes em boa parte da competição, conseguir chegar ao triunfo, de uma forma tão disputada. Na verdade, esse título começou no ano passado, com a virada inacreditável de um time já tido e havido como rebaixado, e de forma suepreendente,contrariando todas as estatísticas, conseguiu permancer na primeira divisão. Por isso essa conquista foi tão especial.
O trabalho de Muricy Ramalho, que chegou a desprezar o convite de ser técnico da seleção para dar continuidade ao trabalho planejado no clube, foi fundamental para manter o time, mesmo com seus altos e baixos, sempre entre as primeiras colocações.
Ao contrário do que muitos previam, a rodada final não foi nada fácil para os três aspirantes ao título. O campeão Flu, assim como o Corínthians e o Cruzeiro, não tiveram vida fácil com os respectivos adversários, Guarani, Goiás e o time reserva do Palmeiras. Só assisti ao jogo do Flu, portanto não posso avaliar as outras duas partidas. O que ficou claro na partida que assisti pela tv, foi que o Flu, pelo fato de ter sobre si a responsabilidade de liquidar um adversário já rebaixado, e sem pretensões no campeonato, talvez tenha influenciado no emocional dos jogadores, que não conseguiam armar jogadas objetivas, e chegar ao gol adversário. O time parecia nervoso, e sentindo a responsabilidade de liquidar logo a partida, já que tinha toda a torcida a seu favor, jogando em casa contra um adversário mais fraco.
No segundo tempo o time voltou mais objetivo, certamente após ouvir instruções do treinador que deve ter cobrado um melhor posicionamento de alguns jogadores, principalmente os homens de criação do meio de campo, que não criaram jogadas que proporcionassem uma maior agressividade ao ataque. A jogada do gol, aos 16 do segundo tempo, celebrou a superioridade do Flu sobre o adversário. Numa bola que veio pela linha de fundo, numa jogada bem desenvolvida por Carlinhos, num cruzamento para área, Wahington ao cabecear fez a bola tocar nas costas do adversário, e sobrar para Emerson, que estava de frente pro gol, e tocou por entre as pernas do goleiro adversário, seu xará. Esse seria um gol que não influenciaria na decisão do título não fosse a virada do Cruzeiro sobre o Palmeiras, já no fim da partida. Os dois adversários diretos estavam empantando, e sendo assim bastaria um empate para o Flu se sagrar campeão. Mas aquele gol não poderia ser apenas mais um gol. Tinha que ser realmente o gol do título.
Parabéns ao Flu e a todos os seus torcedores, entre os quais me incluo.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Teste de Inocência


Há pouco tempo, fazendo minha ronda pelas bancas de revistas, me deparei com um número especial da revista Super Interessante, com o título As melhores Ilusões de Ótica de Todos Tempos. Sempre me interessei pelo assunto, por isso levei a revista pra casa. A revista traz desde aquelas imagens que dão uma falsa ideia de movimento ou de desenhos intercalados, dentre outras coisas. A imagem acima me chamou a atenção. O desafio proposto é encontrar 10 golfinhos na ilustração. O cometário que é feito sobre a imagem diz:
"Sabemos, você está vendo um casal se agarrando. Mas foque a atenção nas manchas escuras do desenho. Em volta da cabeça deles há dois golfinhos se beijando. Entre as pernas dela há um rabo do bicho. E do décimo cetáceo aparece só o rabo, no canto inferior direito."
Mais adiante, em outro tópico,a revista esclarece:
"O que você vê dentro da garrafa? Sacanagem? É a resposta óbvia para adultos. O curioso é que crianças pequenas costumam ser incapazes de ver o casal e enxergam só os golfinhos. Como? É, há dez cetáceos dentro da garrafa (nós o ajudamos a voltar ao estado de pureza e vê-los também).
Há interpretações complementartes do fenômeno. Do ponto de vista neurológico, é uma operação muito mais complexa compor o casal com os elementos da ilustração do que só ver golfinhos separados. "A criança consegue ver os elementos, mas não juntá-los. essa competência, a da abstração, é adquirida com os anos", diz Marcelo da Costa, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Comportamento do Instituto de Psicologia da USP. Do ponto de vista dos principais gestalistas, enxergar a cena erótica também depende de familiaridade com o tema e entendimento de seu significado: "Os golfinhos estão mais próximos do universo de interesses e aprendizado da criança", afirma Luiz Lilienthal, coordenador do Instituto Gestyalt de São Paulo."

O tema destacado é dos mais interessantes, pois pode levantar uma outra questão muito discutida hoje em dia: a erotização cada dia mais precoce de nossas crianças. Hoje em dia a televisão principalmente, através de suas séries, novelas, comerciais, etc, trazem imagens que sugerem ou explicitamente mostram cenas carregadas de erotismo, que passam a fazer parte do universo das crianças. E explicação dada para que as crianças somente enxerguem os golfinhos no desenho, é que a cena erótica não faz parte de sua memória visual (ou algo assim). A pergunta é: Uma criança dos dias atuais só veria mesmo os inocentos golfinhos na cena? Como não tenho crianças em minha casa, não pude fazer o teste.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Alceu Valença em Frente e Verso


Um dos artistas brasileiros que mais admiro é Alceu Valença. Alceu pode ser considerado um pioneiro na fusão de ritmos nordestinos com a energia do rock. Descobri o trabalho de Alceu por volta dos meus 15 anos, quando ele lançou um disco antológico: Molhado de Suor. No ano seguinte participou do Festival Abertura, da Globo, com a música Vou Danado Pra Catende, que foi uma das que mais me impressionaram. Logo virei fã de Alceu. Lembro que o primeiro disco que comprei com dinheiro meu foi "Vivo!", que como o título diz é o registro ao vivo, de um show gravado no teatro Tereza Raquel.
Em 1989 fiquei sabendo de um livro sobre Alceu, escrito por uma jornalista e pesquisadora, chamada Anamelia Maciel, que tinha visto Alceu na TV e ficou entusiasmada com a energia da apresentação. Segundo ela, Alceu eletrizava tanto as pessoas, que algumas ao invés de dançar ao som das músicas, ficavam paradas, como se em estado de transe. Anamelia naquele momento resolveu escrever uma biografia do músico. O próprio Alceu, ao tomar conhecimento, aprovou a ideia, e aceitou prestar depoimentos diários à autora, em sua casa de Olinda, onde revelou ser uma pessoa em sua vida pessoal bem diferente daquela figura no palco - um tanto tímido e reservado. Além do próprio biografado, a autora colheu depoimentos de pessoas ligadas a ele, inclusive fãs anônimos. De grande ajuda para o trabalho de pesquisa, foi a colaboração de D. Adelma, mãe de Alceu, que abriu seu vasto acervo de matérias e fotos do filho famoso, organizado por ela desde que Alceu era um artista iniciante e ainda desconhecido, que fazia shows nas universidades de Pernambuco ainda nos anos 60.

Na época tentei adquirir um exemplar, mas por ser uma edição de autor, com distribuição restrita, não consegui comprar. Porém, muitos anos depois, quando trabalhava e morava no Rio, me deparei com a obra em uma livraria da zona sul. O livro é um belo trabalho, que traz muitas informações e fotos raras. A capa poderia ser melhor. Acho que uma foto representativa de Alceu cairia melhor que a ilustração, que na verdade é um quadro que retrata Alceu. São 134 páginas que revelam detalhes da vida pessoal e artística de Alceu, além de discografia ilustrada e letras e partituras.
Deveria haver mais biografias de artistas brasileiros, a exemplo de Alceu em Frente e Verso.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Preciosidades em Vinil - Fulfillingnenn' First Finale (Stevie Wonder)


Em 1974 Stevie Wonder, um dos músicos mais completos que conheço, gravou mais uma de suas tantas obras-primas, o disco Fullfillingness' First Finale. O disco conta com a participação de dois magos dos sintetizadores, Robert Margouleff e Malcon Cecil, que já haviam trabalhado com Stevie em outros três álbuns. O disco traz faixas inspiradas, exemplos da fantástica musicalidade de Stevie, como a balada country Too Shy To Say, que traz um vocal à la Ray Charles, em que ele é acompanhado pela guitarra de Sneaky Pete Kleinow, dos Flying Burrito Brothers. Stevie cai no funk, com grande balanço em Boogie On Reggae Woman, mostrando uma vertente musical em que Stevie é mestre. A balada Creepin é outra excelente faixa desse disco, trazendo outra marca de seu estilo pessoal de compor e interpretar. Uma das faixas que mais me chamaram a atenção é uma espécie de fusão com ritmos brasileiros, chamada Bird Of Beauty, onde é acompanhado por uma cuíca, cuja letra é em parte em português. Parece um pouco aquilo que costuma-se chamar de "macumba pra turista", mas vindo de Stevie ganha outra conotação. Talvez a melhor música do disco, pelo menos em minha opinião, é You Haven't Done Nothin, outro funk altamente balançado, que remete a seus trabalhos mais dançantes, capaz de agitar qualquer pista de dança, a exemplo de outros clássicos wonderianos, como por exemplo Superstition, do álbum Talking Book.
O disco foi gravado após um acidente quase fatal que Stevie sofreu em 6 de agosto de 1973, e pelo fato de ter se recuperado, e estar na época no auge de sua fase criativa,o álbum é otimista, trazendo um ótimo astral, que pode até ser conferido na faixa They Wont't Go When I Go, uma espécie de gospel song, que remete a orações islâmicas e cantos gregorianos.
Esse álbum eu adquiri em uma loja que também funcionava como sebo. O proprietário tinha uma sessão de usados que era um deleite para quem buscava gravações raras e discos fora de catálogo. Dentre os tantos discos de Stevie Wonder que possuo, Fulfillingness' First Finale é apenas mais uma preciosidade no meio de outros tantos, que poderiam também estar sendo comentados aqui.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Beatles nas Bancas de Jornais


Em minhas rotineiras visitas às bancas de revistas encontrei um livro sobre os Beatles, e acabei levando pra casa. Trata-se de uma obra intitulada "A História Ilustrada dos Beatles", que traz 224 páginas, e muitas fotos, justificando o título do livro. Custa 30 reais. Andei folheando, e parece ser um bom livro, embora à uma primeira vista, não traga muitas novidades. Cada assunto retratado é ilustrado por fotos, desde os primórdios da banda, até seus shows no Cavern Club, suas excursões, os discos lançados, etc. Como ainda não li o livro, não posso avaliar o texto. Algumas das fotos já são bem conhecidas, outras nem tanto, e cobrem as várias fases do grupo, reveladas na própria aparência dos integrantes. Com já possuo uma grande quantidade de livros e revistas sobre os Beatles, e conheço bem suas histórias, boatos e lendas, já me acostumei a ler informações equivocadas sobre os quatro Beatles.

Lembro que um livro sobre a banda fala que nos seus primórdios, quando ainda eram bem jovens e antes da fama, eles costumavam ensaiar e puxar um fumo. Esse fato não é verídico, pois é sabido, de fontes seguras, inclusive revelados pelos próprios membros, que a primeira vez que eles tomaram contato com maconha foi quando já eram famosos, através de Bob Dylan. Em outro livro que li, há uma referência a um show ocorrido no fim dos anos 60 - não me lembro qual ano. Quem conhece a história da banda sabe que os Beatles pararam de tocar ao vivo em 1966, em um show no Japão, já que a euforia das fãs durante as apresentações era tanta, que eles não conseguiam ouvir a si mesmos. Existe também um boato muito difundido, e depois desmentido, de que eles quando receberam a medalha do Império Britânico, em 1965, momentos antes se trancaram num banheiro do Palácio Real, e fumaram um baseado. Já li inúmeras referências a esse boato.
Para quem não possui muito material dos Beatles, esse livro pode ser uma boa pedida, pois apesar de não trazer muitas novidades, pelo que andei vendo nas folheadas que dei, traz um bom material. Para colecionistas e pesquisadores, haverá sempre algo a acrescentar, com certeza.