Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Uma Briga De Caetano Com Seu Público Em 1973



Caetano Veloso sempre teve fama de pavio-curto, e não aceitar provocações vindas do público de seus shows. Eu mesmo testemunhei em 1985, no Circo Voador, na Lapa do Rio de Janeiro ele soltar um sonoro "Cala a boca, filho da puta!" para um cara que o interrompia enquanto ele tentava falar. Um outro caso, com consequências mais graves aconteceu em Salvador, em 1973, quando ele teve que interromper o show e foi parar na delegacia. A matéria foi extraída da revista Amiga, e teve como título Caetano: "A Bahia Não Entendeu Meu Canto".
"Há meses, durante uma apresentação no Museu de Arte Moderna do Rio, Caetano Veloso foi vaiado, xingou a plateia, parou o show, mas voltou ao palco logo depois. No último sábado, dia 24, ele voltou a se aborrecer com as vaias e piadinhas do auditório, durante um espetáculo único que realizava na concha acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador. Só que desta vez as consequências foram mais graves, com intervenção da polícia e a paralização definitiva do show. Caetano não se conformou com o fato de o público de sua própria terra não o entender. Suportou as vaias durante 45 minutos, mas quando se concentrou para cantar A Volta da Asa Branca, de Luiz Gonzaga, os apupos aumentaram e ele perdeu o controle, xingando o público e abandonando o palco. Levado para a Delegacia de Jogos e Costumes para prestar depoimento, Caetano mostrou-se decepcionado com tudo o que houve: "Apresentei este mesmo show em vários estados do Brasil. Em Goiânia, por exemplo, muitas pessoas latiam, gritavam, mas eu não me abalei. Aqui na Bahia era diferente. Era onde eu, por fazer uma única apresentação, tinha a maior preocupação em que tudo desse certo. Estava cantando em minha terra. Era uma coisa muito próxima. Eu queria mostrar meu trabalho, que foi muito árduo e exigiu muita inteligência. Não permito que desfaçam dele. A perturbação organizada de um determinado grupo da plateia fez com que eu perdesse o controle, pois se constituía um flagrante desrespeito a tudo que eu estava fazendo, menosprezando o meu trabalho."

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De Carona com João Gilberto


João Gilberto é uma figura das mais folclóricas da música brasileira. As histórias que são contadas a seu respeito, envolvendo suas manias e esquisitices, são tão comentadas quanto sua genialidade como músico. Umas das histórias mais interessantes que li sobre ele foi relatada pelo letrista dos Novos Baianos, Luiz Galvão, conterrâneo do mestre, de Juazeiro na Bahia, em seu livro Anos 70 Novos e Baianos. Como a presença de João está muito ligada à história da banda, João é personagem em várias passagens do livro. O ouvido sensível de João Gilberto é usado não só em favor de sua musicalidade, como também em seu dia-a-dia. Em um trecho do livro Galvão relata: "Meu pai me contava que joão, aos oito anos de idade, chegou na igreja durante a missa e, virando-se para trás, gritou na direção do órgão: "Errou! Errou uma nota, professora Emilinha!", referindo-se à organista."
Mas a história mais interessante fala de um passeio de carro com João na direção:
"Numa madrugada, João me convidou para um passeio de carro e, ao passarmos pelo primeiro sinal que se encontrava fechado, ele, que estava ao volante, não cortou a conversa e continuou na velocidade que vinha, passando na maior. A consciência com que ele dirigia me transmitia tranquilidade, tanto é que não me surpreendi por não vir nenhum carro na transversal, o que ocasionaria inevitavelmente uma colisão. Vieram o segundo e o terceiro sinais, também fechados para nós. João, da mesma forma, não considerou a sinalização, mantendo a velocidade com que vinha desde o primeiro sinal. Durante o percurso, não encontramos vivalma, em razão do adiantado da hora. Ao chegarmos no quarto sinal, ele foi diminuindo a velocidade, metendo uma segunda, depois uma primeira e pisando no freio, com o carro parando à beira da faixa do pedestre, embora o sinal, dessa vez, estivesse aberto. Para surpresa nossa, um carro passou voando a aproximadamente duzentos por hora, avançando o sinal vermelho. O que seria de nós, pensei, não fosse o anjo da guarda de João? Cheio de curiosidade, perguntei: "Como é que você sabia que vinha um carro?" João sorrindo respondeu: "Pelo som. Estou dirigindo com o ouvido."

domingo, 29 de agosto de 2010

Flávio Cavalcanti - Uma Figura Polêmica


Uma figura televisiva que marcou muito minha infância e adolescência foi o apresentador Flávio Cavalcanti. Em minha casa sempre se assistiu seus programas. Flávio sempre procurava colocar no ar questões polêmicas. Era conhecido, por exemplo, por ser aquele apresentador e crítico musical que quebrava os discos de que não gostava, e logicamente, isso acabou criando muitos desafetos. Se notabilizou também por criar factóides, forjar surpresas no ar, como se não fosse tudo previamente combinado. Tinha um posicionamento radical, conservador e moralista. Era rejeitado pela esquerda, pois tinha um posicionamento político que não escondia suas boas relações com setores e pessoas ligadas à ditadura militar.
Lembro que ainda menino assistia seus programas, como Um Instante Maestro. Aliás, nesse programa o apresentador criou algo passou a ser usado em inúmeros programas, que é uma mesa de jurados para analisar e julgar calouros. Lembro que entre seus jurados nesse programa havia Nelson Motta, que tinha vinte e poucos anos, Sérgio Bittencourt (filho de Jacob do Bandolim)e José Fernandes, que era o jurado durão, que dificilmente dava um parecer favorável ao que estivesse em julgamento.
Eu gostava quando ele apresentava umas coisas meio loucas, justamente para espinafrar. Lembro de uma vez em que se apresentou um cara que cantou uma música chamada Poensioscópio de Mil Novecentos e Quarenta e Quinze. Achei aquilo o máximo.
A partir de 1970 ele passou a apresentar na Tv Tupi o Programa Flávio Cavalcanti, que ia ao ar às 19h dos domingos. Nesse programa ele criou um quadro cujo nome, criado por ele, acabou fazendo parte de nosso vocabulário: Fora de Série. Esse quadro apresentava pessoas que faziam algo inusitado. Podia ser uma invenção, um número circence, uma imitação, etc. O quadro fazia tanto sucesso, que a expressão "fora de série" ganhou uso cotidiano.
Apesar de sua postura direitista e conservadora, ele às vezes tinha ações contraditórias. Um exemplo é o apoio que deu à Leila Diniz. Apesar de não ser uma militante política, Leila tinha muitas ligações com o pessoal de esquerda, o que a levou a ser perseguida pelos órgãos de repressão da ditadura. Não conseguia trabalho como atriz na tv ou teatro. Passou a enfrentar dificuldades, e logo Flávio Cavalcanti a colocou em seu júri para que ela recebesse o cachê e não ficasse sem trabalho. Mais tarde, quando o cerco se fechou em torno de Leila, e ela passou a ser ameaçada de prisão, ele a escondeu em seu sítio em Petópolis.
Outra surpresa pra mim, foi seu apoio a Raul Seixas. O tipo de música que Raul fazia era totalmente antagônico à sua postura conservadora, porém Flávio o recebeu várias vezes em seu programa sempre com elogios. Raul, inclusive citaria o apresentador nos versos "Mais nada me interessa nesse instante, nem o Flávio Cavalcanti, que a seu lado eu curtia na tevê".
uma coisa interessante que uma vez ele fez foi convidar semanalmente três ou quatro críticos de tv para assistirem a seu programa, e depois, ao final, fazerem a crítica no ar. Os convidados caiam de pau quando não gostavam de certos quadros, não havendo nenhum comprometimento em elogiar. Achei isso inovador e diferente.
A imagem que ilustra essa postagem é de um livro escrito por sua secretária e braço direito por muitos anos, Léa Penteado. Fala de sua vida, e um pouco da própria história da televisão no Brasil. Não me considero seu fã, mas não posso deixar de achá-lo um nome marcante na história de nossa televisão, mesmo discordando de muitas de suas posições.

sábado, 28 de agosto de 2010

Gonzaguinha Hardcore


É interessante como certos artistas ao longo da carreira mudam de postura, de comportamento e de imagem. Muitas vezes essas mudanças são sugeridas por seus empresários, visando angariar uma nova faixa de público. Em alguns casos a mudança de postura e temática de sua obra é algo natural, movida por mudanças pessoais, amadurecimento, etc. Um caso típico de artista que viveu fases distintas de postura e temática de sua obra é Gonzaguinha.
Meu primeiro contato com a figura de Gonzaguinha foi quando eu tinha dez anos, e assisti ao Segundo Festival Universitário da Canção, que era transmitido pela Tv Tupi. Nesse festival ele foi o vencedor com a música O Trem. Sua composição era uma elaborada e difícil canção, com uma melodia cheia de nuances, e uma letra cheia de imagens e mensagens um tanto complicadas, sendo totalmente anticomercial. Logicamente o público não assimilou e as vaias foram inevitáveis. Eu, nos meus 10 anos naturalmente não compreendia nada daquilo, mas observava atento. Estava torcendo por uma música chamada Nada Sei de Eterno, que tinha letra de Aldir Blanc. Não exatamente porque a música me tocou de alguma forma, mas sim porque quem a interpretou foi Taiguara. Minha música preferida ficou em segundo. Lembro da imagem séria e até desafiadora daquele cara magro e mal encarado, que nem parecia que havia acabado de sair vencedor do festival. Alguns anos depois, lançou seu primeiro lp, ainda com o nome artístico de Luiz Gonzaga Jr ( o nome Gonzaguinha só seria adotado a partir de seu quinto disco, de 1977). Reconhecido como um compositor de inegável talento, mas de músicas elaboradas e anticomerciais, sua imagem artística era marcada por um grande mal-humor, um jeito sério, cara de poucos amigos, etc. Nesse paríodo - início dos anos 70 - ele chegou a ganhar o apelido de "cantor-rancor".
A foto que ilustra essa postagem é da capa de seu primeiro disco, que tinha por título apenas seu nome. É uma foto estranha. Seu rosto, pintado de branco com filetes vermelhos escorrendo por seu cavanhaque, lembrando sangue, e com uma expressão cadavérica, mais parece um cartaz de filme de Zé do Caixão. Nunca consegui interpretar aquela foto. As músicas são bem diferentes daquelas que o consagrariam muitos anos depois. Uma das letras poderia muito bem fazer parte do repertório de bandas estilo punk ou hardcore, aquelas músicas bem barra-pesada. A música se chama Página 13. Cheguei até a mostrar essa música a um cara que tocava numa banda hardcore, e dei a sugestão de fazerem um arranjo dentro do estilo. Teria tudo a ver. Eis a letra:

Até que ele era um rapaz muito bem educado/ Até que ela tinha um bom coração/ Até que ele era um rapaz muito bem comportado/ Até que ele era um poço de boa intenção/ Não creio que ele fosse complexado/ Meio calado, talvez esquisito, mas batalhador/ Eu creio que ele era muito inteligente/ Eficiente, honesto, honrado e trabalhador/ Por mais de dez anos foi meu excelente vizinho/ Subia comigo às vezes no elevador/ Por certo sabia direito no seu cantinho/ Escuro, tranquilo, com jeito de um sonhador/ Até que hoje à noite pegando e relendo o jornal/ A foto no canto da esquerda me despertou/ Matou a mulher e as crianças a golpes de pau/ sem um bilhete, sem explicações se suicidou/ Se bem que a patroa falava "esse cara não presta"/ "Tem cara de anjo mas nunca qu'ele me enganou"/ Até que ele era um rapaz muito bem comportado/ Mas não, eu nem sei o seu nome, ele nunca me falou/ Um preto sereno com jeito de sonhador/ Até que ele era um rapaz muito bem educado/ Mas não, eu nem sei o seu nome, ele nunca falou

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Fanatismo e Insanidade de Imbecis


Quem me conhece sabe que eu adoro futebol. Acompanho futebol desde criança, e em minha visão infantil, eu via os craques de meu time como heróis, algo acima do bem e do mal. Logicamente com o tempo vamos perdendo a idolatria pelos craques, e passamos somente a admirá-los, até porque hoje em dia, com os interesses de empresários e as mudanças na Lei do Passe, cada vez menos vemos jogadores de destaque serem vinculados aos clubes, como era no passado. Assim, sempre que um jogador tem um certo destaque em seu time, logo aparecem propostas de transferência, e ele se disvincula de seu clube, porque interessa aos empresários.
Mas algo que me revolta dentro do universo das torcidas é ver que o fanatismo insano leva à violência e outros atos imbecis. É muito comum, principalmente nos grandes clássicos, vermos notícias de espancamento e brutalidade contra pessoas que cometeram o crime de vestirem a camisa do clube adversário. Um trecho do hino do meu clube diz: "Eu tenho amor ao Tricolor". Ter amor por nosso time do coração não significa sentir ódio pelo clube adversário ou sua torcida. Também não significa cometermos atos insanos que não significam violência física contra ninguém, mas demonstram uma total incapacidade de se enxergar certos fatos, movidos pelo fanatismo. Falo isso para demonstrar minha indignação por uma notícia que li no site do jornal esportivo Lance!, que mostra uma foto de um grupo de torcedores do Flamengo apoiando o ex-goleiro Bruno, em frente ao Fórum de Jacarepaguá, onde ele e seus comparsas foram indiciados pelos crimes que cometeram. Chega a ser ridículo ver a foto publicada onde aparecem membros de duas torcidas organizadas exibindo faixas com os dizeres: "Confiamos em Você", "Deus É Contigo" e "Herói de Uma Nação". A "nação" a que eles se referemse referem não se refere a nosso país, e sim à chamada "nação rubro-negra", como é conhecida a enorme torcida do clube. Devo deixar bem claro que sei que esses cerca de 30 torcedores não representam o pensamento dos rubro-negros. Acredito que a grande maioria daqueles que tinham em Bruno uma referência como goleiro, sabem separar o atleta do ser humano. E esse ex-goleiro nem é cria do clube, não surgiu de suas divisões de base. O Atlético Mineiro, seu ex-clube, tirou esse peso dos ombros, e se livrou das piadinhas dos cruzeirenses, fato aliás, que todo rubro-negro de verdade deveria ter como mais um motivo para hoje rejeitar a imagem desse assassino vinculada a seu clube. Por isso penso que os verdadeiros flamenguistas, como aliás, todas as pessoas de bom senso, devem se indignar com esse bando de imbecis.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Allan Sieber na revista Inked



Sempre gostei de revistas alternativas, que falam de variados assuntos, com uma linha editorial interessante, que tragam boas matérias, entrevistas com pessoas que tenham algo a dizer, etc. Tenho várias nesse estilo, algumas que duraram poucos números, que não se encontram facilmente nas bancas, que descobri em viagens, e resolvi comprar. Recentemente avistei uma nas bancas, fiquei curioso, folheei, e resolvi levar. Vi que era o primeiro número que ia às bancas, e isso reforçou minha decisão de levá-la. Gosto de iniciar uma coleção de determinada revista logo pelo primeiro número, se ela valer a pena. A revista se chama Inked. Abaixo do título vem a descrição da linha editorial adotada: Cultura, Estilo, Arte. O número um só traz matérias sobre pessoas tatuadas, aliás, supertatuadas, que falam sobre suas vidas e suas tatuagens. Não sei se a revista é especializada em tatuagens e tatuadores, ou se é somente um tema especial, que pode mudar em outras edições. A capa traz a cantora Pitty, que é destacada com uma matéria e um ensaio fotográfico, feito num hotel barato em SP. Outras matérias destacam artistas plásticos, esportistas, um chef de cozinha, um pastor de igreja e lutador de vale-tudo, um ex-jogador de futebol e ator de Hollywood (Vinnie Jones), um grupo de homens fortes e mal-encarados que defendem animais maltratados, uma stripper e pin-up americana (Dita Von Teese, a ex- do roqueiro Marilyn Manson), um grupo de uma facção criminosa fotografado num presídio, dentre outras matérias. Todos os personagens exibem enormes tatuagens pelo corpo, com excessão da stripper, cuja única tatuagem se resume a uma pintinha no rosto, que até parece de nascença. Mas a melhor matéria da revista pra mim, é uma entrevista com Allan Sieber, um cartunista e quadrinista gaúcho, atualmente radicado no Rio. Sempre gostei de seu estilo e seus personagens. Possuo algumas coisas produzidas por ele, como um fanzine com suas tiras, chamado Glória Glória Aleluia, além de coisas que ele produziu para diferentes publicações. Também assisti um curta-metragem de animação produzido por ele, cujo título me esqueci agora. A entrevista é bem interessante. Logo de cara ele critica aquele bairrismo típico do gaúcho: “O gaúcho gosta muito de ser gaúcho e quase não se sente brasileiro”. Ao mesmo tempo ele detona o carioquismo que ele encontrou no Rio: "Com o tempo, eu vi que no Rio também tem essa merda: o povo tem orgulho de ser carioca. Tem orgulho do pôr-do-sol no Arpoador e das praias e das montanhas...(faz cara de entediado). Isso me enche um pouco o saco. Mas eu gosto de morar aqui. Não que eu não vá à praia. Eu até vou, mas fico até 8h30 da manhã. Depois não dá, depois chegam, os cariocas". Atualmente está desenvolvendo um trabalho com seu pai, que também desenha. "Para falar a verdade, a gente nunca teve muito contato. Meu pai era muito, muito ligado ao meu irmão mais velho, que fugiu de casa quando tinha 15 anos, naquela onda hippie que chegou meio atrasada ao Brasil. Daí, meu pai ficou decepcionado e decidiu não investir muito no outro filho. A gente quase nem se falava quando eu era pequeno, eu só levava esporro. Então, eu não sabia muito dele. Só fui descobrir fazendo as entrevistas para o livro. Vendo hoje em dia, acho que comecei a fazer esse livro justamente para conhecer melhor o meu pai." A matéria ficou bem legal. A primeira entrevista de Allan Sieber que eu lembro de ter lido.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Betinho Assad Power Trio no Sesc Campos



O projeto 4as Blues, que acontece durante esse mês de agosto no Sesc, trouxe nessa última quarta a banda Betinho Assad Power Trio. Os dois shows anteriores foram com a Vibratto e a Blues Band Vidro, que trouxeram muitos blues e rocks. O Sesc vem se tornando nos últimos anos, um excelente parceiro para as bandas locais, com seus projetos. Em anos anteriores chegou a haver um maior investimento, já que a prefeitura entrava como parceira, e assim também eram trazidas bandas de fora, e os shows não se resumiam somente ao espaço do Sesc. Shows em praças públicas, com uma boa estrutura de palco e som aconteciam paralelamente aos shows no Sesc. Parece que a atual administração não se mostrou muito sensível a esse tipo de incentivo, pois a parceria do Sesc com nossa prefeitura não mais existe. Quando falo em administração atual, eu incluo a que foi cassada, pois a atual faz parte do mesmo grupo político. Mas voltando ao show do ontem, a banda nos trouxe um repertório voltado ao blues elétrico, como sempre foi o estilo preferido de Betinho. Mesmo não trazendo muitas novidades, dentre outras coisas, pelo pouco tempo que a banda tem para ensaiar, o trio mostrou porque é um nome já estabelecido na cena do segmento rock/blues da região. O repertório trouxe coisas de Buddy Guy, B.B. King, Stevie Ray Vaughan, e logicamente, Jimi Hendrix, entre outros. A banda, que além de Betinho, um guitarrista que já ganhou elogios de nomes como Victor Biglione, Celso Blues Boy e Greg Wilson, do Blues Etílicos, traz o baixo de Fábio “Cabelo” Neves e a bateria de Felipe Begão. Sobre a competência do trio já falei nesse espaço em postagens anteriores. O que posso dizer é que fizeram um ótimo show para o bom público que compareceu na noite fria de ontem no espaço externo do Sesc. Um dos poucos senões que se pode fazer aos shows realizados naquele espaço é o tempo restrito e rigoroso que as bandas têm que respeitar, o que acaba tornando os shows mais curtos, e deixa no público aquele sabor de “quero mais”, já que normalmente as bandas que ali se apresentam, em outros lugares tocam mais do dobro do tempo. A necessidade de se começar os shows às 20h também se torna restritivo, pois muita gente estuda à noite, e fica impossibilitada de comparecer nesse horário. Mas de qualquer forma, essas iniciativas são sempre bem-vindas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Preciosidades em vinil - Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara



Outro vinil precioso de minha coleção é Imyra, Tayra, Ipy, de Taiguara (1976). A concepção do disco começa em Londres, onde Taiguara se encontrava em 1975, e há quase um ano produzia um disco em inglês, com excessão de duas músicas: Terra das Palmeiras e Porto da Vitória. Porém, mesmo antes de concluído, e apesar de ser praticamente todo em inglês, a obra foi totalmente censurada. Tratava-se demais uma ação de perseguição e abuso por parte dos imbecis que na época da ditadura comandavam os órgãos da censura em nosso país. De volta ao Brasil, Taiguara propõe à sua gravadora, EMI-Odeon, um álbum reunindo os melhores músicos em atividade no país, e sem economia de recursos. Na época, ele havia acabado de ler Quarup, de Antônio Calado, e sob inspiração do livro, que relata costumes e tradições indígenas, concebeu a ideia de Imyra, Tayra, Ipy. Pelo Dicionário da Língua Tupi, de A .Gonçalves Dias, Imyra é árvore, madeira, pau; Tayra é filho; e Ipy, cabeça de geração, princípio, primeira origem. Seu próprio nome, também de origem tupi, e grafado originariamente Taigoara, significa forro, livre, senhor de si. O disco reunia um elenco de músicos fantásticos como: Nivaldo Ornellas (sax e flautas), Toninho Horta (violão), Jacques Morelembaun (cello), Novelli (baixo acústico), Paulinho Braga (bateria e percussão) e Mauro Senise (flautas), entre outros. Os arranjos de 6 das 14 faixas ficaram a cargo de Hermeto Pascoal, que também atuou como músico. Os demais arranjos são do próprio Taiguara. A regência foi entregue a Wagner Tiso. Com um time de estrelas como esse só poderia ser concebida uma obra-prima. A união de Taiguara, que vivia seu auge criativo, e Hermetho Pascoal, um gênio musical que sempre enxergou à frente de seu tempo, só poderia resultar em um álbum fantástico.
Todas as composições são do próprio Taiguara (que usou o pseudônimo de Chalar da Silva para tentar driblar a censura), com exceção de Três Pontas, de Milton Nascimento e Fernando Brant, do primeiro álbum de Milton, num primoroso arranjo de Hermeto. Porém, novamente os órgãos de repressão exerceriam sua perseguição ao músico, por acharem subversivas as citações de opressão aos povos indígenas , e aos ideais de liberdade que algumas das letras traziam. O disco seria recolhido das lojas 72 horas depois do lançamento, e proibido em todo território nacional. Imyra, Tayra, Ipy é hoje uma verdadeira raridade, pois jamais pôde ser relançado no Brasil, mesmo depois do fim da ditadura, já que os direitos da obra pertencem a uma editora japonesa. A obra, no formato cd, só é encontrada no Japão. É frustrante vermos que numa época em que tantos discos primorosos do passado estão sendo relançados, não podemos em nosso país vermos o lançamento oficial desse disco primoroso. O exemplar em vinil que possuo, foi um golpe de sorte. Encontrei em uma barraquinha que vende vinis, proveniente do acervo de uma rádio local. Para se saber mais sobre o disco, e participar da campanha de repatriamento da obra, há um site dedicado ao disco: www.imyra-tayra-ipy-taiguara.com

sábado, 14 de agosto de 2010

Mais um verão brasileiro para Cat Stevens


A revista Rock, A História e a Glória nº 14, de janeiro de 1976, trazia uma entrevista com Cat Stevens, que mais uma vez visitava o Brasil. Fã confesso de nosso país e de nossa música, Stevens na entrevista feita pelos jornalistas Ana Maria Bahiana e Okky de Souza, revela sua admiraçao por Gal Costa,Gilberto Gil, Caymmi e Milton Nascimento. Milton, por sinal, seria homenageado por ele na música Nascimento, de seu disco Buck To Earth, de 1978, o último que ele lançou antes de se converter ao islamismo, dar uma longa pausa em sua carreira, e adotar o nome islâmico de Yussuf Islam. Abaixo trechos da matéria:

O caso de amor entre Cat Stevens e o Brasil não é recente. Há mais de três anos ele visita o nosso país com regularidade, seja para passar férias entre a praia e os bares da moda, seja para encontrar a paz necessária ao seu trabalho. Já no ano passado, Cat alugou por três meses a casa de Odete Lara, na Joatinga, Rio de Janeiro, onde se isolou para fazer seu mais recente LP, Numbers. Em 1974, ele foi à Bahia, Manaus e Brasília durante o carnaval, acompanhado de Joni Mitchell e Leon Russel.
ROCK- Por que você sempre escolhe o Brasil para passar as férias?
CAT STEVENS- Em primeiro lugar, porque adoro o país e me sinto inteiramente à vontade aqui. Sabe, o Brasil já faz parte do meu sangue. É um lugar importante para mim. Além disso, tem a música. Esse país inteiro canta, e canta alto. Acho sensacional o movimento que os jovens estão fazendo na música brasileira. Tenho certeza que algo muito novo e importante vai surgir daí.
ROCK- E como você definiria essa nova música brasileira, que você afirma estar surgindo?
CAT- Seria uma reunião de vários elementos: o rock, que fornece a simplicidade, o jazz, que elimina as barreiras e limites e o samba, que fornece o ritmo e as raízes.
ROCK- Quais os músicos brasileiros que você mais curte?
CAT- Acima de todos, Milton Nascimento. Gosto de tudo que ele faz. O Clube da Esquina é um disco fantástico, assim como o Milagre dos Peixes ao Vivo. Adoro também o último de Gil, Refazenda. Gal Costa foi a minha primeira paixão na música brasileira, através de Índia. E tem também Dorival Caymmi, que é extrordinário.
ROCK- O que você acha dos grupos brasileiros de rock? Conhece algum?
CAT- Acho que conheço só um... Secos & Molhados, era o nome, se não me engano... e eles acabaram, não é? Eu não consigo imaginar muito um grupo brasileiro de rock, porque acho que aqui as pessoas gostam mais de cantores solo, apreciam mais a personalidade de quem compõe e canta. Ou então é a multidão cantando... mas grupos, eu acho que não têm muito a ver com o Brasil.
ROCK- Você acha que o rock está sendo enterrado vivo pelas artimanhas de empresários e promotores?
CAT- Não, a música não está sendo enterrada viva, o lado empresarial da história é que está se enterrando. Uma empresa sempre acaba por se matar. É como um monstro que come demais e depois fica doente. Mas a música é espírito, é uma flor que cresce em qualquer lugar, em qualquer rocha, em qualquer monstro. A técnica empresarial é que está ficando cada vez mais complicada e matando a si própria.
ROCK- Porque você se chama Cat? (Seu nome verdadeiro é Steve Georgiu)
CAT- Um dia alguém me chamou assim e eu gostei tanto que ficou sendo meu nome. Adoro gatos. São independentes, flexíveis, detestam obedecer, medem com cuidado cada passo. Tenho muitas afinidades com os gatos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Preciosidades em Vinil - Pessoal do Ceará



Sempre tive por hábito percorrer sebos de discos para encontrar preciosidades. Desde a época em que os discos de vinil eram o principal item de venda no mercado fonográfico eu sempre procurava por discos raros na seção de usados que algumas lojas tinham. Na época não havia tanta especulação como hoje em dia, embora em alguns sebos, certos discos serem vendidos a peso de ouro. Um disco raro e importante que encontrei ainda nos anos 80, e por um preço insignificante dado seu valor, é Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto Na Viagem, do Pessoal do Ceará, de 1973. O grupo era na verdade Ednardo, Rodger Rogério e Tetty. A gravadora Continental que se notabilizou nos anos 70 por produzir discos de artistas pouco comerciais e iniciantes bancou essa obra-prima. O Pessoal do Ceará não era um grupo, mas sim três artistas que se uniram e lançaram um disco coletivo em que mostravam seu trabalho de intérprete e composição. Dos três, Ednardo foi o que teve maior repercussão em seu trabalho, mas Rodger e a cantora Tetty também mostraram um grande talento. O disco inicia com Ingazeiras e Terral, ambas de Ednardo. Terral foi a composição mais marcante do disco, e que obteve maior repercussão, sendo a música que tornou o nome de Ednardo mais conhecido fora do nordeste. Em seguida, Cavalo Ferro, de Fagner e Ricardo Bezerra é interpretada pelo trio. Curta Metragem, excelente composição de Rodger, interpretada por Tetty vem em seguida. Falando da Vida e Dono dos Teus Olhos fecham o lado A .O lado B, assim como o lado A se inicia com duas composições de Ednardo: Palmas Pra Dar Ibope e Beira Mar. A poesia de Ednardo já era mostrada nesse primeiro trabalho. Beira Mar é um exemplo. Essa música já havia sido lançada, anos antes por Eliana Pittman, e no disco regravada pelo próprio autor com versos como “Na beira-mar/Entre luzes que lhe escondem/Só sorrisos me respondem/Que eu me perco de você/Você nem viu/A lua cheia que eu guardei/A lua cheia que esperei/Você nem viu/Você nem viu/Viva o som, velocidade/Forte, praia, minha cidade/Só o meu grito nega aos quatro ventos/A verdade que eu não quero ver...”. Duas composições de Rodger, Susto e A Mala, encerram o disco. Com excelente produção do experiente Walter Silva, o disco foi gravado nos estúdios da Continental em novembro de 1972 e lançado no ano seguinte. A resposta da crítica foi superpositiva, e anos depois se tornou um item de colecionador. Hoje deve valer uma pequena fortuna nos sebos. O disco chegou a ser relançado ainda no formato vinil no final dos anos 80, mas com capa simples, e não no formato de álbum da edição original. É um disco precioso, e um dos mais valiosos de minha coleção.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Assim Falou Marc Bolan


No dia 16 de setembro de 1977 morria Marc Bolan, vocalista da banda de glam rock, T. Rex, num acidente automobilístico. Naquele mês, o Jornal de Música anunciava a morte de Bolan de uma forma diferente. Acredito que a edição já estivesse fechada, e pronta para ir para a gráfica e ser distribuída nas bancas quando foi anunciada a morte do artista. Como na época não havia internet ou outros meios mais imediatos para se saber detalhes de uma notícia internacional, eles optaram em colocar a foto que aparece na ilustração e a data de seu nascimento e morte, dando a entender que ele havia morrido, e algumas frases dele. O ano de seu nascimento, inclusive está errado. Ele nasceu em 1947 e não 1948. Foi dessa forma que eu fiquei sabendo da morte de Marc Bolan. Abaixo algumas das frases destacadas na publicação:
“Eu sempre soube que era uma pessoa diferente. Desde que nasci. Se eu não fosse louco seria ótimo – mas sei que sou. Aliás, somos todos, mas minha loucura é muito particular.”
“Inventei um ritual que me transformaria num sátiro. Com pernas peludas, chifres e pé de bode. Mas achei que ia me atrapalhar muito a vida prática. Podiam me enfiar num zoológico, ou então me dessecar. Ou um circo me convidaria como atração principal, sei lá. Resolvi desistir. Mas tenho certeza que o feitiço funciona.”
“Foi assim que comecei. Eu ainda era Mark Feld, mas a gravadora Decca me batizou de Marc Bolan. Eu compunha umas coisinhas, mas nunca tinha cantado em público. Eu sabia dançar, rebolar, fazer caretas. Mas era uma pantomima, eu não sabia realmente tocar guitarra. Achei que as coisas se ajeitariam sozinhas. Bem, elas não se ajeitaram, mas em compensação consegui uma promoção escandalosa.”
“Eu cantava numa espécie de vibrato andrógino, suave mas sinistro, e compunha todas as músicas do T. Rex. Minha poética era uma mistura de paisagens galáticas, imagens antigas, labirintos subterrâneos, continentes perdidos, ninfas, sátiros, majestades satânicas, duendes e fadas. Eram versos bizarros, muito inteligentes e o pessoal que curtia fumo e consumia ácido foi se ligando mais e mais.”
“Quanto mais aprendo, menos interessado fico em mim mesmo, mais digno de pena me acho. Mas nos meus momentos de arrogância eu me acho maravilhoso, divino. Nesse momento só quero que todos conheçam meu trabalho. Não sei se Ray Bradbury ou Bob Dylan já ouviram falar de mim. Mas tenho certeza que no dia que me ouvirem vão gostar, vão entender meus toques.”
“Se Deus viesse à minha casa eu não ficaria espantado. Nem me sentiria humilde ou inferior. Eu apenas daria um tapinha nas Suas costas e perguntaria: Como é, meu chapa? Diga lá!”
“Quando falo em feitiços não estou brincando. Passei dois anos vivendo com um bruxo em Paris. Li pilhas de livros de feitiçaria, aprendi invocações,fórmulas mágicas e participei de cerimônias secretas. Estou preparado para desaparecer e aparecer novamente a hora que quiser.”

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Crumb e Shelton na Flip


Uma das mais esperadas atrações da Flip, a Festa Literária de Paraty, pelo menos para quem se interessa por contracultura, foi a presença dos quadrinistas americanos Robert Crumb e Gilbert Shelton. Não sabia que Shelton, criador dos Freak Brothers, viria junto de seu amigo Crumb. Porém aquela que poderia ter sido uma das mais interessantes palestras da Flip, foi considerada decepcionante. Os dois cartunistas, que são mitos, e viveram e retrataram como poucos todo o movimento contracultural americano nos anos 60 e 70, pouco falaram, em comparação ao muito que tinham a dizer, pois as histórias que presenciaram e vivenciaram são muitas. É certo que o abuso de drogas como o LSD, obstruem a mente, e muitos fatos são esquecidos, mesmo assim se esperava muito mais da reunião de dois dos maiores expoentes de uma época revolucionária no comportamento e cultura do mundo. O mediador, Sérgio D'Ávila, até que se esforçou em levantar questões relevantes, e que poderiam render respostas esclarecedoras e polêmicas, mas os dois se mostraram reticentes, o que levou parte do público presente a se retirar antes do término da entrevista. Talvez a mais marcante declaração de Crumb, foi com relação a seu país, os EUA, quando afirmou ter vergonha de ser americano, ele que mora há anos no sul da França. Shelton também pouco acrescentou à palestra, mas fez revelações sobre sua amizade com Janis Joplin, e sobre a época do flower power, mas foi pouco para quem teria muito a falar.
Crumb, um apaixonado por música, principalmente o blues, revelou sua disposição em levar alguns discos de música brasileira antiga - anos 20 e 30 principalmente.
Os dois ainda passarão alguns dias no Brasil, participarão de um encontro em São Paulo, e quem sabe não frustrem aqueles que esperam mais de suas presenças em nosso país. De qualquer forma,a presença de Crumb e Shelton por aqui é marcante por tudo que eles significam.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Herbie Hancock Entre o Funk e a Fé em Buda


Em 1976 o Jonal de Música trazia uma matéria sobre o músico Herbie Hancock, um expoente do jazz e do funk nos anos 70, quando formou a lendária banda Headhunters. A matéria, publicada originalmente na revista americana Melody Maker, fala do envolvimento do músico com o budismo, e tem por título “Herbie Hancock entre o funk e a fé em Buda”. Segue abaixo alguns trechos da matéria:
Herbie Hancock repete "nam myoho renge kioh" duas horas por dia. Uma hora de manhã e uma hora de tarde. Repetir essa frase contemplando uma escritura oriental chamada Gohonzon é uma prática comum a todos os Budistas Nochiren Shoshu. Foi o baixista Buster Williams que converteu Herbie a essa crença, mas isso não o salvou de ser demitido. Porque Herbie entoou “nam myoho renge kyoh” e dispensou a sua banda, que tinha colaborado para a sua fase de consciência africana.
E Herbie ainda está entoando “nam myohorenge kioh” numa espécie de altar ao lado de sua cama no Hotel Sheraton de Nova Iorque. O resultado desse esforço espiritual incansável foi que Herbie – como outros jazzistas religiosos – viu a luz da grana no fim de um longo túnel. Claro! O caminho é o funk. As aventuras de Herbie no mundo do soul assumiram várias formas. Já havia tentado caminhar na direção de Head Hunters com o álbum Fat Albert Rotunda, mas todo mundo riu dessa mistura de riffs de James Brown com solos de bebop. E embora Head Hunters fosse um sucesso comercial, a sua banda foi forçada a abandonar o palco do Festival de Jazz de Berlim de 1974. Seu uso de fogos de artifício, bombas de fumaça e encenações à la Earth, Wind and Fire e The Ohio Players, recebeu estrondosas vaias. Mas Herbie subiu no conceito atualmente, trabalhando com um guitarrista solo que os conhecedores de soul não ousam desprezar: Melvin Reagin, também conhecido como Wah-Wah Reagin. Wha-Wha, junto com Norman Whitfield, criou o som Tamla (exemplificado pelos Temptations e Jackson Five). Tocou junto com Berry White, Bobby Womack, Pointer Sisters, Quincy Jones, Hamilton Bohannon e muitos outros. Hancock insiste em que a sua evolução tem sido natural e lógica. Acredita que está sempre avançando mais: “Existem coisas que eu tocava antes que não se ajustariam à minha banda atual. Isso pode ser dito a respeito de tudo que fiz. Os Headhunters nunca poderiam ter tocado algumas coisas do sexteto Mwandishi (da fase africana), porque não seriam apropriadas. Temos que nos ajustar ao ambiente musical onde trabalhamos.”

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dança Espanhola Sobre a Cabeça


Meus olhos atentos observavam cada movimento da dançarina de música flamenca. Seu bailar, seus passos firmes, delicados, sensuais. Seus pés batendo no chão, acompanhando o ritmo da música envolvente. Violões, vozes, vibrações.
A dançarina de flamenco trazia a música espanhola em seus pés e mãos, num rodopio que me envolvia, paralisando meus olhos em sua direção. Seu rosto bonito, seu olhar penetrante, seu corpo esguio pareciam me chamar, me dizer algo que transcendia os limites da música e da dança. Era como um fogeira que ardia, queimava em minha volta. Trazia algo encantador, envolvente, mágico, como costumam ser as visões que acabam ganhando espaço em nossa mente, em nossos sonhos que nos visitam, e como num filme, nos faz rever imagens no pensamento. Uma beleza que se espalha em nosso mundo, e o torna mais vivo, brilhante, fascinante como sua dança.
Parecia trazer em si uma beleza híbrida - Espanha, Minas, um olhar cigano e misterioso, uma boca indefinível, um olhar que paralisa, que apaixona, que queima. Um fogo arrebatador. Uma magia. Ela dança e meu olhar acompanha, percorre com ela a madeira do tablado, como se fosse seu par nessa incansável e interminável dança que não termina quando acaba a música.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Quartas Blues no Sesc


Boa iniciativa a do Sesc-Campos de abrir um espaço para bandas do segmento rock/blues da cidade. Com apresentações durante as quartas-feiras do mês de agosto, às 20h, o evento trará as bandas Vibratto (04/08), Blues Band Vidro (11/08), Betinho Assad Power Trio (18/08) e Avyadores do Brazyl (25/08). Em outras épocas tivemos um ótimo festival de blues, que teve três edições (2001 a 2003), apresentando bandas locais e nacionais. O que poderia virar uma tradição no calendário cultural da cidade, infelizmente foi interrompido, já que era uma iniciativa da prefeitura, e cada administração age de uma forma. Soube que houve uma tentativa de se reeditar nesse ano esse festival, que aconteceria a exemplo do primeiro, em Lagoa de Cima, mas a prefeitura vetou.
Outros eventos, de menor estrutura, mas de grande importância também aconteceram na cidade, como Raízes do Blues, em 2001, que acontecia quinzenalmente às terças-feiras, no antigo bar Bicho André, que trouxe bandas como Big Head, Avyadores, Reubes Pess e outras, sempre lotando o bar. O pessoal de Ciências Humanas da UENF também organizava anualmente um grande evento no mês de novembro, sempre trazendo bandas pra tocar. Em 2001 a banda Yellow Dog fazia sua estreia nos palcos nesse evento. A banda durou até agosto do ano seguinte, quando fez seu último show no teatro do Sesc, no dia 9. Em novembro do mesmo ano, a banda já reformulada, mas mantendo a base, com o nome mudado para Black Lief, voltaria a tocar no campus da Uenf no dia 14 de novembro. Mais tarde,a banda novamente mudaria de nome e formação, e passaria a se chamar Black Dog Blues, e apesar de não andar tocando, creio que continue na ativa.
O bar Bicho André também serviu de palco para o lançamento de cds de algumas bandas de Campos, como Avyadores (Alguma Coisa Aconteceu no 401), Blues Band Vidro (Na República do Chuvisco) e Reubes Pess Band (As Cores Em Preto e Branco). Era um tempo de grande atividade e movimentação para as bandas da cidade. O dia 9 de agosto de 2002, por exemplo, além do citado show de despedida da Yellow Dog no SESC, ainda trouxe uma dobradinha no Bicho André: Terceiro Grau e Blues Band Vidro. Foram três shows numa mesma noite. Lembro que saí do SESC e fui direto pra lá. Bons tempos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mustapha Conhece o Cara


Mustapha está por dentro
Mustapha falou e disse
Mustapha, há quanto tempo...

Que que 'cê acha, Mustapha ?
Mustapha conhece o cara
Mustapha, aquele abraço

Se você visse Mustapha

Mustapha em grande estilo
Mustapha, talvez viesse...

Mustapha via satélite
Seja bem-vindo agora
Câmbio, Mustapha, câmbio

Marisa Monte/Nando Reis