Palavras Domesticadas

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sábado, 29 de janeiro de 2011

O Inimigo Público nº 1 Foi Pro Espaço


Em sua edição com data de 26 de setembro de 1979, a revista Veja trazia uma matéria sobre um famoso bandido francês, chamado Jacques Mesrine:
"Alguma notícia de Jacques Mesrine? Todas as quartas-feiras, durante a reunião do Conselho dos Ministros, no Palácio do Eliseu, em Paris, o presidente Valéry Giscard d'Estaing repete a mesma pergunta. Todas as quartas-feiras Christian Bonnet, Ministro do Interior, replica com a mesmíssima resposta: "Agora encontramos uma pista decisiva". Este diálogo é uma das coisas que mais têm divertido os franceses nos últimos quinze meses. Jacques Mesrine, 41 anos de idade, o inimigo público número1 do momento, autor de 39 crimes sangrentos, de sequestros e assaltos espetaculares, aperfeiçoou um talento especial em ridicularizar as autoridades encarregadas de sua captura. Autor de dois best-sellers escritos na tranquilidade do cárcere, ele continua, após sua última fuga no ano passado, a inundar periodicamente os jornais com suas novas aventuras, enriquecido por inúmeras considerações político-filosóficas. Sua carreira começou efetivamente aos 23 anos, em 1961, de volta da guerra da Argélia, onde fizera o serviço militar. Após alguns assaltos de segunda ordem, Mesrine desentendeu-se com um proxeneta e cometeu seu primeiro homicídio. Embarca então para o Canadá, onde se seguiram o sequestro de um industrial liberado em troca de 200.000 dólares, a fuga da penitenciária de Montreal, o assassínio de um proprietário de hotel em Québec, a morte de dois policiais e nova fuga da prisão. De volta à França, Mesrine cometeu dez assaltos em dez meses. Preso em 1973 e levado a julgamento, consegue escapar outra vez, levando como refém o presidente do Tribunal. Em 1977, enfim foi de novo preso e condenado a vinte anos de prisão pelo juiz Charles Petit, e encarcerado na prisão de La Santé, em Paris, no pavilhão especial de alta periculosidade, de onde ninguém jamais fugira. Assistido por dezesseis advogados, Mesrine esperou um ano e onze dias - então, com três pistolas misteriosamente recebidas de um cúmplice, conseguiu fugir novamente.
A essa altura ele já havia publicado o primeiro de seus dois best-sellers - "O Instinto da Morte" - em que narra todos os seus crimes detalhe por detalhe e uma espécie de panfleto contra o tratamento dos prisioneiros nos pavilhões de alta periculosidade.
Num assalto ao cassino de Deauville, Mesrine chegou até a boca do cofre apresentando-se como inspetor de Delegacia de Jogos. E numa fracassada tentativa de sequestro do juiz Charles Petit, que o condenara em 1977, conseguiu, graças a um de seus inúmeros disfarces, enganar todos os guardas gritando que o criminoso fugira pela direita. Enquanto isso ele escapava pela esquerda. Mas ele próprio tem certeza que um dia ou outro sua sorte vai acabar. Em sua "Carta Aberta à Minha Vítima", ele termina com fatalismo: "Ninguém me dará uma chance no dia em que eu for massacrado pelas balas da polícia".
Pouco mais de um mês após ler essa matéria, leio num jornal a notícia abaixo, atestando o tom profético das últimas palavras da matéria da Veja.

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