Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Preciosidades em Vinil - Tom Zé (1972)

Até os anos 80 havia em minha cidade uma pequena loja de discos, já um pouco decadente, chamada Hit Parade, que tinha em seu estoque um verdadeiro tesouro escondido. O dono, um senhor de idade, um tanto mal humorado e pouco cortês com seus fregueses já não renovava seu estoque. Em sua loja não havia lançamentos, mas seu acervo, formado por discos antigos e encalhados era de arrepiar qualquer colecionador e admirador de música, seja rock ou MPB, e o que é melhor ainda, por um preço reduzido.
Lembro que em 1981, em uma das muitas constantes visitas que costumava fazer à loja, encontrei esse disco de Tom Zé, de 1972. Na época eu não conhecia esse disco, talvez somente uma música, mas já era fã de Tom Zé. Não pensei duas vezes em levá-lo pra casa assim que o vi no meio de tantos outros Lps. Ao chegar em casa e ouvi-lo me deparei com um disco genial, com canções com a marca daquele artista que eu já admirava, mas não conhecia muito profundamente sua obra. Foi o primeiro disco de Tom Zé que ouvi de cabo a rabo, e foi uma boa experiência.
Capa interna do disco, aberta
Tom Zé continua na ativa, revigorado, criativo como sempre, se renovando e sempre atual, mas eu sinto um pouco de falta daquele Tom Zé de antigamente, menos experimentalista e mais autor de canções. E esse disco é um bom exemplo dessa fase de sua obra. O álbum traz ótimas composições, como A Babá, que traz uma letra bem interessante ( O Rockfeller acusou Branca de Neve/ Os anões se dividiram/ Três de sim e três de não/ Mas um morreu de susto...), Menina Amanhã de Manhã (que seria regravada no disco Estudando o Samba, de 76), Dor e Dor e Se o Caso é Chorar (belo samba-canção). Uma das músicas que mais me chamaram a atenção nesse disco é Senhor Cidadão. A faixa se inicia com um poema concreto de Augusto de Campos, "Cidade", recitado pelo mesmo, e em seguida Tom Zé, com participação do grupo Capote, liderado por Odair Cabeça de Poeta, inicia a música.
Quase todas as composições são de Tom Zé, algumas com parceiros como Perna (Se o Caso É Chorar, Menina Amanhã de Manhã e O Abacaxi de Irará - esta ainda com a parceria de Ribeiro) e Antonio Pádua (Happy End). A única exceção é Sonho Colorido de Um Pintor , de Talismã e B. Lobo. Nesse disco Tom Zé abriria caminho para seus dois trabalhos posteriores, Todos Os Olhos (1974) e Estudando o Samba (1976), duas outras obras-primas (o segundo, inclusive, já foi destacado nesse espaço). Para os novos fãs de Tom Zé, mais habituados com seu trabalho mais experimental e de pesquisa, é bom ouvir seus trabalhos mais antigos, como esse disco. Sempre vale a pena.

domingo, 27 de maio de 2012

Freddie King - Um Mestre da Guitarra

Chicago, nos anos 50 era a grande meca do blues. Era lá que se concentravam os grandes bluesmen, dentre eles o grande guitarrista Freddie King. Ainda jovem, Freddie já trabalhava ativamente com nomes como Muddy Waters, Willie Dixon, Memphis Slim, dentre outros. Suas primeiras gravações datam de 1956, tendo conseguido fama e reconhecimento a partir de 1960, quando seus discos começaram a fazer sucesso. Músicas como "Hideway", "You've Got To Lover Her Whith A Feling" e "Talkin' Care Of Business" tornaram o nome de Fredie King bastante conhecido nos Estados Unidos, e depois em outras partes do mundo.
Sua música e sua forma de tocar guitarra exerceram grande influência na nova geração de músicos que estava surgindo pelo mundo nos anos 60. Na Inglaterra, por exemplo, Fredie King seria uma forte influência para músicos como John Mayall, Peter Green, Mick Taylor e Eric Clapton. Aliás, Clapton uma vez declarou a respeito de Freddie, após sua morte em 76: "Ele me ensinou tudo o que precisava saber. Quando fazer um solo e quando não. Quando organizar uma apresentação e quando não. Porém o mais importante de tudo: como fazer amor com uma guitarra". A versão de Clapton para "Have You Ever Loved A Woman", de King, é um belo tributo a seu mestre.
Falando um pouco de sua vida, Freddie King nasceu no Texas, no dia 3 de setembro de 1934 em Gilmer, no Texas. Aos 6 anos já recebia as primeiras lições de música através de sua mãe e um tio, que eram músicos, daí seu talento precoce. Em 1950 parte para Chicago, onde a cena do blues era efervescente, e logo se destacou como guitarrista, e passou a tocar em várias casas de shows dedicadas ao blues. Logo começou a ser requisitado como músico de estúdio, participando de sessões de gravação de nomes como Howlin'Wolf, Muddy Waters e Little Walter. Seu toque pessoal na guitarra passou a chamar a atenção, e em 1957 era lançado seu primeiro single, "Country Boy" e "That's What You Think". Mesmo não tendo alcançado grande repercusão, esse single lhe abriu as portas para assinar com uma grande gravadora. O produtor, músico e compositor Sonny Thompson lhe ofereceu um contrato para o selo Federal, de Cincinatti. A partir daí, Freddie construiria sua história.
Freddie King tinha um enorme talento para modernizar os antigos e clássicos blues, e talvez venha daí a fascinação que exercia sobre os jovens músicos, que o tinham como referência. Como cantor sabia colocar a alma em sua voz ao interpretar seus temas. Sua música, sua guitarra e suas interpretações ainda hoje são lembrados e celebrados por músicos e amantes do blues. Freddie morreu em dezembro de 1976 por problemas cardíacos, e ainda hoje é lembrado como um dos melhores bluesmen da história.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

João Bosco Fala do Disco Galos de Briga (1976)

Em 1976 João Bosco lançava seu terceiro disco, Galos de Briga, fruto de sua produtiva parceria com Aldir Blanc. Seu disco anterior, Caça à Raposa foi um marco em sua carreira, e fez muito sucesso na época. Por isso mesmo era grande a expectativa para seu novo disco. Novamente a dupla João e Aldir produziram grandes músicas, e assim mais um disco marcante e fundamental era lançado. Além disso, representou mais um sucesso de execução nas rádios e vendou bastante, numa época em que a música de boa qualidade atingia bons índices de vendagem, coisa cada vez mais rara hoje em dia.
Na época, o Jornal de Música nº 23, de setembro de 76, trazia uma boa matéria com João Bosco, assinada por Liana Fortes, falando de Galos de Briga. Nela João fala não só do novo disco, como um pouco de sua vida, de sua parceria com Aldir e de seus planos. Em certo trecho João diz: "O sucesso é muito fácil de fazer, porque é fácil saber o que o rádio quer tocar e a massa gosta de consumir, mas não é esse o nosso caso. O que eu acho maravilhoso é a gente gostar de uma coisa e as pessoas também." Abaixo, alguns trechos da matéria:
"A sinuca, o futebol, o botequim do Estácio e de Minas, a convivência diária em 5 longos e trabalhosos anos de carreira; esta é a história dos galos de briga, de João Bosco e Aldir Blanc, contada por eles mesmos, entre outras coisas, no seu último disco. Um disco popular em todos os sentidos no jeito, nos temas, no sabor e nas vendagens. Fruto de uma geração de compositores eternamente 'nova' e eternamente rotulada de 'difícil', 'maldita' e 'inacessível'. João Bosco foi um dos primeiros a derrubar esses (pre)conceitos. Seus discos vendem, suas músicas tocam no rádio, são cantadas e conhecidas. E João não se furta ao trabalho, seja em palco, tv ou palanque do interior. Galos de Briga: o nome de um disco, uma proposta, uma atitude de vida.
- É difícil falar sobre esse disco, porque ele é muito fácil, muito direto, não tem o que raciocinar em cima dele: Galos de Briga é aquilo e acabou. Ele conta tudo. Eu particularmente, a minha vida em Minas, o crooner, o garoto que canta no conjunto vocal, que gosta de bolero, que de repente tem um grupo de rock, vai para Ouro Preto e transa a cidade pelo lado fantástico dela. É o sonho do músico e do compositor. São os recortes da cantora por quem ele tem paixão, a vinda para a cidade grande, as desilusões, as surpresas, o outro lado da moeda, a consciência maior do dia-a-dia e a necessidade de uma maior sinceridade. É isso, quer dizer, é tudo isso. É o vivendo e aprendendo, são os olhos sensíveis do músico, não do economista, do engenheiro ou do médico. É a fotografia, a sensibilidade mesmo, o amadurecimento de tudo.
- Acredito que as coisas vão acontecendo de repente, que as pessoas vão gostando do que fazemos e nós vamos sendo reconhecidos porque o nosso trabalho está muito ligado às coisas delas. Não é o sucesso, é o contrário, é o sufoco mesmo, é a vontade de cantar e de falar. Só que de repente isso não foi possível de acontecer a nível popular, porque a cada dia as pessoas têm mais medo, não têm defesa, cada vez sabem menos o que está acontecendo. Aí você vem e começa a cantar umas coisas que elas gostariam de dizer e cantar. A razão do sucesso, então, não é bem ele mesmo. Talvez a razão dele seja o fracasso de todo mundo."

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Batman, O Cavaleiro das Trevas - A Revolução em Quadrinhos

Durante muitos anos os quadrinhos não eram considerados como arte. Apesar de ter como ilustradores de HQs verdadeiros e talentosos artistas gráficos, os quadrinhos, talvez por serem destinados ao entretenimento para o público infanto-juvenil, com histórias com enredos sem grandes aprofundamentos, não recebiam a devida atenção. Esse panorama mudou com o surgimento de ilustradores que extrapolaram o universo dos quadrinhos, e passaram a dominar outros campos, como a publicidade, e até as artes plásticas, principalmente a partir dos anos 60, com o advento da pop art. Mas os quadrinhos passaram a receber uma maior atenção a partir dos anos 80, com a retomada de personagens clássicos de HQs, que passaram a ganhar um novo perfil a partir de roteiros mais elaborados, e uma arte gráfica mais requintada. E essa retomada pode ser bem exemplificada na série em quatro episódios de Batman- O Cavaleiro das Trevas, que consagrou e impulsionou a carreira de Frank Miller como desenhista e roteirista.
A série foi lançada originalmente em março de 1986 nos Estados Unidos, quando foi lançado o primeiro número das quatro edições, que revolucionaria a narrativa, o formato, a edição e a comercialização das histórias em quadrinhos. A história se passava num mundo futuro, em que a sociedade americana se tornara politicamente correta de forma exagerada, e os super-heróis passaram a ser banidos e rejeitados. Batman era apenas uma distante lembrança numa Gothan City dominada pelo crime. Nessa atmosfera de violência, Bruce Wayne resolve reviver sua identidade secreta de Batman, que já era um personagem aposentado e esquecido, e resolve enfrentar os novos vilões sociais, bem diferentes dos seus antigos arquiinimigos.
O roteiro, escrito pelo próprio Frank Miller, trazia um clima gótico e sombrio, dando um caráter mais adulto e humano ao personagem, com atitudes vingativas e até assustadoras. O trabalho gráfico desenvolvido por Miller era ousado, revelando uma nova direção para os quadrinhos, que passariam a partir dali a expandir seu público-alvo, deixando de ser direcionado ao infanto-juvenil para o adulto.
A série seria lançada no Brasil em 1987, e com seu sucesso e repercussão, outros lançamentos com características mais ousadas do ponto de vista gráfico e de roteiro surgiriam não só no universo dos super-herois, como do cotidiano das metrópoles. As Graphic Novels ganhariam um grande impulso, e várias séries passariam a ser lançadas. Nos anos 90 era comum encontrarmos nas bancas várias edições de quadrinhos americanos e europeus, e algumas revistas marcantes como Animal eram encontradas. Mas não se pode esquecer que a série Batman - O Cavaleiro da Trevas, de Frank Miller, com sua ousadia, e proposta de renovação na linguagem das HQs, representou um passo decisivo naquele panorama renovador das histórias em quadrinhos em todo o mundo.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Van Morrison

Van Morrison é um músico que nunca desfrutou de grande popularidade, nem foi um campeão de vendagens, mas é um artista de grande prestígio, e reconhecido por seu talento e inventividade. Irlandês, de Belfast, Morrison viveu cercado por música desde de criança - seu pai era um grande colecionador de discos de jazz e blues. Por isso mesmo, se iniciou na música mesmo antes de entrar na adolescência, quando já participava de um grupo de rhythm & blues e soul.
Morrison, por começar na música cedo, logo ganhou experiência de palco, e se aprimorou na gaita e no sax, e ao participar do grupo Them, se tornou a figura central da banda, e seu talento de compositor se revelaria na música Gloria, que se tornou sucesso, e logo se converteria em um clássico do rock dos anos 60. Sua participação no Them durou até começarem os primeiros conflitos entre Morrison e os demais integrantes, pois ele não concordava com o direcionamento da banda para uma linha mais pop e comercial. Morrison partiria então para uma carreira-solo, e seu cartão de visitas seria sua excelente versão para It's All Over Now, Baby Blue, de Bob Dylan.
Seu primeiro álbum, Blowin' You Mind foi lançado em 67, e reunia uma série de compactos que ele havia gravado em Nova York. Mas sua grande obra-prima, que se tornaria um dos discos mais importantes da década de 60, foi gravado no ano seguinte, Astral Weeks. Esse álbum não trazia nenhuma música candidata a hit, mas revelava uma extraordinária e criativa fusão de jazz, soul e rock, e serviria para tornar Van Morrison um nome respeitado no panorama do rock.
O prestígio conquistado com Astral Weeks fez com que seus álbuns seguintes fossem cercados de grande expectativa, e Morrison não decepcionou. Moondance (1970) trazia dois sucessos radiofônicos, Into The Mystic e Come Running, e confirmaria o talento de Morrison como músico e compositor. Seus álbuns dos anos 70 seriam todos reconhecidos e aclamados pela crítica, e Morrison sempre criativo, adotaria sonoridades pouco exploradas, buscando em suas raízes irlandesas e na música celta, dentre outras influências e pesquisas, o rumo de sua obra.
Seu trabalho atravessou décadas, e ainda hoje sua música traz uma vitalidade e criatividade que poucos músicos conseguem manter ao longo dos anos. O segredo de sua inventividade talvez seja por saber dosar o intimismo com a exuberância de grandes formações nos palcos por onde se apresenta, sem cometer excessos ou se deixar levar pelas leis do mercado. A verdade é que Van Morrison merece ser ouvido e apreciado com mais atenção pelas novas gerações, pelo grande músico que é.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Som Imaginário de Peito Nu

O Som Imaginário é uma banda lendária. Formada para acompanhar Milton Nascimento, o grupo trazia músicos do mais alto quilate em sua formação. Tendo como principal componente Wagner Tiso, que além de aranjador tocava piano e teclados, o Som Imaginário, em suas várias formações trazia Luiz Alves no baixo, Frederiko (ou Fredera), na guitarra, Roberinho Silva na bateria, Tavito, na guitarra, Zé Rodrix, nos teclados e flautas, Nivaldo Ornelas, no sax e flautas, Jamil Joanes, baixo, Paulinho Braga, bateria além de Toninho Horta, que participou de uma das formações, em 76, como se pode ver na foto abaixo.
Em setembro de 76 o Jornal de Música trazia uma excelente matéria com a banda, assinada pela jornalista Ana Maria Bahiana. Na extensa matéria, a história do Som Imaginário era contada, com depoimentos de vários de seus componentes, e falava da importância da banda na carreira de Milton Nascimento, e no trabalho deles, desvinculado da careira de Milton. Na época o Som Imaginário tinha seis anos de criação e várias formações, e já havia lançado seus três fundamentais discos, além da participação em álbuns de Milton Nascimento como seu grupo de apoio. eis alguns trechos da longa matéria:
"Um conjunto? Nem tanto. Antes um celeiro de músicos notáveis, um foco de talentos, uma escola de instrumentistas, um liceu de artes & ofícios, uma academia de danças e manhas. Ainda hoje, após seis anos de lutas em comum, caminhos e desvios, seus integrantes têm dificuldade em se situarem como grupo: 'Está tudo meio vago, não é? Tudo meio parado, agora, por problemas de viagem', como o sax/flautista Nivaldo Ornelas confessou a Liana Fortes: 'o Paulinho vai para os Estados Unidos, o Wagner está vai não vai, então o Som Imaginário vai retornar só no ano que vem, eu acho."
Wagner Tiso - teclados, arranjos, muitas ideias mu8sicais - é o esteio, o sobrevivente, mas ele mesmo disse: 'O que nos falta é a continuidade, que se torna muito difícil nas nossas condições. Mas quando parece que tudo está parado, eu acordo enfezado, ligo o fone pra todo mundo e a gente recomeça.'
No começo havia um vendedor de sapatos chamado José Mynssen. 'A gente ia muito ao Sachinha's e ele também. Ele conversava muito com a gente, aparecia por lá com uns sapatos pra vender. Ele sempre dizia pra gente que queria fazer um show. 'A gente, pela narrativa de Wagner, era ele mais Luiz Alves (baixista) e Robertinho. Wagner teria sugerido um show com Milton Nascimento e, da reunião acidental em estúdio (onde o trio gravara a trilha do filme Os Deuses e os Mortos) com Zé Rodrix ('que começou a dar umas canjas numas flautas, nuns ritmos') e o percussionista Laudir de Oliveira surgiu a banda para o show.
Zé Rodrix tem uma versão diferente do nascimento do Som: 'A célula básica do Som saiu da cabeça de um cara chamado José Mynssen. Ele foi produzir um show pro Milton e nessa época a gente era muito amigo. E o Som começou comigo e o Tavito, nós dois estávamos morando juntos. Aí nós saímos lá pelo Leme e buscamos o Wagner, o Luiz e o Robertinho, que tocavam juntos na época. Ficou faltando um percussionista e nós pegamos o Laudir, que estava num período de férias. Ele tinha vindo dos EUA e ia voltar pra lá pra tocar novamente com o Sérgio Mendes, mas resolveu trabalhar com a gente. Então o Som foi feito assim.
Em uma coisa todos concordam: que a estreia foi na sexta-feira santa de 1970. E todos se lembram bem: eram jovens, livres, inflamados e adoraram estar ali no palco tocando sem camisa. 'Todo mundo gostou', Wagner recorda: 'Éramos todos muito jovens, todos tocando sem camisa.' E Zé Rodrix acrescenta: 'Nós fomos o primeiro grupo a tocar de peito nu neste país.'

domingo, 20 de maio de 2012

Jefferson Airplane - O Grande Voo Psicodélico

Ao se falar em rock psicodélico ou acid rock dos anos 60, as duas principais bandas que vêm a mente são o Grateful Dead e o Jefferson Airplane. Essas duas bandas se destacaram por trazerem ótimos músicos e composições inspiradas. O Jefferson Airplane trazia uma combinação de talentos individuais, como Martin Balin, guitarrista e compositor e Grace Slick, uma das figuras femininas mais importantes do rock, filha de um banqueiro, ex-modelo, culta e de forte personalidade.
A banda, que se formou em 1965, logo ganharia fama por seus shows em San Francisco, onde o psicodelismo se disseminou. Seu primeiro disco, Takes Off, de 1966, obteve um relativo sucesso, e o nome do grupo passava a ser conhecido fora das fronteiras da Califórnia. Grace Slick, que substituiu a primeira vocalista, Signe Anderson, deu uma nova personalidade à banda, pois além de excelente vocalista, era ótima compositora. Dois dos grandes sucessos da banda, White Rabbit e Somebody To Love, são provas do enorme talento de Grace. White Rabbit trazia uma criativa combinação do universo surrealista de Lewis Carroll com a visão alucinógena de Thimoty Leary, o papa do LSD, na época, a droga da moda. O segundo álbum do Jefferson Airplane, Surrealist Pilow, de 1967, que trazia essa música, foi o grande empurrão que a banda necessitava para o sucesso.
O convite para participar do Monterey Pop Festival, em 1967, foi o grande reconhecimento para o trabalho da banda, que naquele ano lançava seu terceiro álbum, After Bathing At Baxters. A banda já alcançava grande sucesso, e a figura carismática e a força interpretativa de Grace cada vez mais firmava o nome do Jefferson Airplane no rico cenário do rock nos anos 60. A participação no festival de Woodstock foi outro ponto alto na carreira da banda, quando fez um ótimo show.
O declínio da banda teria início no festival de Altamomt, famoso por ter havido um assassinato de uma pessoa da plateia, no show dos Rolling Stones, por parte de um grupo de Hell's Angels, contratados para fazer a segurança do festival. Marty Balin, líder da banda também teria sido agredido, e isso acabou marcando o processo de desintegração do grupo. Nasceria dessa dessa separação a banda Hot Tuna.
Paul Kantner, guitarrista da banda tentaria dar continuidade ao Jefferson Airplane, mudando o rumo temático da banda. Fanático por histórias de ficção científica, Paul substituiria as músicas de protesto que se identificavam com o trauma da guerra do Vietnã, por canções falando de naves espaciais e vidas em outros planetas. Essa mudança não deu muito certo, e a banda não conseguiria repetir o mesmo sucesso de seus trabalhos anteriores. A banda adotaria mais tarde vários nomes, como Starship, Jefferson Starship, Starship Jefferson, KBC Band mas já não era a mesma coisa. Na verdade, o que ficou marcado para sempre na história do rock, foi o Jefferson Airplane, a grande banda psicodélica e sua vocalista Grace Slik.

sábado, 19 de maio de 2012

Surrealismo - A Arte Libertária

O Surrealismo é um estilo de arte caracterizado principalmente por desprezar a lógica e ativar a imaginação e o inconsciente. O sonho e o irracional trabalham lado a lado, por isso mesmo o Surrealismo frequentemente é associado à psicanálise. O poeta Alexei Bueno, em artigo intitulado "Todos devemos algo ao surrealismo" diz:
"Não há nenhum artista ou escritor caminhando sob o sol que não deva algo ao surrealismo, ainda que da maneira mais imperceptível. Os movimentos, como os povos, extinguem-se para sobreviver, para não se tornar fósseis. É o eterno devir, que vale tanto para as artes como, para os movimentos."Abaixo, alguns dos principais representantes do movimento:
Salvador Dali: O nome mais popular do surrealismo e quase seu sinônimo. Foi pintor, poeta, cineasta, escritor e crítico de arte. Entrou no movimento em 1922 e logo se destacou. Inventou o método crítico-paranoico. Utilizou, em sua pintura, técnicas acadêmicas para exprimir suas obsessões. A mais famosa delas, os relógios derretidos, tornou-se uma das imagens mais fortes do séc.XX.
André Breton: Poeta e ensaísta francês, fundador e principal teórico do surrealismo, autor do primeiro manifesto, em 1924, e editor da publicação "Revolução surrealista". Praticou a "escrita automática" e realizou assemblages surrealistas com objetos, chamadas por ele de "poemas-objetos". Personalidade carismática, foi o líder ortodoxo do movimento.
René Magritte: É um pintor de cenas sofisticadas e intelectualizadas, unindo palavras e representações estranhas a um insólito uso de objetos corriqueiros, dando-lhes um toque de absurdo, magia, humor e inquietação. Entrou no movimento em 1925 e foi um dos seus mais destacados criadores de imagens, influenciando muito a publicidade e, até mesmo a pop art e a arte conceitual. O filósofo francês Michel Foucalt escreveu sobre ele um inventivo ensaio.
Man Ray: Pintor, inventor de "objetos" e fotógrafo, foi precursor do Dada e do surrealismo nos Estados Unidos, com Picabia e Duchamp, durante a Primeira Guerra. Em 1921, estimulado por Duchamp, mudou-se para Paris, onde tornou-se fotógrafo de moda e retratista da elite intelectual. Juntou-se ao grupo surrealista em 1924 e participou, nos anos seguintes, de várias exposições internacionais, experimentando variadas formas de de expressão: pintura, escultura, fotografia e filmes.
Tristan Tzara: Poeta romeno, foi um dos fundadores, em 1916, em Zurique, do Dada, movimento de vanguarda mais radical surgido no séc. XX. Três anos depois, em Paris, aproximou-se dos poetas da revista "Littérature", os criadores do surrealismo: André Breton e Louis Aragon. Mas só nos anos 30 aderiu ao movimento. Integrou com Paul Eluard e Aragon o Partido Comunista e participou da Resistência Francesa duarante a Segunda Guerra.
Luis Buñuel: Juntou-se aos surrealistas em 1928 e dirigiu no mesmo ano o primeiro filme usando sua estética, "O cão andaluz". Foi o cineasta por excelência do surrealismo, mesmo filmando películas "realistas" no México, onde exilou-se. Autor de clássicos como "A bela da tarde", "O discreto charme da burguesia" e "Os esquecidos", fustigou a igreja, as convenções morais e a piedade burguesa, que satirizou em cenas memoráveis.
Marcel Duchamp: Como Picasso, é uma personalidade artística tão forte que o surrealismo pode lhe agradecer a participação em suas fileiras. Pintor cubo-futurista no início, largou a pintura, criando obras enigmáticas, como o "Grande vidro" e "Étant donnés". Foi amante da escultora brasileira Maria Martins. Inventor das instatlações em 1938, tornou-se, nos anos 60, o arista mais influente do século XX, inspirador da pop art e da arte conceitual.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Poesia Concreta: A Genialidade Sobrevive

A poesia concreta sempre me fascinou, antes mesmo de admirar a poesia convencional. Aquela linguagem cifrada, seus significados nem sempre identificáveis e visíveis a uma primeira vista instigavam minha curiosidade e me fazia raciocinar. Nada melhor para um adolescente. Como toda manifestação de vanguarda, as críticas, incompreensão e até ridicularização ainda são constantes. Mas a verdade é que o concretismo sobrevive e ainda fascina novas gerações de poetas leitores e admiradores.
Os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, a santíssima trindade do concretismo, enfrentaram essas críticas, e ao contrário de se abalarem, continuaram a produzir sua arte, e enriquecer a cultura brasileira. Costumo dizer que um dos orgulhos que carrego em ser brasileiro, é saber que esse movimento nasceu em nosso país, e é reconhecido mundo afora por aqueles cujas mentes não se estreitam, como muitos que não admitem e aceitam novos conceitos e propostas.
Por ocasião dos 40 anos do lançamento do concretismo, em 2006, os críticos literários Elizabeth Orsini e Paulo Roberto Pires escreveram:
"Eles já foram xingados por fazer o 'rock'n roll da poesia', acusados de matar a inspiração, de serem 'débeis mentais' e muita gente boa chegou até a negar que eles fossem poetas. Em dezembro de 1956, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari eram os enfant terribles que na 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, inaugurada em São Paulo, criaram o que seria o equivalente literário daquela tendência das artes plásticas. No lugar de metáforas e da inspiração do poeta, buscavam formas que tivessem tanta força expressiva quanto as palavras sem a distinção entre conteúdo e expressão."
A mesma matéria, publicada em O Globo em 08/12/96 trazia um texto do poeta Carlito Azevedo, com o título "Evoé Noigandres!". Para quem não sabe, Noigandres era o nome do agrupamento dos concretistas e de uma revista publicada por eles na década de 50. Eis o texto:
"Num dia em que se encontrava superiormente apto para perceber verdades raras e óbvias, La Rochefoucauld anotou em seu caderno de máximas e reflexões que 'as polêmicas não durariam tanto se apenas um dos lados tivesse razão'.
Se a poesia concreta fosse apenas o que seus detratores tentam fazer parecer, certamente não estaríamos aqui discutindo sua presença quadrigenária na literatura brasileira. Por outro lado, o processo de hierarquização de poetas, realizado pelo movimento concreto, a partir das categorias poundianas de 'inventores', 'mestres' e diluidores', contribuiu para uma série de exclusões problemáticas. Mas se até Mário de Andrade escreveu que 'é preciso evitar Mallarmé', por que não 'é preciso evitar Mário de Andrade'?
O mais importante, entretanto, é notar que a parte da mais interessante parcela da produção artística contemporânea descende direta ou indiretamente do grupo Noigandres. A poesia de Arnaldo Antunes ou de Antonio Cícero, a música de Caetano Veloso ou Adriana Calcanhoto, o cinema de Júlio Bressane, o teatro de Gerald Thomas etc, tudo isso traz bem legível e ao mesmo tempo bem temperado, com outros molhos, o lema do rigor e da criação experimental.
A poesia de Ana Cristina César, Eudoro Augusto e Chico Alvim, que nada devia, e até se contrapunha ao concretismo, é a outra parcela da produção contemporânea que hoje importa, descendendo de Drummond e Bandeira. A convivência pacífica e enriquecedora entre essas duas principais famílias de criadores é a melhor herança que qualquer novo poeta pode desejar. Evoé Noigandres!"