Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

domingo, 30 de maio de 2010

Banda Vibratto no Lord Pub


Ontem mais uma vez a banda Vibratto, especializada em classic rocks anos 60 e 70 fez um show no Lord Pub. Na ativa desde 2008, a banda já cativou um público fiel, amante do gênero. A formação atual vem um pouco modificada, pela ausência da guitarra de Israel Esquef, afastado momentaneamente para prosseguir seus estudos na Alemanha. Para suprir sua ausência a banda trouxe como convidado especial Sérgio Máximo, baixista da Black Dog Blues, tendo por isso o baixista Rafael Caetano se deslocado para a guitarra, função que exerce muito bem. O restante da formação é a mesma: Thiago Azevedo (vocais), Felipe Machia (guitarra) e Darío Bujan (bateria). A banda tocou por duas horas e meia, ininterruptamente, e como de hábito, trouxe algumas novidades em seu repertório. Abriram com o clássico I Can't Explain, do The Who, que é sempre tocada em seus shows. Entre as novidades, uma do repertório da banda Blind Faith – Presence of Lord – composição de Eric Clapton, que tem uma levada mais cadenciada, e caiu muito bem na interpretação de Thiago. Os Rolling Stones, uma das bandas mais interpretadas pela banda, foi representada por várias músicas, como Bitch (outra novidade),Under My Thumb, Honky Tonk Women, Jumpin Jack Flash e Brown Sugar. Os Beatles, como não poderia deixar de ser, também marcaram presença no repertório, com Come Toghether e Day Tripper, numa levada diferente, e já conhecida de quem conhece bem a banda. Outra novidade foi Are You Ready, faixa de abertura do primeiro álbum do Grand Funk, que também caiu muito bem no repertório da Vibratto. No Matter What, da Badfinger (que por sinal, tive a honra de tê-la dedicada a mim) é mais outra recém incorporada ao set-list da banda, e traz para o público o maior sucesso de um grupo pouco conhecido hoje em dia, mas que tinha um excelente trabalho. Hendrix foi representado por Hey Joe, numa excelente interpretação, quando Rafael realizou um solo espetacular, demonstrando que também sabe dominar a guitarra. Israel pode ficar tranquilo que seu lugar na banda está garantido quando ele regressar, mas Rafael tem demonstrado ser um ótimo substituto. Aliás, a Vibratto traz grandes músicos. Felipe, mesmo com pouco tempo para ensaiar, é um guitarrista de excelente técnica, tanto na base como nos solos, e isso é demonstrado a cada show. Sérgio Máximo é outro excelente músico de blues rock , um baixista seguro que se encaixou perfeitamente no estilo da Vibratto. Darío Bujan é um baterista com ótima pegada e muita energia pra segurar duas horas e meia de pancada atrás da batera. Thiago é um vocalista versátil, e sempre cuidadoso nas letras, nas interpretações e na pronúncia em inglês. Ele dá uma personalidade à banda, e já mostrou que pode se adaptar bem a outros estilos, como o projeto paralelo de tributo aos Mutantes, junto com a Betinho Assad Power Trio. Outra surpresa da noite foi Thank You, do Led Zeppelin, tocada em formato de trio, com Rafael trocando a guitarra pelo violão e Felipe na guitarra acompanhando Thiago. Muitos outros clássicos foram apresentados, como You Really Got Me, dos Kinks, Proud Mary, do Creedence, Remedy, do Black Crowes, All Allong The Watchtower de Dylan, no arranjo de Hendrix e tantos outros, do Doors, Free, ZZ Top e Deep Purple. Outra novidade foi a apresentação de duas músicas próprias, mostrando que também sabem compor, e bem. O que posso dizer é que foi uma excelente apresentação. Parabéns à toda banda.

sábado, 29 de maio de 2010

Robert Crumb na Flip


Uma boa notícia é a presença de um dos maiores expoentes da contracultura americana na próxima feira literária de Paraty. O desenhista e ilustrador Robert Crumb parece ser presença certa, e isso é ótimo para todos os fãs dessa figura lendária dos quadrinhos underground, e de tudo que ele representa, como um dos expoentes do movimento contracultural dos anos 60. De personalidade um tanto reclusa, é até uma surpresa a vinda dele na Flip.
Dono de um traço marcante, Crumb publicava revistas independentes, como Zap!, que circulava de mão em mão principalmente nas comunidades hippies e entre os amantes de uma cultura underground, no auge do movimento flower power. Criou personagens marcantes, como Mr Natural, Angel Foot e Fritz, The Cat. Fritz, por sinal, seu personagem de maior sucesso, acabou virando filme de animação, que por seu caráter libertino foi proibido em várias salas de cinema americanas. Aliás, quando foi lançado em fita vhs, nos anos 90, ficava na prateleira dos filmes eróticos.
Por sua identificação com a cena contracultural americana, era natural sua aproximação com algumas bandas de rock da época, e naturalmente era constantemente convidado para ilustrar capas de discos. Nessa área, a mais notável é a capa de Chipp Trills, disco que lançou Janis Joplin, ainda como vocalista da banda Big Brother & The Holding Company. Com a ascenção de Janis, após sua participação nos festivais Monterey Pop e Woodstock, o disco cresceu nas vendagens, e ao ser procurado para receber os direitos por sua ilustração, Crumb se negou a receber um polpudo cheque, alegando que fizera a ilustração sem intenções comerciais, fato que ajudou a criar uma lenda em torno de sua figura.
Crumb influenciou toda uma geração de quadrinhistas no mundo todo, sendo que no Brasil, seu discípulo mais próximo e confesso é Angeli.
No Brasil, o nome de Robert Crumb passou a ser mais conhecido a partir dos anos 90, quando ocorreu um boom no lançamento revistas da linha underground, como Nocaute, Porrada! e As Aventuras de Robert Crumb, que sempre traziam matérias e histórias produzidas por ele. Também foram lançados quadrinhos de Crumb em formato de livro, não só dele como de outros desenhistas da mesma linha, como os Freak Brothers, criação do desenhista Gilbert Shelton. Existe ainda um ótimo documentário sobre a vida de Crumb, que pode ser encontrado para baixar em algum bom site ou blog de download de filmes e documentários.
A presença de Robert Crumb no Brasil, uma lenda viva da contracultura, irá com certeza agitar seus inúmeros fãs.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Credor ou devedor?


Em entrevista publicada na última edição da revista Rolling Stone, Tom Zé ao ser questionado sobre se entraria na Justiça para pedir indenização por ter sido preso na época da ditadura, fez uma revelação no mínimo curiosa, aliás, bem a seu feitio. Eis o trecho da entrevista:
Rolling Stone: O Ministério dos Direitos Humanos está pagando indenizações às pessoas que foram presas na época da ditadura. Você já pensou em pedir uma indenização?
Tom Zé: Eu já sou indenizado. A primeira indenização que eu recebi foi poder ter cursado música com o dinheiro de um país pobre. Minha universidade não foi paga e era uma universidade muito sofisticada. Na ditadura eu ganhava do Partido Comunista para ser diretor de música do CPC (Centro Popular de Cultura). Em abril de 1964, é claro que o CPC caiu. Daí eu comentei na escola que ia ter que largar os estudos e voltar para Irará. O diretor me ofereceu a bolsa. Tive direito a uma escola pública maravilhosa. Fui preso em 1978, mas não é o caso de me indenizar, porque eu ainda estou devendo. Na conta corrente da ética que eu pratico não tenho saldo credor, eu tenho é saldo devedor.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Novos Baianos - primeiro show, primeiro disco


Existem datas que ficam marcadas em nossas vidas, por conta de algum fato que acaba ganhando uma dimensão especial. Dentre essas datas, uma já bastante longínqua faz parte dessa galeria: 01/11/73. Nesse dia, eu pela primeira vez assistia a um show musical – justamente da banda que eu mais admirava na época: os Novos Baianos. Na época os Novos Baianos estavam em sua melhor fase, e vinham de um grande sucesso como os discos Acabou Chorare e Novos Baianos FC. O ginásio do Automóvel Club, onde o show se realizou, estava lotado, e hoje é engraçado lembrar das cadeiras metálicas metodicamente enfileiradas, uma prática já abolida hoje em dia em shows de rock em ginásios esportivos. Foi um show inesquecível, principalmente para um adolescente como eu, que assistia pela primeira vez a um espetáculo de muito som, justamente da banda que eu mais cultuava na época.
Quase dois meses depois, mas ainda sob o impacto daquele show, minha futura coleção de discos se iniciaria também pelos Novos Baianos, através de seu segundo lp: Acabou Chorare, que ganhei no Natal daquele ano.
O disco da gravadora Som Livre trazia na capa uma foto de objetos como pratos, canecas, copos, um bule e uma embalagem de Toddy, dando ideia de uma refeição matinal, provavelmente representando a vida em comunidade, vivida por eles. Ao ser relançado mais tarde ainda na versão vinil, e também em cd mais tarde, foi usada como capa uma das fotos do encarte, onde aparece a banda. A capa original com certeza foi considerada pouco comercial para vender o produto, pois não trazia nenhuma foto da banda, e só aparece na primeira versão em vinil. Há ainda na versão original um texto do poeta Augusto de Campos. Acho que foi o primeiro texto de Augusto que eu li, e ele depois seria um de meus poetas favoritos, quando eu passei a me interessar pelo movimento concretista.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Na companhia dos vinis


O mercado de música mudou radicalmente nessa primeira década do séc. XXI. Para se adequar aos avanços tecnológicos, que cada vez mais vem tornando o disco em seu aspecto físico (aquele que a gente segura, manipula)algo obsoleto. Aliás, a própria palavra "disco" hoje traz em seu conceito uma ideia um tanto saudosista.
Quando, no final da década de 80, o cd começou a ganhar espaço nas prateleiras das lojas, era algo ainda distante do consumidor comum,de classe média. A partir da metade dos anos 90, esse formato foi ganhando cada vez mais espaço, e consequentemente, os discos de vinil foram desaparecendo do mercado, e os lançamentos, que até então vinham nos dois formatos,passaram a vir só em cd. Para ser mais preciso, um terceiro formato, que era a fita k-7, também foi abolido.
Lembro de quando um amigo, também colecionador de vinis, me falou que os lps seriam brevemente abolidos do mercado, eu contestei, mais como um instinto de defesa de um amante dos vinis, do que propriamente de alguém que observava as mudanças que aconteciam.
Eu vi na época em que o cd entrou no mercado, pessoas se desfazendo de seus lps, os achando defasados, e com qualidade inferior de áudio. Até o fator espaço era argumentado para se realizar essa troca radical, pelo fato dos cds serem muito mais fáceis de se armazenar. Isso foi algo que nunca, em nenhum momento passou por minha cabeça, pois naqueles bolachões estava um pouco de minha história, dos cinemas que deixei de ir para economizar, dos momentos de alegria que tive ao encontrar determinado disco, das audições emocionadas que fiz de vários daqueles álbuns, do tempo que levava observando as artes da capas e lendo os encartes.
Li recentemente uma entrevista de Moby, músico moderno, que surgiu em plena era dos arquivos multimídia e todas as adaptações do mercado. Em um trecho da entrevista, lhe é perguntado:
- O fato de as pessoas ligarem cada vez menos para o conceito de álbum completo o aborrece?
- Sim, porque quando eu estava crescendo, os discos eram meus melhores amigos. Eu voltava da escola e todos os dias ficava pensando que disco ia escutar. Sentava, colocava o vinil e ficava olhando a arte, lendo cada linha. O álbum é uma forma de entrar no mundo de outra pessoa por mais ou menos uma hora. Entendo que o mundo da música mudou, mas eu ainda tento fazer discos completos, esperando que alguém vá escutá-los.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

É Uma Parada!


Estava lendo a revista Bilboard, que apresenta uma parada de sucessos, nacional e internacional, baseada em pesquisas, hoje cada vez mais precisas. Os avanços tecnológicos hoje permitem uma maior precisão nos níveis de execução e vendagens. Em um número anterior li uma matéria sobre os grandes vendedores de discos da década - pesquisa feita entre 1999 e 2009. A banda que mais vendeu na década é um conhecido fenômeno de vendas e qualidade, por sinal algo raro no mundo da música. O álbum mais vendido na década foi 1, uma coletânea dos Beatles. Sim, eles mesmos.
Porém, o panorama não é dos melhores. Olhando a listagem nacional, dá vontade de chorar, de tanta coisa ruim e de baixa qualidade liderando as listas de mais vendidos e executados. O que hoje existe de dupla sertaneja vendendo disco (apesar da retração do mercado)é de dar dó. O axé e o pagode também dominam, e agora também surge o fenômeno de padres bonitões e cantores, que vendem cada vez mais cds. O mercado de música gospel também se expande cada vez mais. Não discuto, e respeito a doutrina religiosa de cada um, mas do ponto de vista meramente estético, acho a música gospel que se faz hoje em dia um horror. Se fala de Deus e Jesus como se estivesse fazendo um jingle de sabão em pó para se vender em supermercado. E muita grana se fatura em nome de Jesus.
O pagode também tem reservado uma boa fatia do mercado, com grupos horrorosos e sambinhas babacas e bem sem-vergonhas. Aí caímos no axé, que apresenta fenômenos de popularidade, como as nauseantes Ivete e Cláudia e aquelas bandinhas que abusam das onomatoéias dos iô-iôs e iá-iás como se fosse algo bem original e criativo.
O emburrecimento das massas é algo fenomenal. Tudo que é empurrado goela abaixo é consumido e absorvido. Não gosto de assumir aquela postura de achar que as coisas que admiro e consumo são sempre superiores às demais. Acho que soa um tanto arrogante e pretencioso. Mas observando as preferências populares, qualquer um que tenha um relativo bom gosto tem que se sentir àcima dessa massa desaculturada.

sábado, 8 de maio de 2010

Nova mesa de futebol de botão


Quem me conhece a mais tempo sabe que um de meus hobbys é jogar futebol de botão. Desde que ganhei meu primeiro jogo, quando tinha por volta dos 8 anos, eu nunca mais parei. Anos depois, eu passei a mudar o estilo, passando a adotar botões manufaturados, que eram feitos artesanalmente, como era nos primódios dessa prática. Eu passei a formar meus times assim, pois acho que se aproxima mais com o jogo de futebol de verdade, onde cada jogador tem uma característica própria.
Abaixo uma entrevista:
Tarati-Taraguá: E aí, Márcio, beleza? Porque você decidiu comprar uma nova mesa de futebol de botão?
Márcio: Olha, cara, eu estava sem jogar há muitos anos, e já estava com saudades, mas me faltava uma boa mesa, então resolvi comprar uma, pois a que eu usava pra jogar não é muito apropriada.
TT: Já inaugurou o novo campo?
M: Sim. Fiz uma partida amistosa entre o meu time oficial e o time dos "galáticos", e o resultado foi 2x2.
TT: Quem fez o primeiro gol no novo campo?
M: Foi Manoelito, do meu time oficial.
TT: Ele joga há muito tempo com você?
M: Sim, Manoelito forma um ataque com Popivoda e Doval há mais de trinta anos. É um dos melhores ataques que formei no estilo "freiraum und vervollstängt".
TT: O que é isso?
M: Em alemão quer dizer "abre espaço e arremata". São botões que têm como característica penetrar entre os zagueiros adversários, encontrar um espaço curto, e arrematar de cobertura.
TT:Doval eu sei que foi um atacante argentino que fez história no Flamengo e depois no Fluminense. Mas Popivoda e Manoelito?
M: Manoelito não tem nada a ver com futebol. Uma vez li no jornal que o falecido ator Milton Moraes se chamava Manoelito, e resolvi colocar esse nome no meu botão. Já Popivoda é o nome de um atacante da antiga Iugoslávia. Na década de 70 promovi um torneio em minha casa em que cada time representava um país. Um dos participantes era filho de um iugoslavo, e representou o país de seu pai, e o centroavante de seu time ganhou o nome de Popivoda. Depois esse jogador veio parar no meu time, e está comigo até hoje.
TT:Tem alguma partida em especial que você se recorda?
M: Uma inesquecível foi de um campeonato que eu organizei em 76, e joguei com esse time-base. Foi contra Luiz Forno-de-Palha, que tinha um dos melhores times do bairro. Apesar do time dele ser muito bom, o meu estava dando um banho de bola, e meu ataque "freiraum und vervollstängt" conseguiu meter 5x1. Parecia até os meninos do atual time do Santos.Tinha tudo pra ser uma goleada histórica. Até que começou a tocar Ponta de Areia, com Milton Nascimento, no rádio. A música me desconcentrou totalmente, e o time de Forno-de-Palha consegui empatar: 5x5. Até que no final do jogo, um jogador do meio de campo que tinha um petardo certeiro, e chutava bem de longe desempatou. Eu ganhei por 6x5, e depois saí campeão.
TT: Algum torneio à vista?
M: Sim. Estou pensando em organizar a Taça Libertadores das Muchachas, um sonho antigo.
TT: Obrigado, e boa sorte.
M: Valeu.

sábado, 1 de maio de 2010

Entrevistas Bondinho



Mais livros chegando. Isso é bom, embora eu não esteja conseguindo acompanhar o ritmo, ou seja, colocar a leitura em dia. O último que recebi, chegou ontem: Entrevistas Bondinho. Trata-se da reunião de várias entrevistas feitas pela revista alternativa Bondinho, durante o ano de 1972. São 34 entrevistas de gente como Tom Zé, Chico Buarque, os Mutantes, Rogério Duprat, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé, Zé Rodrix, Novos Baianos, Jorge Mautner, e muitos outros. Ouvi muito falar sobre essa publicação que circulava nos anos 70, mas nunca tive acesso, e agora através desse livro, posso ler as entrevistas, e saber um pouco mais da época, e o movimento cultural que acontecia. Apesar de já ter lido bastante sobre a Bondinho, não conhecia a sua história. A primeira edição foi em outubro de 1970, e inicialmente era um guia de informações sobre a cidade de São Paulo, e era distribuído pela rede de supermercados Pão de Açúcar. Após um ano circulando nessas condições, a revista se tornou independente, e passou a circular em bancas de jornal, distribuída em outras cidades, e modificou sua linha editorial. Não era fácil se manter uma publicação cultural naquele início dos anos 70, com a ditadura militar e a censura sempre presentes, impedindo o direito à liberdade de expressão. Mesmo assim a Bondinho, assim como outros órgãos independentes da chamada “imprensa nanica”, conseguiu sobreviver, chegando a publicar 13 números como publicação independente. Com essa edição, publicada pela editora Azougue, podemos ter acesso às entrevistas feitas na época, e conhecermos mais um pouco do que era feito, e termos uma ideia de como era sobreviver de arte num período tão difícil, marcado por uma repressão sem limites. A imprensa underground, ou “udigrudi”, como era conhecida na época, representava um polo de resistência contra o regime ditatorial, por isso muitas delas tiveram vida curta. O órgão de imprensa mais conhecido na época era o jornal O Pasquim, até teve uma vida longa, mas foi duramente perseguido, tendo vários de seus editores presos e perseguidos pelo regime. Recentemente inclusive, Jaguar, um dos diretores do jornal recebeu uma indenização de um milhão de reais, de um demorado processo que moveu contra a União, pelas inúmeras perseguições que sofreu dos órgãos repressores oficiais. Outras publicações, como Verbo Encantado, Flor do Mal, Navilouca, Presença, Rolling Stone (primeiro formato, de 72) e a própria Bondinho traçam um panorama do que era produzir cultura e contracultura numa época em que fugir da cultura oficial era uma ato marginal. Entrevistas Bondinho já está na fila de leitura, e brevemente comentarei o que li.