Caetano - Verão 1974

A revista Pop, de março de 1974 trazia uma matéria com um Caetano Veloso bem-humorado e de bem com a vida, curtindo o verão de Salvador. Segue a matéria:

“Caetano está sempre bem-humorado, mostrando os dentes num sorriso largo e fazendo mil brincadeiras. Só fica meio chateado quando alguém lembra de todos aqueles grilos do show que ele fez em novembro na concha acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (ver postagem de 31/08/10). Ele não quer mais falar do assunto, mas com um pouco de insistência acaba cedendo: “Olha, aquela turma que estava me vaiando não sabia de nada. Eu estava lá para mostrar um trabalho sério, um trabalho de pesquisa. Eu incorporei na minha música características regionais que considero muito importantes. Aquele nhem-nhem-nhem, por exemplo, é uma forma de lamento do nordestino que sofre com a seca e que chora a ausência de chuva e a perda da colheita.”

Caetano agora volta a sorrir, passa a mão pelos cabelos e fala com voz de preguiça: “Se alguém preferir interpretar o nhem-nhem-nhem de outro jeito, não tem problema. Só não quero que pensem que é agressão. Pra quem não entendeu bem, eu explico melhor. Aquele nhem-nhem-nhem que eu faço não é provocação, é somente um dengo, um charminho gostoso.”

Ele não quer nem comentar a suspensão de quinze dias que sofreu “por agressão ao público” no show do Castro Alves. “Tudo aquilo passou e acho que não há mais nada para acrescentar ao muito que já foi dito. Eu sou músico, só transo com música. E Caetano começa a contar, com entusiasmo, todas as suas transas. “No fim do ano eu realizei um trabalho muito importante: a produção de um disco experimental, Música de Mendigos, com Smetack, pesquisador de música da Universidade Federal da Bahia e criador de mil instrumentos novos. Ele é incrível, o Gil tinha razão quando me falava dele”. Agora, Caetano se prepara, com seus músicos, Tuzé, Moacir e Perinho para novos shows, onde vai mostrar “as novas músicas feitas durante o verão baiano”.