sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Mandou Mal
No dia 2 de novembro de 1997 o professor de Lígua Portuguesa Pasquale Cipro Neto estreava sua coluna dominical Ao Pé da Letra, no jornal O Globo. A coluna tinha por objetivo tratar de assuntos ligados ao uso da línguagem e suas aplicações, e levantava questões interessantes.
Em sua estreia, o professor Pasquale falou sobre verbos indefectivos, aqueles que por questões meramente sonoras, não são conjugados em todas as formas verbais, como por exemplo, carpir, feder, colorir, demolir, extorquir e banir. Em um trecho de seus comentários, ele afirma: "A língua formal se fundamenta no registro culto, naquele que é referendado por bons autores, por escritores clássicos, renomados. Não é da noite para o dia que uma palavra ou expressão podem fazer parte do fechado clube da norma culta."
Na semana seguinte, no fim de sua coluna, Pasquale comenta uma carta ou email que recebeu, comentando sua coluna da semana anterior:
"Uma leitora, do Jardim Botânico, escreve-me a respeito da coluna de estreia. Transcrevo:
'Espero que as próximas seções de Ao Pé da Letra não contenham erros crassos como o exemplo de hoje, na sua estreia no jornal: 'Não é da noite para o dia que uma palavra ou expressão podem fazer parte do fechado clube fechado da norma culta.' Seu estilo é agradável e simpático, mas sugiro que que o senhor tome cuidado com o que escreve porque afinal de contas, seu objetivo é ensinar certo, verdade?... O mesmo erro de concordância foi cometido pelo Miguel Paiva no Gatão de Meia-Idade (pág.34): 'O problema não é discutir sobre o que o Gugu ou o Faustão vão fazer no domingo...', mas ele é cartunista, e não professor de português."
Em seguida o professor Pasquale responde:
"Cara leitora: ensinam todas as boas gramáticas que, quando os núcleos do objeto são ligados por ou, o verbo vai para o plural 'se o fato expresso pode ser atribuído a todos os sujeitos' (as aspas foram colocadas porque se trata de transcrição de Celso Cunha e Lindley Cintra). É o caso de minha frase. O fato de 'poder fazer parte do fechado clube da norma culta' pode ser atribuído aos dois sujeitos ('uma palavra ou expressão'), por isso o verbo no plural, corretíssimo ('podem'). Ensinam ainda os mestres que o verbo vai para o singular 'se o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos sujeitos'. É o que ocorre em uma frase como 'O Vasco ou o Inter será o campeão brasileiro de 1997'. Agradeço a preocupação de escrever.
P.S. Miguel Paiva também acertou."
O que me chamou a atenção foi a arrogância da leitora, que se achando senhora da verdade, viu-se no direito de escrever um texto de forma tão agressiva. Mesmo se por acaso o professor tivesse cometido o erro que ela lhe atribuiu, ela poderia lhe escrever de uma forma mais educada. Falando em educação, a resposta que ela recebeu foi bem polida, passando-lhe não somente uma lição de gramática, mas também de educação. Espero que ela tenha aprendido as duas lições.
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