Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quem Sabe


Sem nada
Nem no peito qualquer mágoa
Sem rancor e sem saudade
Venho agora te dizer adeus
Quem sabe
Não encontre pela madrugada
Uma esperança vaga
Nos olhos de alguém que também despertou
De um sonho igual ao meu
Quem sabe
Retomando a velha estrada
Eu encontro em outros braços
Aquela ternura que um dia perdi
Dentro dos olhos teus
Toda ilusão se desfaz em mágoas
Mas eu não chorei
Quando o nosso romance acabou
É tão difícil a felicidade
Mas eu me sinto à vontade
Pra recomeçar no caminho do amor

Elton Medeiros e Paulinho da Viola

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Arnaldo Batista em 1975


Em uma postagem anterior, da série Preciosidades em Vinil, eu comentei sobre uma obra-prima do rock brasileiro: "Lóki?", de Arnaldo Batista. Na época a revista Pop trazia uma matéria sobre Arnaldo, mostrando uma pessoa que levava uma vida saudável, em contato direto com a natureza, em uma vida no campo, longe da cidade. Essa imagem saudável, inclusive mostrada nas fotos, onde ele aparece com uma aparência jovial, parecendo estar vivendo uma fase mais zen, passava uma imagem que remetia a alguém que se reencontrava consigo mesmo ou algo assim. Infelizmente essa imagem não refletiu o que na verdade foi sua vida antes do acidente ou tentativa de suicídio na clínica onde esteve internado anos depois para se desintoxicar, que por pouco não o levou à morte. Mas de qualquer forma é bom ver essa matéria da época.

"Depois que os Mutantes originais se separaram, durante muito tempo não se ouviu mais falar no líder, arranjador e principal compositor do conjunto. Arnaldo Dias Batista simplesmente sumiu do mapa e seu nome virou uma espécie de lenda entre os roqueiros do Brasil. Diziam que ele estava pirado e não falava coisa com coisa. Outros falavam que ele estava correndo o mundo, em solitária peregrinação, enfrentando as barras da estrada. E corria ainda o boato de que Arnaldo tinha ido morar no campo e estava gordo, sereno e não pensava mais em tocar.

Este ano, quando seu primeiro LP sem os Mutantes (Lóki?) foi lançado, desfez-se parte do mistério: em todos os boatos havia um fundo de verdade. Arnaldo realmente tinha beirado a piração, soltou o corpo no mundo durante algum tempo e curtiu muito seu seu sítio na serra da Cantareira (SP). Mas deu um rolê em tudo e agora ficou numa muito boa, com um pé na cidade e outro no campo: "Aqui no meu sítio eu escuto a cidade com o ouvido direito e o campo com o esquerdo. As vibrações, por isso, têm mais força".
No sítio, Arnaldo levanta cedo, passeia descalço pelo campo, corta cana, planta alguma coisa, colhe outra, mexe na terra. Curte muito as plantas, conhece gente que conversa com elas, mas até agora não conseguiu estabelecer comunicação com nenhuma. Nem acha que isso seja necessário. "Basta transar legal com elas e se comunicar melhor com as pessoas..." Afinal, lembra o bruxo Arnaldo. "não é à toa que as pessoas simples costumam usar um galhinho de arruda atrás da orelha..."
A partir dessa verdadeira higiene natural, Arnaldo garante que que é muito mais fácil (e até divertido) encarar as barras pesadsas da cidade: "Alimentada pelas forças da natureza, a cuca trabalha melhor". Por isso, diz que todo mundo deveria abrir os olhos e ouvidos para as vibrações que vêm do verde, do ar puro, da chuva. Mesmo os roqueiros, que às vezes nem percebem que têm um papel a cumprir. "Afinal, o rock pode ser só uma brincadeira ou uma boa fonte de renda. Mas também uma revolução cultural, desde que os caras saibam se aproveitat de seu valor".

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Obra Mais Influente Da Arte Moderna


Há alguns anos, numa enquete promovida pela Gordon's, marca de gim que patrocina o Turner Prize, o mais importante prêmio de artes visuais da grã-Betanha, 500 artistas, curadores, marchands e críticos de arte escolheram como a obra mais influente da arte moderna, "Fountain", de Marcel Duchamps.
A peça, criada em 1917, é na verdade apenas um mictório autografado pelo artista dadaísta, superando, por exemplo, "Les Demoiselles d'Avignon" de Pablo Picasso, e a Marilyn Monroe estilizada de Andy Wharol. "Guernica", considerada por muitos como a obra-prima de Picasso, terminou na quarta colocação, seguida por Henri Matisse e seu "Estúdio Vermelho". Embora o mictório de Duchamps (cujo original desapareceu e hoje sobrevive na forma de uma réplica em poder da galeria Tate Modern, em Londres) represente um marco, por servir de inspiração para artistas com ideias e conceitos artísticos semelhantes, a escolha foi uma surpresa. "Guernica", pelo seu valor estético e histórico, para muitos era considerada a favorita em levar o título, porém ficou apenas em quarto, o que causou grande surpresa. Porém, em se tratando de arte moderna, e pelo caráter revolucionário que ela traduz, creio que "Fountain" representa bem esse conceito.
O "Dadaísmo", movimento artístico que teve em Duchamps seu principal representante nas artes plásticas, representou uma ruptura no mundo das artes, tendo entre seus principais trabalhos uma reprodução da Mona Lisa, de Da Vinci, com bigodes pintados.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Uma Grande Mulher Por Detrás De Um Grande Livro


Um dos melhores livros que li em minha vida (prefiro não ousar dizer "o melhor") é "Ulisses", do irlandês James Joyce. A edição que li, com tradução de Antonio Houaiss, e com mais de 900 páginas, me trouxe toda a genialidade de Joyce, e sua escrita revolucionária. Apesar de ser uma obra-prima em todos os sentidos, e hoje ser um livro cultuado em todo mundo, não foi fácil para o autor ver sua obra lançada. A grande amizade entre James Joyce com uma jovem editora americana, chamada Sylvia Beach tornou possível a primeira edição de "Ulisses".
Sylvia era muito interessada em literatura, filha de um ministro presbiteriano, que se muda para Paris no início dos anos 20. Meses depois ela recebe uma bolada de dinheiro dos pais, e abre sua própria livraria, a Shakespeare and Company, a única de Paris especializada em obras de língua inglesa. Em Paris, que era na época a capital cultural do mundo, ela conhece James Joyce, que também havia se mudado com sua família para a capital francesa, e trava com o escritor uma estreita amizade. Joyce já era um nome reconhecido por sua obra "Retrato de Um Artista Quando Jovem", porém seu projeto literário mais ousado, "Ulisses", era sistematicamente recusado pelos editores ingleses e americanos, por se tratar de uma obra altamente complexa e longa. Publicar o romance, que viraria de cabeça pra baixo a prosa do séc. XX, se tornou uma obsessão para Sylvia, que tinha em James Joyce, mais do que um grande amigo, uma verdadeira relação de fã. As fotos que ilustram essa postagem mostram Sylvia e Joyce em dois momentos: a pimeira na livraria de Sylvia , e a foto abaixo, numa calçada de Paris.

Os mil exemplares de Ulisses, editados por Sylvia, quase todos encomendados, demoram para sair, mas em 1922 ganham as livrarias, e contrariando os editores que recusaram a obra, se esgotaram rapidamente. Os exemplares encomendados nos Estados Unidos só chegam através do Canadá, contrabandeados. Somente dez anos depois são editados oficialmente nos EUA.
Uma biografia de Sylvia Beach foi escrita, e somente publicada no Brasil mais de 50 anos depois, e conta sua história, e seu envolvimento não só com Joyce, mas com vários escritores importantes, e a vida cultural de Paris no início do século passado. "Shakeaspere and Company/Uma livraria na Paris do entre-guerras" foi lançado em 2004 pela editora Casa da Palavra. Numa matéria sobre o lançamento do livro, publicado no jornal O Globo, em 25/07/04, o jornalista Arnaldo Bloch diz:
"No fim do livro, a leveza transforma-se mum libelo, quando descobrimos que, decidida a permanecer na cidade durante a ocupação alemã, Sylvia termina por fechar a livraria e amarga seis meses num campo de concentração. As páginas finais, que descrevem a libertação da cidade tendo Hemingway como personagem, parecem metáfora dos muros que no século passado se ergueram diante de ousadias como "Ulisses". Pensando bem, os muros estão ainda de pé, mas a liberdade acaba por triunfar."

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dois Grandes Livros Sobre Rock - Um Mesmo Autor


Roberto Muggiati é um dos melhores e mais entendidos críticos e pesquisadores musicais do país. Posso afirmar isso por conhecer uma das obras mais completas sobre a história do rock já publicadas por um autor brasileiro: Rock O Grito E O Mito. Já há bastante tempo eu ouvia falar nesse livro, uma referência em termos de texto teórico sobre o rock e tudo que ele significa. Publicado originalmente em 1973,somente na década de 80 pude adquirir um volume, quando foi lançado pela editora Vozes seu quarto volume. O livro fala do fenômeno rock e seus desdobramentos não só no plano musical, mas comportamental, social, estético, etc.

Muggiati vivenciou in loco todo aquele clima que envolveu o desenvolvimento do rock e seu crescimento como fenômeno de massa. Basta dizer que ele trabalhou na BBC de Londres, de 1962 a 1965, ou seja, acompanhou a ascenção dos Beatles e dos Stones, além de testemunhar de perto a chamada "invasão britânica", que incluía além das citadas bandas, grupos como The Who, Animals, The Kinks, etc.

Nos anos 80, Muggiati lançaria pela editora L&PM, de Porto Alegre o livro Rock, do Sonho ao Pesadelo. Nesse livro ele não faz uma análise do rock, através de um texto que resume um estudo teórico do fenômeno, e sim, traz biografias muito bem escritas de nomes marcantes e fundamentais na histórias do rock, como Elvis, Jim Morrison, Janis, Dylan, Clapton, Lennon, Bowie, Paul McCartney e outros. Na verdade o livro é uma coletânea de uma série que ele publicou naquele período na extinta revista Manchete, da qual era editor. Além desses dois livros, ele publicou um outro chamado O Que É Jazz, pela editora Brasiliense, também nos anos 80. Existe também uma série de 4 revistas escritas por ele, em que a história do rock é contada em detalhes.
Sem dúvida, Roberto Muggiati é um dos mais respeitados estudiosos de música no Brasil. Além de tudo também é saxofonista.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Livros e Revistas de Humor - Tudo Pelo Soizial

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O cartunista catarinense Bonson, nos anos 80 criou um personagem chamado Soiza, que era um radialista que apresentava um programa bem popular, e tinha o desejo de se tornar vereador, como muitos locutores. Soiza fazia o tipo "latin lover", metido a conquistador, e tinha como principal projeto de sua plataforma como candidato à verança, a construção do "Wandódromo", um monumento dedicado ao cantor Wando. Apesar de ser um apresentador de programas de música brega, de raízes bem populares, não era fácil para Soiza formar seu eleitorado e conquistar votos suficientes para se eleger. Até para convencer sua própria mãe a votar nele ele tinha dificuldades, como mostra a tira abaixo:


Em 1988, aproveitando que era ano de eleição, e o tema era recorrente, foi publicado um livro dedicado ao personagem, chamado Tudo Pelo Soizial. O título é um trocadilho com um slogan do governo federal, que na época era comandado por Sarney: Tudo Pelo Social. Após o fracasso do Plano Cruzado, e com o país convivendo com um índice inflacionário dos mais altos, Sarney com a popularidade bem baixa começou a investir em planos sociais, como forma de conquistar as classes menos favorecidas, e assim aumentar um pouco sua popularidade.
Voltando ao livro, que era uma coleção de tiras que eram publicadas no jornal de Florianópolis O Estado, Bonson, além do personagem principal, trazia outros, como o " Maestro Cara Bichevsqui, "Waldirene, a AM", "Henricão, o rei do point" e "Alaor, o sonoplasta". Eu não conhecia o personagem, e pouca coisa do seu criador, já que Bonson, pelo que eu saiba, atuou a maior parte do tempo em Santa Catarina.
O livro traz prefácio do cartunista Laerte, e uma pequena biografia do autor, que logicamente é desatualizada para os dias de hoje, e dizia:


"Bonson é um florianopolitano roxo (principalmente quando toma umas e outras) da rua Bocaiúva. Nasceu no dia 13 de novembro de 1949, e é Escorpião no ocidental, Boi no chinês e Sushi no japonês.
Sérgio Luiz de Castro Bonson começou a pegar no pesado no jornal O Estado, de Santa Catarina, em 70, e trabalhou depois em vários outros jornais catarinenses, até que em 84 arrumou a trouxa e foi para São Paulo fazer a América. Lá trabalhou na Folha de São Paulo, fez um monte de frilas na Gazeta de Pinheiros, Dados e Ideias, Balanço Financeiro, etc, etc, e ah, coisa importante, morou em Vila Madalena.
De repente ficou duro, com saudade, e voltou para Floripa. Aqui (ou lá) ficou lembrando do tempo em que ouvia rádio todos os dias, todas as horas em Sampa e, entre uma tragada e outra, pensou: "E se eu (ele) fizesse uns personagens em cima do rádio, hein?". Bom, resolveu fazer. E fez. E lançou um livro "Waldirene, a AM", em 87, que foi um estouro (até hoje ele tem uns estilhaços enfiados no corpo).
Você quer saber qual o conteúdo de suas mensagens?
Ele explica: "Tu foi ver aquele filme chamado 'Apocalípticos e Intefrados Now'?, estrelado pelo Umberto Eco e a Emilinha Borba, dirigido pelo Joseph Conrad e fotografado pelo Marlon Brando?". Então, é por aí, meu irmão, por aí..."

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Preciosidades em Vinil - Live In London - Deep Purple


Já há algum tempo eu andava atrás de um álbum ao vivo do Deep Purple, chamado Live In London. Esse disco foi lançado em 1982, quando a banda estava inativa. A gravação, porém, é de 1974, quando o Purple vivia seu auge. Esse disco é um verdadeiro petardo, e traz o vocal de David Coverdale, na vaga aberta por Ian Gillan. Substituir Gillan foi uma grande responsabilidade, e Coverdale se saiu muito bem no período em que segurou os vocais do Purple. Para falar do disco, transcrevo uma crítica que saiu na revista Pipoca Moderna, de outubro de 1982, escrita por um jovem crítico chamado Paulo Ricardo Medeiros, que anos depois ficaria conhecido como vocalista e compositor do RPM. Eis a crítica:
“Para muitos, a melhor banda de heavy metal. Músicos exímios e talentosos, quase todos ainda na estrada, o Purple, como grupo, ainda deixa muitas saudades. Especula-se constantemente sobre uma possível reunião, e se há algum supergrupo cuja volta possa realmente vir a concretizar-se, é o Purple. E a indústria fonográfica põe lenha na fogueira, de quando em quando lança um novo tape. E, surpreendentemente, Live In London é o melhor álbum ao vivo do Deep Purple. Existem discordâncias quanto à melhor fase da banda. Gillan e Glover, bradam alguns, Coverdale e Hughes, urram outros. Eu prefiro os dois. Ou os quatro. Mas, nesse disco, foi a vez de Coverdale/Hughes. Gravado em 25/5/74 no Kilburn State Gaumont, numa promoção da BBC, foi remixado em sistema quadrafônico e ficou do caralho. Abre com “Burn”, e emenda com uma vigorosa “Might Just Take Your Life”. A seguir, “Lay Down, Slow Down”. Blackmore brinca um pouco na introdução da melhor versão de “Mistread” que já pintou. Enxutíssima, fecha o lado A querendo mais. (O álbum é simples). No lado B, a apresentação que faltava, com Jon Lord apontando um por um. “And you”, gritam. Ele responde: “My name is Rick Emerson”. “This a number from Machine Head”. Blackmore puxa “Lazy”, mas a música é “Smoke on the Water”. Após o solo de John Lord, ele e Glen Hughes (acho linda sua voz) fazem, com muita emoção, o momento mais lírico do disco, culminando apoteoticamente com “Jesus, Alegria dos Homens” e emendando com “You Fool No One”, tudo com fluidez e musicalidades impressionantes. Outras mil e uma ainda ocorrem ainda nessa faixa, que encerra o lado como começou: “Lazy”. Pra não me estender, confirmo, o melhor álbum ao vivo do Deep Purple. Caiam de boca.”
Esse disco faltava em minha coleção. Nem pra baixar eu encontrava. Recentemente, um velho colega de turma dos tempos do vestibular, sabendo que coleciono discos de vinil, me comunicou que está vendendo sua coleção. Quando fui a sua casa ver seu acervo, encontrei essa pérola, em ótimo estado. Dentre outras preciosidades que comprei, levei esse ítem que faltava em minha coleção do Deep Purple. Junto com ele também levei outro da banda, que eu ainda não tinha: Stormbringer.

sábado, 13 de novembro de 2010

Noite Movimentada na Bienal do Livro de Campos


A noite de ontem (sexta) na Bienal do Livro de Campos foi das mais movimentadas. A palestra marcada para às 18h, com os escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa sofreu um atraso de mais de hora e meia pelo cancelamento do voo das14h, do Rio para Campos, provavelmente por problemas com o tempo. Esse retardo acabou descontrolando o cronograma da programação, já que os dois eventos posteriores: palestra com Viviane Mosé e show da cantora Fernanda Cunha, que agregam mais ou menos o mesmo público, tiveram que ser adaptados pela curadoria do evento, para que o público não ficasse dividido.
Enquanto era aguardada a chegada dos dois escritores para o primeiro debate, a mediadora da palestra, a professora de literatura e estudiosa da literatura africana moderna, Rita Maia, improvisou uma palestra sobre a obra dos dois convidados que estavam a caminho, e da literatura dos países de língua portuguesa. Com a chegada de Mia e Agualusa, o público pôde finalmente assistir à esperada palestra. Mia e Agualusa, um moçambicano, o outro angolano são dois dos mais festejados escritores de língua portuguesa, ambos apreciadores da literatura brasileira, destacando como uma das mais fortes influências, Guimarães Rosa na prosa, e João Cabral na poesia. Os dois escritores falaram sobre suas obras, o panorama da literatura atual para os escitores de língua portuguesa, novo acordo ortográfico e algumas histórias de suas passagens por diferentes países do mundo, levando sua literatura. Uma curiosidade sobre ambos, é a confusão que muitas vezes se fazem entre os dois. Agualusa, por exemplo, já foi parabenizado por um livro escrito por Mia, e este também já foi confundido com Agualusa, já que ambos têm uma trajetória próxima.

O evento seguinte, um bete-papo com a filósofa e poeta Viviane Mosé, foi um dos mais interessantes da Bienal. Viviane, que é uma grande conhecedora de filosofia, principalmente Nietzsche, uma de suas paixões, falou sobre diversos temas, sempre de uma forma inteligente e bem-humorada. Relações humanas, amor, sexo, família e diversos outros assuntos eram brilhantemente apresentados, sob a luz da filofia e da poesia. Foi uma ótima palestra.
Ainda durante o bate-papo com Viviane, já rolava um show de MPB, com a cantora Fernanda Cunha, uma cantora que eu não conhecia, acompanhada por um ótimo violonista, e trazendo um repertório variado e bem escolhido.

O show foi um pouco prejudicado pelo imprevisto atraso na programação do dia, mas valeu a pena assistir pelo menos uma boa parte do show.
Foi uma noite agitada, e plena de cultura.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Revistas Legais - Vogue Especial Jorge Ben Jor



Em 1994 a revista Vogue Brasil trazia uma edição especial com Jorge Ben Jor. É uma edição caprichada, de 114 páginas, dedicadas quase que exclusivamente a Ben Jor. Sua carreira havia dado uma guinada no ano anterior, e Jorge, assim como seu amigo de longa data, Tim Maia, passaram a ser descobertos pela nova geração, e isso ampliou consideravelmente o público de ambos, que já tinham suas carreiras estabilizadas. No texto de apresentação da revista o escritor Ignácio de Loyola Brandão escreveu: “Uma Vogue com muito suingue. Com Jorge Ben Jor, o cantor fenômeno de 93. Uma carreira que explodiu de novo, porque Jorge vem, Jorge vai, Jorge veio. Tocado e cantado por gerações diversas, como poucas vezes se viu neste Brasil.” A revista traz depoimentos, análises de letras, discografia comentada, curiosidades, ensaios fotográficos, e muita coisa mais. O Flamengo (ninguém é perfeito) e o Salgueiro, duas de suas paixões também não poderiam ficar de fora. Abaixo, alguns depoimentos:
“Sinônimos para Jorge Benjor: A alegria, a harmonia, a simpatia, a energia, a vida, a liberdade, o suingue, a graça, a fé, a força, a potência, a felicidade, a limpeza, a confiança, a grandeza, a beleza, a simplicidade, a emoção, a celebração, o calor, a vibração, a verdade.” Arnaldo Antunes

“Quando ouvi aquilo (o Samba Esquema Novo), fiquei impressionadíssimo. Eu estava começando a compor naquela época. E eu disse: não quero mais compor. Eu ouvi Jorge Ben e disse: não vou fazer mais música nenhuma. Só vou cantar músicas de Jorge. Eu queria ser cover de Jorge Ben para o resto da vida.” Gilberto Gil
“ O Jorge Ben Jor é aquele que faz tudo o que não deve ser feito e que tem a liberdade total. Ele bota numa letra uma lista de títulos de Dostoiévski: O Adolescente. Humilhados e Ofendidos. O Jogador. O Ladrão Honrado... 'Todos sabiam, mas ninguém falava/esperando a hora de dizer sorrindo/que as rosas eram todas amarelas'. E depois tem uma citação de Rilke lá no meio: 'Lendo um livro de um poeta da mitologia contemporânea/sofisticado percebi que ele era/ pois morrendo de amor, renunciando a ser porta dizia/ basta eu saber que poderei viver sem escrever'. Isso é Rilke dizendo para um jovem poeta que basta saber que poderei viver sem escrever para me tirar o direito de escrever poesia.” Caetano Veloso

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Na Bienal a Palavra de Cora Rónai e o Som de Angelo Nani


A noite do ontem na Bienal do Livro começou com um bate-papo com Cora Rónai. jornalista Arnaldo Bloch, que também estava na programação, para debater o tema"Jornal & Internet:Uma Morte Anunciada?" não pôde comparecer, ficando o papo entre o mediador - o jornalista Vitor Menezes e Cora, pioneira no uso de blogs, como forma de jornalismo informal.
Cora em sua fala destacou a eficiência dalinguagem online, e as novas formas de se usar os meio s de comunicação, com toda sua vivência e experiência no assunto, ela que é uma pioneira nesse segmento.
Cora defendeu uma nova forma de se praticar o jornalismo, e a cooptação de blogueiros para a mídia impressa. Esse assunto acabou levantando no debate com o público a questão polêmica, que tanto vem gerando discussões, que á a não obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a profissão. Cora, por sinal, defendea não necessidade do diploma de jornalista.
Após o debate, o show na Arena Cultural foi com o gaitista Angelo nani e banda. Angelo há tempos vem firmando seu nome como gaitista, já tendo bastante experi~encia de palco como músico acompanhante e artista solo. Angelo é dono de uma técnica apurada em seu instrumento, já tendo recebido elogios e dividido o palco com artista de peso em seu instrumento, como Flávio Guimarães e Jefferson Gonçalves.

Trazendo Betinho Assad na guitarra, Felipe Capachão no baixo e Felipe Begão na bateria, Angelo, que além de tocar também faz o vocal, apresentou um show soberbo, onde não faltaram clássicos do blues, além de composições próprias. O show também foi uma homenagem a Luizz Ribeiro, líder da banda Avyadores do Beazyl, falecido recentemente, e com quem Angelo tocou por alguns anos. Enquanto a banda tocava, um telão mostrava fotos de várias épocas de Luizz Ribeiro. O poeta Artur gomes, parceiro e amigo de Luizz também prestou sua homenagem, recitando dois poemas, um deles musicado por Luizz, e outro feito em homenagem ao amigo. Em seguida, A fez dois números acústicos, com Betinho ao violão e angelo na voz e harmônica. Cinco Horas Blues, composição de Luizz foi apresentada nesse formato, e depois uma versão de Angelo para uma música do gaitista Little Walker. Depois a banda voltou para continuar o show. Foi uma grande apresentação e uma bela homenagem ao pioneiro do rock de Campos, Luizz Ribeiro.

domingo, 7 de novembro de 2010

Nelson Motta e Ruy Castro na Bienal do Livro de Campos



Desde a última sexta-feira, não por acaso no Dia Nacional da Cultura, Campos realiza sua sexta Bienal do Livro, numa enorme estrutura montada na principal praça da cidade. Trazer a bienal para um local mais central foi uma boa ideia, pois acaba atraindo a presença de pessoas que normalmente não frequentam eventos como esse. Apesar de críticas sem fundamento, proferidas por um fotógrafo e jornalista em seu blog, a forma adotada nessa bienal foi acertada. O citado blogueiro argumenta em suas críticas: " O que não dá pra entender é a realização do evento em uma grotesca barraca montada em plena Praça São Salvador, violentando nosso principal cartão-postal, levando caos ao trânsito." O que ele chama de "grotesca barraca" é uma enorme estrutura de metal e lona, muito utilizada em eventos desse porte. Ao contrário do citado blogueiro, que fala em violência contra nosso principal logradouro público, a estrutura montada em torno da Praça São Salvador convive harmoniosamente com o espaço. Achei, inclusive, bastante interessante ver a estátua do monumento aos pracinhas fazendo parte de um espaço fechado. Quanto ao "caos no trânsito", só ele viu, pois só foi obstruída uma via, que não é tão movimentada, e que pode ser retomada alguns metros a frente.
Mas voltando ao evento, na noite de ontem aconteceram duas interessantes palestras. A primeira, com o jornalista e escritor Ruy Castro, sobre a paixão pela leitura e a importância do livro em sua vida e das pessoas em geral. Mais tarde o mesmo Ruy retornaria para, juntamente com o jornalista, crítico, produtor, e homem de mídia Nelson Motta, discorrer sobre música brasileira.

Foi bastante interessante a explanação de ambos os convidados, tecendo opiniões sobre diferente aspectos da MPB. Não deixou de ser curioso, por exemplo, ver os dois desmistificando a importância que é dada aos antigos festivais. Segundo Ruy, ao contrário do que normalmente se fala, toda aquela geração de compositores que surgiram nos antigos festivais, teriam a mesma projeção sem aqueles eventos, já que o talento que apresentavam acabaria mais cedo ou mais tarde, chamando a atenção dos executivos das gravadoras. Nelson também teceu críticas ao formato competitivo dos festivais, inclusive considerando o de 68, quando Chico Buarque e Tom Jobim foram vaiados, como o esgotamento da fórmula.

Como se trata de dois críticos com formações diferentes, houve discordâncias em alguns pontos levantados, como a importância do rock para a cultura nacional. Ruy é declaradamente avesso ao gênero, enquanto Nelson tem toda uma vivência no mundo do rock. Basta lembrar que muitas bandas de rock foram a mim apresentadas através do programa Sábado Som, da Globo, apresentado por ele nos anos 70.
Após a conversa houve a participação do público com perguntas. Uma das questões levantadas girou em torno da música sertaneja, sempre criticada por Nelson. Dessa vez ambos concordaram com relação à pobreza desse gênero. Ruy, inclusive citou uma frase que eu já conhecia, porém não sabia que é atribuída ao jornalista Ronaldo Bôscoli, que diz que a espingarda de dois canos deve ter sido inventada para matar duplas sertanejas com um tiro só. Nelson lembrou de uma foto famosa, que foi publicada na época da eleição de Collor, onde o casal presidenciável aparece recebendo várias das duplas sertanejas de sucesso, onde fica claro o apoio que os artistas davam ao recém-eleito presidente. Ele resuniu bem numa frase: "Eles se merecem".
Foi uma boa palestra.

sábado, 6 de novembro de 2010

Pink Floyd em Londres - 1975


Na edição de setembro de 1975, a revista Pop trazia uma matéria sobre um show do Pink Floyd em Londres, ao ar livre. Um fotógrafo da revista estava no evento, e clicou várias imagens da banda e do público. A matéria, muito bem ilustrada por várias fotos, fala de detalhes sobre o show:
"Para o Pink Floyd, concertos ao ar livre sempre foram ótimas transações. "O único grilo", diz o baterista Nick Mason, "é que temos uma forte tendência a produzir chuva... mesmo quando a região enfrenta seca braba..."
Mas desta vez, no Knebworth Park de Londres, as vibrações estavam ótimas, as nuvens que flutuavam no céu permaneceram numa boa e tudo saiu direitinho.
Acima de tudo, é claro, havia muita expectativa. A moçada estava curiosa, fissurada, querendo saber como o Pink ia dar sequência ao seu importante trabalho depois do estrondoso sucesso, em disco e ao vivo, do Dark Side Of The Moon.


Durante duas horas, Roger Waters, David Gilmour, Rick Wright e Nick Mason promoveram um clima de viagem espacial no parque e fizeram a moçada viajar tranquilamente através dos universos desconhecidos de suas próprias cabeças. Na primeira parte do show, o grupo deixou fluir várias músicas de seu novo álbum, o que funcionou como uma excitante sucessão de surpresas para a moçada.


Depois de um breve intervalo, começou o que uma garota holandesa chamou de "um grande voo cósmico". E não podia ser de outra forma, pois foi aí que o Pink Floyd levou todo mundo para "A Face Escura da Lua". Durante uma hora, os sons mais incríveis saíram do palco e foram conduzindo o público aos limites do espaço cósmico. No fim, quando a música estava atingindo o clímax, um grande avião de metal deu um rasante sobre o público e espatifou-se contra o fundo do palco, espalhando fogo. A viagem de exploração à face escura da lua tinha terminado. E do palco começaram a se espalhar os sons reverberantes de Echoes, um dos mais intigantes clássicos do Pink Floyd. O ritual estava completo. Quando a música terminou e os caras saíram calmamente do palco, os sons ficaram ecoando na cabeça de toda a moçada. Todos se levantaram em silêncio e começaram a caminhada de volta para casa ou para a estrada, enquanto a face iluminada da lua banhava o Knebworth com uma luz dourada, fantástica como a própria música do Pink."

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Caetano e os Concretistas


A aproximação entre tropicalistas e concretistas aconteceu nos anos 60, em virtude de afinidades estéticas logo percebidas primeiramente pelos concretistas. Caetano, principalmente, entre os tropicalistas, ao tomar conhecimento de forma mais profunda com a poesia concreta adotou várias vezes textos concretistas em seu trabalho. Algumas músicas, como Alfômega, de seu disco de 1969 e muitas letras do Araçá Azul atestam a influência. A letra de Outras Palavras, totalmente concretista, é outro exemplo. Posso citar também o poema Pulsar, de Augusto de Campos, musicado por Caetano e incluído no disco Velô. Mais tarde Caetano musicaria um trecho do livro Galáxias de Haroldo de Campos, dando o título de Circuladô de Fulô, que inclusive,também daria título ao disco. Na foto acima Caetano exibe o poema Viva Vaia, de Augusto de Campos. Em uma entrevista à revista Bondinho, em 1972, ele falaria sobre essa aproximação com os concretistas:
“Eu não conhecia a poesia concreta, nem as pessoas que faziam, e pra dizer a verdade não sabia nem o nome deles. Me lembrava do nome Décio Pignatari, ouvia falar muito mal dele quando fui a primeira vez pra São Paulo. Mas não sabia nem quem era; não leio muito, não leio quase nada, e quando teve aquele negócio de Tropicalismo, Alegria Alegria e Domingo no Parque, vi na casa de Capinam um livro de Sousândrade. Capinam dizia assim:”Rapaz, tô impressionado com isto aqui, que esses irmãos Campos de São Paulo descobriram essa poesia, fizeram um levantamento, eles estão fazendo um trabalho muito bom de redescoberta de poetas”...Isso antes do Tropicalismo. Mas eu nem guardei. Quando foi aquele festival que teve Alegria Alegria e Domingo no Parque, Augusto de Campos me procurou. Queria me conhecer, conversar comigo, e eu disse: “legal, bacana”. Até me explicaram melhor quem era, eu já sabia que existia poesia concreta, mas nunca tinha visto e não conhecia o negócio deles. Ele me deu umas revistas Invenção, então fiquei vendo o que eles faziam. Achei maravilhoso, fiquei interessadíssimo e depois comecei a relembrar o tipo de piche que ouvia a respeito deles, e comecei a ver a situação deles dentro da literatura brasileira. Augusto tinha falado, nesse dia, que tinha muita afinidade com o nosso trabalho, tanto ele como todo o pessoal da poesia concreta. Então ficamos amigos. Eu tenho no maior respeito por eles. Acho que no Brasil há um grande problema com relação à criação cultural, por causa do subdesenvolvimento. Os problemas criados para os concretos, seja de publicação, seja a reação crítica que encontraram e encontram até hoje, são um negócio sinistro, entende? Uma antipatia e um desprezo pelo que eles fazem, um negócio abominável, um negócio de fraqueza, do que o Décio chama de “geleia geral”. É o seguinte: você imagine que esses caras fizeram um trabalho com precisão, estudaram, traduziram, tiveram cuidado, é um trabalho que deve despertar, no mínimo, o interesse para quem queira estudar, entendeu? Quem queira se interessar, saber literatura...”

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Contracultura, Misticismo e Flower Power


Luiz Carlos Maciel foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a falar em contracultura, movimento hippie e todos seus desdobramentos. No início dos anos 70 mantinha no jornal O Pasquim a coluna “Underground”, que tratava exatamente desses assuntos. Um dia falarei aqui nesse espaço sobre essa coluna. No momento vou transcrever uma matéria que ele escreveu já nos anos 80, também no Pasquim, mas não mais em sua coluna. O texto se intitula Vocês Lembram do Flower Power? É bem interessante. Lá vai:
“1968 foi o ano da contestação política. Os estudantes franceses incendiavam os automóveis nas ruas de Paris, enquanto os hippies americanos brigavam com a polícia de Chicago. 1969 foi um ano diferente: parece que cada um foi para seu canto e o protesto tornou-se mais uma vez passivo e quieto. A imprensa passou a dedicar seu espaço às drogas, amor livre e rock and roll. O conflito de gerações definiu-se como uma oposição entre a booze generation – a geração da birita, os mais velhos – e a pot generation – a geração da maconha, os mais jovens. Desfez-se o sonho da eficácia da ação política. Cada um entrou na sua. Os primeiros hippies surgiram em princípios da década de 60, por puro hedonismo. Entende-se a palavra sem as conotações de uma satânica caça ao prazer com que a moralidade tradicional a envolveu, como desejo simples, elementar pela felicidade da vida humana. O primeiro impulso do movimento hippie foi uma mistura de Russeau, Thorerau, Reich e Thimotty Leary: acreditava na volta à Natureza e na cura da neurose através dos alucinógenos. Descobriu-se, então, o chamado Flower Power, o poder da flor sobre o poder das armas, automóveis, televisores, computadores e outros objetos malignos, criados pela mão do homem. Os hippies desprezavam as máquinas e, na trilha de Reich, repeliram o erotismo artificial e valorizaram a gratificação natural do instinto. Uma das primeiras indicações científicas que se fez do LSD era a de que uma só dose era equivalente a anos de análise ou terapia intensiva. As pessoas tomavam ácido para resolver seus problemas pessoais, seus hang-ups, melhorando suas relações com os outros e com o mundo. A contracultura nasceu, como a psicanálise, por uma necessidade de limpeza psíquica, um projeto de felicidade individual e coletiva que, entretanto, cedo esbarrou na oposição do Establishment. O misticismo foi o aspecto extremo do movimento hippie que, em última análise, se caracterizou por uma mistura alucinante de todos os êxtases. Entretanto, à margem das religiões organizadas das seitas institucionaliadas e das limitações doutrinárias, há uma tradição espiritual secreta, inominada, que, neste século (no caso do texto, séc.xx), vem surgindo misteriosamente em cada nova geração. Nos anos 50, um repórter perguntou a Jack Kerouac, o que a geração dele queria, afinal de contas, e ele respondeu: - Deus. Queremos que Deus nos mostra a Sua face."