Ronnie Von surgiu para a música em 1965, interpretando uma versão para a música Girl, do álbum Rubber Soul, dos Beatles. A música, que em português virou Meu Bem, foi um sucesso imediato, e Ronnie virou um novo ídolo da Jovem Guarda do dia para a noite. Com sua bela estampa e um jeito peculiar de cantar, com uma voz um tanto rouca, logo ele ganharia o apelido de "o pequeno príncipe", talvez um contaponto ao "rei" Roberto Carlos. A imprensa logo criou uma espécie de rivalidade entre os dois, a ponto de Ronnie receber o convite para apresentar um programa de tv na Record, que se chamaria O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Em seu programa Os Mutantes, que aliás, foram batizados por ele, que sugeriu o nome inspirado num livro que ele estava lendo na época: O Planeta dos Mutantes, eram atração constante. Mesmo antes do Tropicalismo existir como movimento, Ronnie já se aproximava de Gil , Caetano e os Beat Boys (que acompanharam Caetano em Alegria, Alegria).
Em 1967, Ronnie grava um disco ousado para sua carreira de astro da Jovem Guarda, com acompanhamento dos Mutantes em oito faixas, e participação de Caetano Veloso na faixa Pra Chatear. O maestro Rogério Duprat e o produtor Manoel Barenbein, ligados ao grupo tropicalista também participaram da produção do disco. O LP não foi compreendido por seu público, ainda ligado à estética da Jovem Guarda, e o disco foi um grande fracasso de vendas.
Capa de seu disco de 68 |
Em 1968, em vez de voltar ao velho estilo, como poderia se esperar, Ronnie resolve mergulhar mais radicalmente no rock psicodélico em seu disco daquele ano. O disco abre com Meu Novo Cantar e
Chega de Tudo, trazendo uma certa agressividade em letras que são meio que um desabafo, seguida por Espelhos Quebrados, que traz a letra meio surrealista, e um rock com influências de Hendrix: Sílvia: 20 Horas, Domingo. Até um som incidental, uma espécie de jingle de um certo Bar Íris (provavelmente imaginário) foi usado entre as últimas faixas. Pode-se dizer que é um disco anárquico e ousado. Obviamente, tamanha ousadia não agradou aos diretores de sua gravadora, pois afastaria seu público-alvo.
O seu álbum seguinte, de 1969, sofreria algumas intervenções da gravadora, afetando sua liberdade criativa, mas mesmo assim ainda trazia toques de ousadia e experimentações, a começar pelo próprio título: A Misteriosa Luta do Reino do Parassempre Contra o Reino do Nuncamais. O grupo argentino Beat Boys participaria do trabalho, trazendo ecos de rock progressivo. Uma das melhores faixas, por exemplo trazia um quilométrico título: De Como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta a Alfa do Centauro, Meu Verdadeiro Lar. Até bossa-nova havia no disco, Dindi, e uma versão para Atlantis, de Donovan, que virou Atlântida, feita por Ronnie e Rita Lee.
Capa de A Máquina Voadora |
Em 1970 Ronnie ainda buscava um som de vanguarda e antenado com as novas influências de um rock mais radical e livre, mas a intervenção da gravadora, insatisfeita com sua ousadia em busca por um experimentalismo anti-comercial, apesar de ainda ser um cantor popular, afetou a produção de seu novo disco, A Máquina Voadora. Como na época ainda não havia discos independentes, os artistas tinham que se submeter às gravadoras, que sempre visam o lado comercial. Ronnie Von, hoje lamenta não ter podido conceber seus álbuns como gostaria, tendo que ceder às pressões comerciais; "A partir daí, meus discos começaram a sair pra cumprir contratos. Eu me sinto triste até hoje por não ter levado meus projetos adiante. Tinha tanto para mostrar, tantas ideias interessantes..."
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