Uma gravadora que foi fundamental para os artistas revelados na Bossa Nova, e uma geração imediatamente posterior, de novos músicos e autores que surgiam no início dos anos 60 foi a Elenco, criada pelo produtor Aloysio de Oliveira (1914-1995). A gravadora, que lançou discos de 1963 a 1967, além de trazer em seus lançamentos o que de melhor a música brasileira da época, ainda trazia um trabalho visual revolucionário para época, e que as gravadoras não se atentavam tanto. Basta olhar algumas das capas reproduzidas acima. A forma como o nome de Nara é grafado, por exemplo, com as letras formando linhas retas e enviesadas, com setas apontando para lados opostos , ou a fusão de letras da capa do disco de Vinícius e Caymmi, com o ponto vermelho do logo da gravadora servindo de ponto das letras I, ou ainda a fusão do colorido e preto e branco da capa do disco de Edu Lobo. As fotos sombreadas, como nos discos de Nara Leão e Tom Jobim, também eram marcas das capas da Elenco. A Revista do CD nº 4, de julho de 1991, falava sobre a Elenco, num texto do jornalista e pesquisador Sérgio Cabral:
"Quando Aloysio de Oliveira resolveu criar a gravadora Elenco, em 1963, ele já tinha uma experiência de 30 anos na música popular brasileira, como integrante do conjunto vocal Bando da Lua - com o qual viajou, em 1939, para os Estados Unidos, acompanhando Carmem Miranda. De lá voltou em 1956, para assumir a direção artística da gravadora Odeon, onde permaneceu até 1961.
A Elenco foi uma resposta que Aloysio de Oliveira pretendeu dar à Odeon, quando a gravadora dispensou alguns artistas muito ligados a ele, como Silvinha Telles e Sérgio Ricardo. Foi uma resposta difícil, pois ele não tinha dinheiro para montar uma empresa. Naquela época, porém, o Brasil ainda vivia a euforia do governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek e não seria impossível encontrar quem desejasse investir num empreendimento como aquele. E Aloysio saiu à cata de dinheiro com os amigos. Dois deles foram fundamentais na composição do capital inicial: Celso Frota Pessoa, padastro de Tom Jobim, e Flávio Ramos, empresário da noite e proprietário de boates onde Aloysio de Oliveira já realizara, como diretor, antológicos espetáculos com o pessoal da Bossa Nova. O passo seguinte foi o de encontrar a empresa para fabricar e distribuir discos, tarefas entregues à RCA Eletrônica Brasileira S.A. (...)"
Na mesma revista o criador da gravadora, Aloysio de Oliveira (cuja foto ao lado aparecia em todas as contracapas dos discos da Elenco), que na época morava na Califórnia, deu um depoimento sobre a Elenco:
"A Elenco foi realmente uma coisa muito boa em minha vida. A despeito de tudo, dos problemas e das dificuldades, deu certo porque tinha de dar certo. A história da Elenco todo mundo conhece. E foram tantos os seus discos, que para mim é difícil dizer qual foi o melhor. Embora a ideia de juntar grandes atistas - como, por exemplo, Caymmi e Vinícius - tenha sido elogiada, a mim parecia uma coisa óbvia.
Eu entendia o disco como um show, mais do que qualquer outra coisa. Talvez essa percepção seja influência do meu contato com o show business norte-americano desde os tempos do Bando da Lua. Como já disse muitas vezes, resolvi criar a elenco porque queria fazer aquilo de que gostava. Não tinha a pretensão de tomar conta da praça. E tive a felicidade de trabalhar com o primeiro time.
Tenho saudade de todos. Do Caymmi, que não vejo há cinco anos, do Edu Lobo, que não vejo a três, desde a última vez que estive no Rio; do Baden, que não sei por onde anda. O Tom tem falado comigo pelo telefone; sempre que vem aos Estados Unidos, ele me telefona. Aqui na minha casa, na Califórnia, não tenho ouvido música - nem toca-discos eu tenho. Mas a verdade é que a saudade do Brasil é muito grande. Eu gostaria de voltar para ficar, é lógico. Meus amigos estão aí, e é aí no Brasil que eu posso conversar. Eu queria voltar, mas, pensando bem, não tenho nada para fazer no Brasil. É saudade mesmo."
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