Rita Lee & Tutti-Frutti |
A rádio 89 FM, de São Paulo, uma rádio rock, publicou nos anos 90 uma revista, chamada "89 Revista Rock", que servia como um veículo de divulgação da programação da rádio, e também trazia matérias sobre rock. Em sua edição nº 18 trazia uma boa matéria falando sobre o rock brasileiro dos anos 70. Escrita por Daniel Vaughan, e trazendo um bom material fotográfico, a matéria traz por título "Esse Tal de Roque Enrow". Em sua apresentação Daniel escreve: "A história do rock nacional dos anos 70 é muito rica musicalmente - mas infelizmente, anda meio esquecida. Longe de ter sido um modismo ou uma mera cópia - como muitos alegam - O Brasil foi um celeiro de bandas e sons memoráveis, que são descobertas fundamentais para os roqueiros de hoje."
Abaixo, transcrevo alguns trechos da matéria:
"Foi nos anos 60 e ao longo dos 70 que o rock brasileiro viveu um de seus períodos mais férteis e subestimados. Inspirados pelo surgimento de bandas seminais como Led Zeppelin, Deep Purple e Cream, os roqueiros brasileiros embarcaram numa viagem sonora ensurdecedora, caindo no gosto popular. A produção roqueira extrapolou durante a década de 70, deixando todo um legado a ser (re) descoberto pelas novas gerações: O Terço, Casa das Máquinas, Bixo da Seda, O Peso, Made In Brazil, Som Nosso de Cada Dia, A Bolha, Veludo, Joelho de Porco, Patrulha do Espaço, Terreno Baldio, A Chave, Lee Jackson, Vímana, Humahuaca, Blindagem, Moto Perpétuo (onde tocava o cantor Guilherme Artantes), Módulo Mil, Soma, A Barca do Sol... sem contar os mais conhecidos, como Secos & Molhados, Raul Seixas, Mutantes e Rita Lee na fase pré-Roberto de Carvalho.
Secos & Molhados - show no Maracanâzinho (73) |
Dentre todas essas bandas, talvez a que tenha feito mais sucesso foi o Secos & Molhados. Um dos grupos nacionais que melhor adaptaram o andrógino glitter rock de artistas como T-Rex, New York Dolls e David Bowie, os maquiados João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad foram um fenômeno de vendas para a época. 'Quando fizemos o primeiro disco, os músicos falavam que eu tinha feito tudo errado, que era uma merda. Só que vendeu mais de um milhão de cópias', ironiza João. Foram 300 mil exemplares do 1º disco, Secos & Molhados (73), vendidos em três meses e 800 mil vendidos em um ano. Eles lotaram o Maracanãzinho, no Rio de Janeiro - com capacidade para 25 mil pessoas só para vê-los.
Raul Seixas em 73 |
Mesmo com os puristas torcendo o nariz, foi inevitável: o rock chegou ao Brasil e fez a cabeça da turma da MPB. E uma 'facção' acabou influindo no trabalho da outra. Já no final dos anos 60, Os Mutantes haviam se aliado à Tropicália de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Depois, Raul Seixas fez fama misturando rock e baião.. Do lado da MPB, vários artistas usaram cenários e estratégias de palco tiradas do rock, como Elis Regina em seu disco e show Falso Brilhante, de 76. Enquanto isso, trabalhos inclassificáveis como o de Walter Franco romperam as barreiras da música popular. Já Luiz Melodia e Jorge Benjor (na época Ben) foram muito criticados por flertarem com o rock.
Na Bahia, os Novos Baianos misturavam Jimi Hendrix e Jackson do Pandeiro. E o rock progressivo - especialmente o inglês, de Emerson, Lake & Palmer, Yes e Genesis - deu frutos tropicais da melhor qualidade: O Terço, Som Nosso de Cada Dia, Vímana (de onde saíram Lobão, Ritchie e Lulu Santos), Humahuaca ... Mas, se a produção musical era enorme, as dificuldades em fazer rock no país não ficavam atrás.
O Terço |
Como se não bastasse, o país vivia na época, sob uma terrível ditadura militar. E o rock era um dos alvos prediletos dos generais. 'Tive de justificar muitas letas na Polícia Federal. Fiz uma música em homenagem à minha filha e eles censuraram. Alegavam duplo sentido!' ,testemunha Oswaldo Vechione (Made In Brazil). 'lembro de um dia em que comecei a reparar em dois caras me observando do binóculo, em frente ao meu apartamento. Eles ficavam dias... pô, aquilo incomodava!', desabafa."
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