Em minha adolescência, por volta dos 15, anos eu descobria o rock, e essa descoberta acontecia em uma de suas melhores fases, os anos 70. Hoje, com as facilidades do mundo contemporâneo, e mesmo antes dessa revolução no meios de informação, outros jovens assim como eu na época, também descobrem as mesmas músicas e bandas, mas ser contemporâneo daquele som revolucionário tinha um sabor especial. E em meados daquela década, uma das bandas que mais me chamaram a atenção foi a banda inglesa Jethro Tull. Aquele som era diferente de tudo que eu conhecia. Havia ali uma musicalidade e uma energia que me impactaram. A flauta e a voz de Ian Anderson principalmente me chamaram a atenção. Naquela fase as vozes me despertavam mais atenção do que uma guitarra ou uma bateria, por exemplo. E a voz e o jeito de interpretar de Ian Anderson me conquistaram de cara.
Não me lembro da primeira vez que ouvi o Jethro Tull, talvez tenha sido num programa de clipes na tv. Mas no rádio, me lembro especialmente da música Skating Away In The Twin Ice A New Day, pois tocava na programação diária da Rádio JB AM, que eu ouvia muito. Depois fui descobrindo outras músicas da banda, aquela mistura de hard rock, folk, blues, jazz - tudo desaguando no rock progressivo, que vivia seu auge naqueles anos. Naquela época eu lia mais sobre música do que comprava discos. Os Lps eram caros para minha pouca grana, mas as revistas eu lia com avidez, e assim passei a conhecer a história, os nomes dos membros e vários detalhes sobre os astros do rock, sem muitas vezes conhecer o som que eles faziam. Do Jethro eu conhecia o som, mas nem tanto, porém sua história eu já conhecia bem. Lembro que o primeiro disco da banda que eu pude comprar, numa bancada de saldos de uma pequena loja, foi Thick As A Brick (1972), até hoje um de meus preferidos. Depois fui aos poucos comprando os outros álbuns, como This Was, Aqualung, Stand Up, etc.
Liderado por Ian Anderson, o Jethro passou por várias formações. O primeiro álbum, This Was, de 1968 trazia além de Anderson na voz e flautas, Mick Abrahams na guitarra, Clive Bunker na bateria e Glen Cornick no baixo. Algumas semanas após o lançamento do disco Mick Abrahams deixou a banda, sendo substituído por Tony Iommi, que ficaria marcado na história do rock como guitarrista do Black Sabbath. Apesar de ficar por um curto período na banda, a participação de Iommi ficaria imortalizada no especial para a tv Rock'n Roll Circus, dos Rolling Stones, quando o Jethro tocou A Song for Jeffrey.
Os discos seguintes, Stand Up (1969) e Benefit (1970) tornaram a banda mais conhecida e ajudaram a conquistar uma legião de fãs O som da banda crescia em sofisticação, e o álbum Stand Up trazia a participação do maestro David Palmer, que introduzia arranjos orquestrados. A participação do maestro aconteceria em vários álbuns, tendo ele sido considerado membro oficial da banda a partir de 1977. Em 1971, o Jethro lançaria o que para muitos é considerada sua grande obra-prima: Aqualung, que trazia na formação Ian Anderson, Martin Barre, Clive Bunker, John Evans nos teclados e Jeffrey Hammond-Hammond no baixo. Nesse disco as letras cada vez mais elaboradas de Anderson tratavam da distinção entre Deus e religião, e a relação do homem com Deus, e como a religião interfere nessa relação. A clássica My God, uma das melhores faixas do disco é um exemplo. Outras faixas de Aqualung também se destacaram, como Hymn 43, Cross-eyed Mary, Locomotive Breath, Wind-Up e a faixa-título.
Com o tempo o som do Jethro Tull foi se distanciando das influências do blues dos primeiros tempos, e se aproximando mais do hard rock e um som mais pesado, porém ainda trazendo alguns toques de música folk. A diversidade sonora do Jethro, muitas vezes chegava a confundir a crítica, que sentia dificuldade em rotular o trabalho da banda, e isso é uma característica interessante. Um curioso exemplo foi o fato de em 1987 a banda ter ganho o Grammy de melhor álbum de heavy metal, gênero que nunca foi caracterizado pelo trabalho do Jethro Tull, inclusive desbancando grupos mais envolvidos com a vertente, como o Mettalica, considerado o favorito ao prêmio daquele ano.
Embora a melhor fase da banda inegavelmente seja os anos 70, quando lançaram álbuns como A Passion Play (um disco meio incompreendido quando foi lançado) Songs From The Wood, Minstrel in the Galery e War Childs, entre outros, o trabalho do Jethro Tull manteve uma qualidade, impulsionado pelo enorme talento de Ian Anderson como compositor, músico e performer. Embora saibamos que a maioria das bandas que surgiram nos anos 60 e 70, e que insistiram durante algum tempo em continuar na ativa com o tempo perderam o vigor e a força criativa (não sei se a banda ainda se mantém em atividade), a verdade é que o nome Jethro Tull ainda carrega uma chama que eu vi brilhar em meus tempos de adolescente, e que nunca se apagou.
Gosto! ;)
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