Algumas imagens ficam presentes em minha memória, e permanecem para servirem de testemunha de um tempo, e trazerem de volta sensações boas, ruins e até indiferentes. Uma das tantas imagens de um passado distante que eu guardo até hoje, com alguns pequenos detalhes foi a primeira vez que vi João Donato tocando na tv. Eu devia ter uns 14 anos , e costumava assistir a um programa dominical na antiga TV Tupi, comandado por um apresentador chamado Mauro Montalvão. O programa não era voltado para um público mais selecionado, costumava trazer atrações mais populares, por isso a presença de Donato foi meio surpreendente. A importância daquela apresentação pode ser medida pelo fato de ser a primeira aparição de Donato na tv, após sua volta ao Brasil, já que morou alguns anos nos Estados Unidos. O apresentador deu ênfase a esse fato, enaltecendo aquele músico que eu nunca tinha ouvido falar.
Donato se apresentou com seu conjunto, com ele ao piano, uma cantora e alguns músicos. Apesar de adolescente, eu já me ligava num tipo de música mais diferenciada e de qualidade, mas a verdade é que não me liguei muito no que ouvi, mas aquelas imagens nunca sairam de minha memória. Lembro especialmente dele cantando (junto com sua vocalista) a música Cala Boca Menino, de Caymmi, que eu não conhecia. Nesse primeiro contato eu fui um tanto indiferente, mas ao ir conhecendo aos poucos sua música, logo virei um fã, e passei a me questionar porque aquela primeira apresentação não me chamou a atenção. No ano seguinte li uma entrevista de Donato no Jornal de Música, concedida à jornalista Martha Zanetti, que guardo até hoje, e aqui reproduzo alguns trechos:
" - João Donato, como você começou a se envolver com o grupo baiano ?
- (Procurando na agenda) Foi em abril. A Miúcha me chamou para ir à casa dela. Me disse que o Caetano Veloso, o Gilberto Gil e a Gal Costa estariam lá, se eu gostaria de ir. Eu fui. Aí nos conhecemos, falamos, cantamos, tocamos num violão que tinha lá. Eu pedi para o Gil pôr letra em uma música minha. Todos eles foram para a Bahia logo depois. Daí uns quinze dias mais ou menos, a Miúcha me telefonou e disse que estava trazendo a letra do Gil para mim. Fiquei emocionado; ele não tinha esquecido. A música era 'Lugar Comum'. Aí a gente começou a se ver.
- E as outras letras, como nasceram?
- Eu comecei ensaiando com a Gal, vendo os arranjos. Um dia levei uma fita minha para o Caetano e a Gal ouvirem. Na primeira música Caetano perguntou 'O que é isso?' Eu disse: É uma besteira. Mas ele falou logo, '´uma coisa linda'. Ele foi para casa para fazer a letra da música que ficou sendo 'Que Besteira'. Mas como ele tinha o meu disco ele acabou fazendo a letra do Sapo, que ficou sendo 'A Rã'. Ele me disse: 'Tá parecendo águas de abril, mas eu tive vontade de fazer e fiz. 'Flor de Maracujá' fui eu que fiz para a Gal, dedicado a ela. É a primeira vez que eu ponho letra em uma música minha. Nesse tempo a gente já estava sempre se encontrando e eu pedi para o Gil fazer a letra de 'Que Besteira'. O Gil foi fazer uns shows em Minas e na volta trouxe a letra. 'Naturalmente' eu estava tocando e o Caetano fez a letra. Essas músicas vão sair num disco que eu vou fazer para a Philips, agora em dezembro. Vou pôr no disco músicas de outros compositores também.
- O seu comportamento no palco é planejado? Você já tinha experiência de palco? Você fica à vontade?
- Antes eu só tinha trabalhado em boate. As pessoas ficam bebendo e conversando, mas a gente não deixa de estar exposto. Até hoje eu fico nervoso, principalmente cantando. Se eu pudesse só tocava no palco. Mas o pessoal todo me anima muito. Quem primeiro me animou a cantar foi o Agostinho dos Santos. Uma vez na casa de Marcos Valle, um pouco antes do Agostinho morrer, ele me convenceu a pôr letras nas minhas músicas, assim até ele mesmo iria cantá-las. Aí eu tive que pôr letras. Tenho letras de Paulo César Pinheiro, Geraldo Carneiro e meu irmão Lísias, desse tempo. 'Até Quem Sabe' já tem umas três gravações. Nos shows de Rosinha de Valença as coisas aconteciam, sabe. É como estar num baile de carnaval e acabar saindo dançando. É assim.
- Como era o seu relacionamento no exterior com o João Gilberto?
- Era uma coisa muito pitoresca. Ele me telefonava às quatro horas da manhã, por exemplo, para tomar uma média com café. Eu argumentava ao telefone que estava muito frio, que estava nevando, mas acabava indo para o frio e a neve. A gente falava um pouco, mas acabava sempre no violão, no piano, tocando, cantando... O João é uma pessoa única, não há adjetivo pra ele não.
- E dinheiro, você está ganhando?
- Tô.
Meu nome é António Batalha, estive a ver e ler algumas coisas de seu blog, achei-o muito bom, e espero vir aqui mais vezes. Meu desejo é que continue a fazer o seu melhor, dando-nos boas mensagens.
ResponderExcluirTenho um blog Peregrino e servo, se desejar visitar ia deixar-me muito honrado.
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Deixo a minha benção e muita paz e saúde.
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ResponderExcluirUm abraço