Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Pensamento de Bezerra da Silva

Nascimento: "Quando eu nasci, o meu pai já tinha largado minha mãe. Segundo ela, eu nasci no dia nove de março de 1936. Ela anotou a data num papel, guardou num baú, e os ratos comeram. Meu pai me registrou no Méier, nascido em 23/02/1927. Então,eu faço aniversário duas vezes ao ano."
Rock: "Quando gravei com o RPM, eles me explicaram que a mensagem deles é igual à minha, só mudaram os sinônimos. A música era sobre umas latas. Não tinha entendido nada daquele negócio. Depois é que me falaram que era maconha que tinha aparecido boiando."
Compositores de  verdade: " Esse gênero que eu canto eu não sei compor. Eu comoponho mais coco. Tenho uma equipe de compositores, principalmente da Baixada Fluminense, que é o quartel general do samba. Eu não tou com esse futebol todo não, se soubesse fazer isso tudo já tinha comprado um avião, entendeu malandro?"
Drogas: "Não bebo, fumo muito pouco, não fumo maconha, nem cheiro cocaína. Ficam dizendo que o Bezerra dá dois, que o Bezerra cafunga. Eles ficam tudo instigados com as minhas letras. Dizem que eu dou dois, mas não ligo. É bom porque vende disco."
Sequestro: "Outro dia me perguntaram se eu não tinha medo de ser sequestrado. Eu nunca vi ninguém sequestrar crioulo. Se me sequestrarem, já avisei em casa, o meu resgate é um berimbau que eu tenho lá."
Pagode: Isso não existe como gênero musical. É um encontro, uma reunião. Agora virou uma etiqueta comercial. O que eu faço é partido alto."
Malandragem: "Não existe malandro no morro. Só pode dizer isso dos ministros, do presidente. Dizem que malandro é ladrão e maconheiro, eles são vítimas da sociedade. Nas quais eu me enquadro, só que escapei. Malandro de verdade, você encontra na Vieira Souto, tudo morando de frente pro mar. Malandro que mora no morro ou é débil mental ou maluco."
Morro: "O pessoal do morro não tem dinheiro pra comprar drogas. Eles ficam só segurando o flagrante e cheirando a rapa. Lá tem sempre um para segurar a descarga."
Negritude: "Se Deus deixasse eu fazer do jeito que eu quero, com a cuca que tenho, eu seria verde. Todo bonito. Ninguém ia ser igual a mim. Eu seria um sucesso com o cabelo todo de ouro. Ia ser tudo comigo mesmo, mas me fizeram um crioulo esquisito."
Polícia: "Eu morei vinte anos no Morro do Cantagalo. Entrei em cana uma porção de vezes para averiguações. Fui campeão de averiguações, mas nunca respondi processo. Meu boletim é nada consta. Um dia eles abriram a porta da viatura e eu sentei por minha conta. Só me prendiam para marcar ponto."
Começo de carreira: "Nasci em Pernambuco. Vim para o Rio de Janeiro com quinze anos de idade, correndo na frente de um boi zebu, só com a roupa do corpo. Já nasci músico, mas trabalhava em obra, era pintor."
Indústria do disco: "Acabei de renovar o contrato e foi aquele dá não dá. Eles têm medo de dar dinheiro pra crioulo, acham que o cara vai comer o papel. Crioulo sai logo gritando pela rua: 'Tô com dinheiro!'. Mas eu sei o que faço, pode me dar o meu."

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