segunda-feira, 12 de março de 2012
Pepeu Gomes e Sérgio Dias Falam de Hendrix
Pepeu Gomes e Sérgio Dias são, sem dúvida, dois dos maiores guitarristas que já tocaram nesse país. Integrantes de duas bandas revolucionárias, Novos Baianos e Mutantes, Pepeu e Sérgio só por esse fato já merecem entrar para a história musical desse país. Ambos iniciaram na carreira ainda nos anos 60, quando os primeiros ecos da música de Jimi Hendrix chegavam por aqui, ainda timidamente, mas já mostrando que algo de novo estava acontecendo, e quem se aventurava a impunhar uma guitarra tinha que se ligar nos acordes inusitados de um negão americano que vinha incendiando o panorama do rock. E assim, Pepeu e Sérgio acabaram bebendo da fonte hendrixiana, e se tornaram os músicos que são.
Por ocasião do aniversário de trinta anos de morte de Hendrix, em 2000, Pepeu Gomes e Sérgio Dias deram seus depoimentos sobre a influência e a presença de Jimi Hendrix em sua música, para uma matéria do jornal O Globo, em 10/09/2000:
"Casado com o Instrumento
Pepeu Gomes
Se hoje toco guitarra é por causa dele. Aos 14 anos, já era baixista mas, no meu aniversário de 17 anos, ganhei um disco de Jimi Hendrix, chamado 'Smash Hits'. Naquela noite, fui dormir contrabaixista e acordei guitarrista. Isso aconteceu na época do disco 'Barra 69', quando eu tocava com os Leif's, grupo que acompanhou Caetano e Gil no show que fizeram em Salvador, antes do exílio em Londres.
Mas a influência não se restringiu à música, mudou a minha vida. Queria ser Hendrix, me vestir como ele, usando até uma peruca com cabelo de negão. Meus discos iniciais têm frases inspiradas nele. Então, a ascendência em meu trabalho não é parcial, e sim, total. Tive o presente divino de conhecer Hendrix aos 17 anos e, um ano depois, sua morte também mexeu comigo: eu me revoltei e fugi de casa.
Hendrix não sabia ler e escrever música, mas contribuiu decisivamente para a evolução do instrumento. Ele dizia: 'A minha namorada e a minha guitarra são a mesma coisa'. Hoje com as conquistas tecnológicas, poucos guitarristas mantêm essa troca. Acho que, como Hendrix, você tem que dormir com a guitarra.
Um dos elogios mais importantes na minha carreira foi em 1989, quando a revista 'Guitar World' me chamou de 'Jimi Hendrix brasileiro'. E, esta semana, recebi um convite maravilhoso da gravadora Trama: fazer um disco em homenagem a Hendrix. É um ciclo que se completa."
Obs: Que eu saiba, esse disco nunca foi lançado
"O Músico Que Botou Cor no Rock
Sérgio Dias
Lembro-me da primeira vez que ouvi Jimi Hendrix, na casa de um amigo: foi como se a cor tivesse sido ligada e o rock saído do branco e do preto. Pelo fato de eu ser guitarrista, aquilo mexeu demais comigo. Eu queria aprender o que aquele cara estava tocando. Tempos depois, assistindo ao filme de Woodstock, no momento daquele blues, vi Hendrix tão profundamente imerso na música, olhando para a câmera, e entendi tudo. Naquela hora, levantei, fui embora do cinema e fiquei andando na rua sem rumo, digerindo toda aquela informação. Pouca gente teve tanta influência sobre mim nesse nível.
No disco que estou terminando, 'Estação da Luz', tem uma música na qual cito 'Are You Experienced?'. E numa outra, 'Araras', faço longos solos hendrixianos. É uma pena que Hendrix tenha partido tão cedo, dá uma grande solidão."
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