O Joy Division se tornou com o tempo uma banda cult, apesar de vida efêmera: só lançou um EP e dois LPs. As letras de Ian Curtis, que era o vocalista da banda, logo chamaram a atenção após o lançamento de seu primeiro álbum, Unknown Pleasures, de 79. A crítica recebeu muito bem esse disco, assim como Closer, de 80, seu trabalho posterior. Ian uma vez declarou: "Nós fazemos música para nós mesmos, mas esperamos que, ainda assim, outras pessoas gostem dela". Porém antes de iniciarem uma turnê de lançamento de Closer, Ian se suicidou em sua casa. Após o choque, a banda resolve continuar, mas com outro nome: New Order, tendo uma trajetória de sucesso.
Em 17/05/87, o jornalista Tom Leão, editor do Rio Fanzine, do jornal O Globo, relembrava a trajetória de Ian Curtis, numa matéria intitulada "Num lugar solitário":
"Era um domingo. Tranquilo como são os domingos. Principalmente em Macclesfield, na fria e cinzenta Manchester, norte da Inglaterra. Um enigmático jovem havia se isolado dos amigos no sábado à noite. Ficou em casa e assitiu na TV ao filme 'Stroszek', do cineasta alemão Werner Herzog, seu diretor preferido. Não chegou a contemplar as luzes naquele domingo que se anunciava. Em suas primeiras horas deixou seu corpo pender na ponta de uma corda, indo embora dessa vida por vontade própria.
Foi assim, sete anos atrás, que Ian Curtis, o vocalista e letrista do grupo inglês Joy Division, suicidou-se. Foi embora, em silêncio. Quais os motivos? Amor demais? Depressão? Quem sabe? As pistas estão em suas letras. Desde as primeiras, ele já esboçava uma história que caminhava para um final triste. Sua derradeira, 'In a Lonely Place', é um verdadeiro bilhete de despedida. Sugere a morte de alguém querido e promete em breve o encontro entre aquele que foi e o que aqui ficou. A corda, veículo usado por Curtis para empreender sua viagem, estava lá, citada na frase 'cord stretches tigh then it breacks/ a corda parte de tanto apertar'.
A trajetória de Curtis e do Joy Division (nome dado ao local onde, nos campos de concentração os nazistas abusavam das prostitutas) começou também em maio, dez anos atrás, com o primeiro show no Eletric Circus, em Manchester, abrindo para os grupos Buzzcocks e Penetration. Até o momento da morte de Curtis, o grupo era cultuado por uma minoria, e seu disco de estreia, 'Unknown Pleasures', um diamante bruto maravilhosamente lapidado pelo produtor Martin Hannet - conhecido por poucos.
Hoje, após uma avaliação completa do trabalho, alguns críticos comparam a importância do Joy Division para os grupos dos anos oitenta ao que representou o Led Zeppelin para o hard rock e o heavy metal. De fato, tudo o que se fez depois, e que passou a ser conhecido aqui como dark e suas variantes, nasceu com o Joy. De acordes diferentes de baixo e guitarra à bateria seca e à colocação de voz - no caso do grupo, totalmente natural - está tudo lá.
A última aparição de Curtis foi no dia 2 de maio, em show na Universidade de Bimingham, registrado e lançado no álbum duplo 'Still' (81). Poucos dias antes do epílogo de sua vida, Curtis foi filmado no pardieiro em que o grupo ensaiava, o clip (que não era bem um clip), de 'Love Will Tear Us Apart'. O single, lançado após sua morte, transformou-se ironicamente num campeão de vendagens, alcançou o primeiro posto na parada, e hoje é a música que marca aquele momento. Ele tinha apenas 23 anos. E a morte, mais uma vez, transformou-se num show.
A sequência natural do Joy Division, o New Order (nome também inspirado nos nazis e que ao mesmo tempo indica um novo caminho), demorou a se livrar da carga que pesou sobre a banda. Gravaram todas as letras deixadas por Curtis em elepês, compactos e mixes, fizeram um disco de estreia ainda dentro do clima, e agora vivem um período de sucesso pop internacional, onde as melodias são bastante dançantes, mas as letras ainda são densas: o colorido substuiu o cinzento. Contudo, o peso de Ian Curtis e Joy Division jamais será esquecido."
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