Hot Rats, de Frank Zappa, é um dos discos mais representativos de sua obra genial. Lançado em 1969, Hot Rats é considerado por muitos críticos, um dos precursores do jazz-rock, já que foi lançado no mesmo do ano do revolucionário Bitches Brew, de Miles Davis, considerado como a pedra fundamental do nascedouro estilo fusion. Como o disco de Zappa trazia elementos jazzísticos, unidos ao rock, o álbum também carrega esse caráter inovador.
Em 1979, dez anos depois de seu lançamento, Hot Rats foi relançado no Brasil, pela gravadora Warner, em uma série denominada Momentos Históricos, que também trazia outras obras de peso. Na ocasião, o crítico Luís Fridman, comenta o álbum:
"Hot Rats tem dez anos. Desde a sua edição, Frank Zappa mudou muito, mas o que mudou mesmo foi o panorama do rock. Zappa é um desses artistas que qualquer mentalidade mais conservadora considera logo como uma ameaça às instituições, o que certamente funciona como forte atrativo a qualquer mentalidade mais transformadora. Ele conseguiu o que poucos artistas dentro do mundo do rock puderam realizar com suficiente coerência: ser musical e político, e igualmente talentoso nos dois campos. Desde o início, Frank Zappa incomodou os produtores das gravadoras com seus esquemas caríssimos de produção de discos e suas declarações audaciosas acerca dos mecanismos não muito honestos do mundo do rock, que naquela época ficavam mais obscurecidos pela fantástica significação que as modernas experiências tinham para parcelas muito ampliadas da juventude.
Ele não fazia uma música fácil e suas declarações não se pautavam, também, por certezas fáceis. Esses aspectos poderiam contar desfavoravelmente para a sua carreira musical mas, ao contrário, serviram para uma definição de gostos e posições que o distinguiram no mercado, não sei se para sua satisfação ou desespero. Zappa, apesar de roqueiro inato, nunca se entusiasmou pela cultura do rock que acreditava ser dominado por certos valores retrógrados e alienantes, e não chegou a surpreender algumas suposições que ele lançou, durante um certo tempo, de que a cultura das drogas tinha forte influência dos planos da Cia para alienar a juventude americana de propósitos culturais e políticos de maior consequência. Essas afirmações não podem ser provadas com exatidão, mas, sem dúvida, Frank Zappa fez muita gente coçar a cabeça numa época em que 'paz e amor' significavam palavras de ordem de grande repercussão.
Musicalmente Zappa sempre teve uma forte influência do jazz, porém a sua maneira de fazer música tinha os componentes básicos de interpretação próprios do rock desenvolvido durante a década de 60, além de um inesgotável talento no manejo da guitarra que o fez um dos maiores do instrumento. Ainda assim, amargo quanto a seu futuro, enquanto estrela, Zappa não deixou de declarar, algum tempo depois, que não adiantava mais desenvolver as suas escalas e solos porque as fileiras dos músicos modernos estavam cheias de garotos que conheciam tudo da guitarra e que eram, sempre, candidatos ao estrelato do instrumento. Ironizava, com isso, o esquema de competição próprio do rock já em decadência onde antes da música vinha o interesse imediato de participar dos pools de instrumentistas das revistas especializadas. Ainda assim, diga-se que Frank Zappa foi um feroz crítico do rock a partir de dentro. Suas decepções, e mesmo esperanças, não se alimentavam de uma atitude racionalista e distanciada dessa maneira de fazer música e de atuar na cultura.
'Hot Rats' é um dos melhores momentos musicais de Zappa que, com o correr dos anos, perdeu a sua influência ideológica, mas permaneceu um inveterado experimentador. Esse disco, se levarmos em consideração os dez anos que nos separam de sua edição, traz experiências muito significativas de associação do rock com o jazz e inovações rítmicas e de integração de instrumentos bastante originais. A faixa 'Beaches en Regalia' é uma passagem clássica das novidades que Zappa trouxe para a música norte-americana. Fica ainda a lembrança que outros desses magníficos momentos de sua música, o LP 'Chunga's Revenge', ainda não foi editado no Brasil."
Nenhum comentário:
Postar um comentário