Palavras Domesticadas

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domingo, 18 de março de 2012

Governo da Ditadura Proíbe Joan Baez de Cantar no Brasil



A ditadura militar do Brasil, já no início dos anos 80, quando estava mais branda, e em plena era de uma abertura política gradual, ainda demonstrava seu caráter totalitário. A cantora americana Joan Baez, famosa não só por sua bela voz, mas também por sua posição política, sempre em defesa dos direitos civis, foi proibida de cantar no Brasil. Não me lembro exatamente do ano em que esse fato ocorreu, já que o recorte de jornal que guardo está sem data, mas sei que foi no início dos anos 80.
Na época, a redemocratização do país acontecia de forma tímida, mas já era um avanço, após tantos anos de ditadura. Alguns setores de esquerda, ligados principalmente ao recém-criado PT enxergavam na vinda Joan Baez uma possibilidade de discutir sobre os desmandos da ditadura e questões ligadas aos direitos humanos e outros fatores que incomodavam os militares, e a proibição dos shows da cantora, conhecida por seu posicionamento político de esquerda desde seu início de carreira como cantora folk, ainda nos anos 60. Ao lado de Bob Dylan era o principal nome de um estilo de músicas engajadas e politizadas, conhecidas como protest songs. Segue abaixo a matéria, do jornal O Globo:
"Bonita, elegante, bem humorada e, principalmente, muito simpática, Joan Baez conversou durante pouco mais de uma hora com os repórteres na sala de recepção do Hotel Excelsior, na Avenida Atlântica. Apesar de se dizer feliz por estar no Rio, lamentou que sua apresentação esteja cercada de proibições:
- A polícia ainda não falou comigo, mas com os organizadores do show. É estranho reparar que os únicos três países que me impediram de cantar foram a União Soviética, a Argentina e o Brasil. No Chile não houve qualquer proibição oficial, não tive problemas com a polícia e cantei para sete mil pessoas. Assim, não sei como vai ficar. Vamos aguardar.
A pergunta de como ela via um símbolo da paz proibido de cantar, respondeu:
- Um símbolo da paz fala de repressão, opressão, direitos humanos.

A proibição de cantar surgiu depois que você fez declarações políticas em São Paulo, falando de Lula e Miterrand? - perguntou um jornalista.
- Não, acho que os problemas começaram antes disso. Só agora entendo porque houve tantos problemas antes. É, mas esse é só um pequeno problema. Talvez seja bom para o Brasil. Talvez isso consiga mostrar que o Brasil não é só lugar de sol e praias bonitas. O importante não sou eu aqui. Importante são as pessoas que ficam aqui depois de eu viajar.
Joan Baez, que afirmou ser impossível não misturar arte à política, disse que o que tem feito nesses últimos 25 anos é 'tentar introduzir qualquer alternativa para a violência, em qualquer que seja a situação, porque já se vive num mundo enormemente violento'.
Citando Indira Ghandi e Martin Luther King, a cantora pacifista que costuma atrair multidões a seus shows, disse que gostaria de ver o fim dos militares e de todas as pessoas que acham bom matar outra pessoa, 'em qualquer que seja o país'.
Sempre muito simpática, Joan Baez disse que não se sentiu em perigo na América Latina, onde está há 20 dias, e que tudo que aconteceu serviu para lhe dar uma ideia dos problemas enfrentados pelos que aqui querem 'fazer um trabalho sério'."

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