Luiz Carlos Maciel é considerado o grande arauto da contracultura no Brasil, por sempre ter difundido o assunto através principalmente da coluna "Underground", que mantinha no jornal O Pasquim, nos anos 60 e 70. Nasceu em 15 de março de 1938, em Porto Alegre. É escritor, jornalista, diretor de teatro, roteirista de cinema e televisão, professor e conferencista.
Em julho de 1981, Maciel escreveu para a revista Careta uma matéria intitulada O Que É a Contracultura, em que explica e define o que vem a ser essa palavra tão usada nos anos 60:
"O termo 'contracultura' foi inventado pela imprensa norte-americana, nos anos 60, para designar um conjunto de manifestações culturais novas que floresceram, não só nos Estados Unidos, como em vários países, especialmente na Europa e, embora com menos intensidade e repercussão, na América Latina. Na verdade, é um termo adequado porque uma das características básicas do fenômeno é o fato de se opor de diferentes maneiras à cultura vigente e oficializada pelas principais instituições da sociedade do Ocidente.
Contracultura é a cultura marginal, independente do reconhecimento oficial. No sentido universitário do termo, é uma anti-cultura. Obedece a instintos desclassificados nos quadros acadêmicos.
Pode-se entender contracultura, a palavra, de duas maneiras:
a) como um fenômeno histórico concreto e particular, cuja origem pode ser localizada nos anos 60
b)como uma postura, ou até uma posição, em face da cultura convencional, de crítica radical.
No primeiro sentido, a contracultura não é, só foi; no segundo, foi, é e certamente será.
Acostumamos, através da educação, a ver na cultura que herdamos de nossos pais e antepassados, uma entidade intocável, definitiva, que se apresenta diante de nós como parte da própria essência da realidade - algo 'natural' como o sol ou a lua, ou o resultado de uma evolução que se diria 'biológica' porque inevitável.
É evidente, porém, que não é assim. Cultura é um produto histórico, isto é, contingente, mais acidental do que necessário, uma criação arbitrária da liberdade - cujo modelo supremo é a Arte.
Não há cultura, a rigor - como manifestação de uma inexistente 'natureza' humana, por exemplo - mas culturas no plural, criadas por diferentes homens em diferentes épocas, lugares e condições, tanto objetivas quanto subjetivas. Elas expressam, não a realidade em si, mas diferentes maneiras de ver essa realidade e de interpretá-la. São diferentes leituras do mundo e por nenhum critério pretensamente objetivo podemos afirmar que uma seja mais válida - ou mais 'objetiva', 'verdadeira', 'científica', etc - do que outra.
Criamos, inventamos culturas - e a todo momento, praticamente sem cessar. Trata-se, apenas, no fundo, de um jogo cuja graça maior há de ser, sempre, sua carga poética. O valor mais alto de uma cultura é sua visão poética.
Cultura, pois, é essencialmente Arte - um dos piores prejuízos causados pela visão científica que domina a nossa cultura foi a de distorcer, obscurecer e finalmente ignorar esse fato.
A contracultura surgiu do confronto entre a cultura, reconhecida como doença, e a visão juvenil, cujo instinto natural é para a saúde. A audácia dessa visão não pode ser considerada mera precipitação ingênua pois funda-se, antes, num desencanto radical - atingido por saturação, maturidade - com o mundo tal como o conhecemos.
As vertentes que confluíram para a formação da contracultura são várias, de naturezas aparentemente diversas, mas sublinhadas pelo denominador comum da intenção libertária. E a fonte instintiva dessa intenção é, sem dúvida, a visão juvenil."
Adoro o tema.
ResponderExcluirsou pesquisador do tema, se alguém tiver material e puder me encaminhar!
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