Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sábado, 24 de março de 2012

Fagner Lança Novo Disco em 76



Em 1976 Fagner lançava seu terceiro disco, que levava seu nome, Raimundo Fagner. Considero esse um dos melhores discos de sua careira. Fagner ainda vinha se afirmando no cenário da música, e ainda não havia alcançado um grande sucesso, mas já era um cantor e compositor de prestígio, capaz de lotar teatros por onde se apresentava. Na ocasião, dois de seus conterrâneos cearenses, Belchior e Ednardo, estavam fazendo grande sucesso, e serviam de referência quando se falava de artistas nordestinos bem sucedidos. Numa matéria da jornalista Ana Maria Bahiana publicada no jornal O Globo, em 08/11/76, Fagner fala sobre o novo lançamento, sua carreira, e a busca pelo sucesso:
"Eu diria que este disco fecha um triângulo. Ele tem coisas do primeiro e do segundo, mais do primeiro que do segundo. Ele é bem pé-na-terra, daí a ligação com aquele primeiro Lp, o da Philips. Era um disco de quem estava chegando aqui, cheio de coisas pra contar, cheio de coisas do Ceará, onde tudo é muito chão, não tem besteira não, é tudo muito real. O segundo disco tinha um pique que essse também tem, mas era um disco muito assim... voando, não sabe. Foi uma zorra danada. Foi uma época muito zorrada da minha vida, onde tudo estava voando, fora do chão, e o disco refletiu isso naturalmente, essa confusão. Daí esse disco... é como um marco. É como se eu visse tudo o que eu fiz até aqui, erros e acertos, e dissesse, tá bom, teve tudo isso mas agora não tem mais, agora é tudo de novo. Ele ensina muito, esse disco. Quem estava me secando, querendo saber alguma coisa nos outros discos, vai ver isso claramente agora. É um disco muito claro e muito simples".

"Hoje estou fora e dentro ao mesmo tempo. Hoje eu sei como é, como se faz. Antes eu fazia discos pra não vender. Eu tenho toda a consciência disso, embora na época não soubesse disso. Eu tinha oportunidades incríveis de fazer sucesso, de acontecer coisas, e estragava tudo, jogava tudo pro alto. Agora eu fiz um disco para vender. Não foi feito propositalmente pensando nisso, com esse objetivo, não tem um fim puramente de jogada, de grana. Não: é um disco com todas as coisas exatamente como eu queria dizer. Mas é um disco que me possibilita uma escolha: ele pode vender ou não. Depende de mim e do que eu quiser fazer. Olha, vou dizer como é que é: estou em cima de um muro. É isso, eu me sinto exatamente assim. Em cima de um muro."
"Agora, eu também desconfio muito do sucesso que vem de repente, de uma hora pra outra. Esse eu não quero. O sucesso tem que vir como uma coisa natural, gradativa, tem que vir como decorrência do teu trabalho, da tua atuação constante, e não por causa de lances, jogadas, acidentes... O sucesso só é legal quando chega na hora certa, quando você está pronto. Senão você se dá muito mal. Como eu acho que o Belchior e o Ednardo vão se dar, se eles não abriram o olho e tomarem cuidado."
"Eu comparo minha carreira com a do Milton Nascimento. Sempre ali, sempre firme, mas sempre pelos lados, assim paralelo ao sucesso, mas sempre crescendo. Eu também estou indo paralelo às coisas, sem ir com muita sede, com sofreguidão. Na hora certa as coisas pintam."

3 comentários:

  1. "O sucesso só é legal quando chega na hora certa, quando você está pronto. Senão você se dá muito mal. Como eu acho que o Belchior e o Ednardo vão se dar, se eles não abriram o olho e tomarem cuidado".

    Previu o futuro de uma maneira absurda!

    ResponderExcluir
  2. Exato. O sucesso é algo que se tem de administrar. O talento dos dois é inegável, mas o mercado de música nem sempre permite que os artistas realmente talentosos estejam na mídia.
    Abraço

    ResponderExcluir
  3. Convenhamos que com o tempo o Fagner se rendeu mais ao mercado que Ednardo e Belchior.

    ResponderExcluir