Neil Young é um artista inquieto, cujo trabalho tem múltiplas faces, passando pelo country-rock de seus primeiros tempos, flertando com o rock pesado, o eletrônico e outros estilos que já visitou.
Em 1992 Young lançava mais um disco: Harvest Moon, que chegou às lojas brasileiras no início do ano seguinte. Em sua edição de 06/12/92 o jornal O Globo, na seção Rio Fanzine, o disco, que ainda não havia chegado ao Brasil, era comentado pelo jornalista José Emílio Rondeau, correspondente de Los Angeles. A matéria, intitulada "Eternamente Young", além de falar do lançamento, também analisava as diferentes fases de seu trabalho, ao longo de sua carreira. A ilustração abaixo, presente na matéria ajuda a compreender o espírito camaleônico do músico canadense. Segue a transcrição desse trecho da matéria:
"Convencionou-se chamar David Bowie de camaleão - uma referência à capacidade do artista vestir e despir diferentes, e às vezes conflitantes, personas musicais - quando a definição caberia igualmente bem em Neil Young.
Mesmo que as camaleonices de Bowie tenham sido mais evidentes através dos anos, mesmo que Young aparente hoje ser essencialmente o mesmo que ouvíamos harmonizando com os Buffallo Springfield, o fato é que Neil tem se mostrado tão ou mais irrequieto que seu colega.
Se formos acompanhar a carreira de Neil desde o início até os dias de hoje, verificaremos que ela abriga inúmeras fases - algumas tão curtas que não chegam a durar mais que um disco ou uma turnê. 'Harvest Moon', por exemplo, marca um regresso às explorações pelo country-rock de uma fase 'casa no campo' vista/ouvida por último em 1972. Mas logo antes desse novo disco, Neil estava montado no Crazy Horse, estraçalhando os tímpanos alheios com microfonias de 'Arc'/'Weld', por sua vez um prosseguimento do mesmo espírito metálico/pesado de 'Regend Glory', que já era uma ampliação do apresentado quase dez anos durante a troika disco/tunê/vídeo 'Rust Never Sleeps'/'Live Rust'.
Nesse meio-tempo, porém, Neil se divertia cofundindo todo mundo que achava ter desvendado nele as inclinações favoritas. Antes que houvesse um nome para o gênero, Young já investigava as possibilidades do tecnopop em discos como 'Trans'. Não muito tempo atrás, Neil encheu-se de ares big band e, por acidente, garimpou um de seus maiores hits, a canção 'This Note's For You' - ironicamente, uma gozação com o mercantilismo crescente no rock que foi premiada com o troféu de 'Melhor Vídeo' pela MTV.
E ainda quando parecemos estar compreendendo cem por cento qual é a de uma determinada fase musical de Neil, ele se sai com um ás da manga que deixa todo mundo estatelado. Durante a turnê que deu origem a 'Arc' e 'Weld', em meio à Guerra do Golfo, Young iniciava seus shows com Jimi Hendrix desconstruindo o Hino Americano em Woodstock. Vai das tantas, parava tudo e, sozinho no violão, cantava 'Blowin' In The Wind', de Bob Dylan. Só que, na qualidade de Republicano de carteirinha, se esperaria dele um apoio a George Bush (o pai)."
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