Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sábado, 21 de setembro de 2013

Gilberto Gil Fala de Jorge Mautner (1974)

Quando Jorge Mautner lançou seu segundo disco, em 1974, Gilberto Gil, que era contratado da mesma gravadora (Phonogram) escreveu um release sobre o disco, num material de divulgação. O texto é intitulado "Como Gil Vê Jorge", que transcrevo abaixo:
" 1- Jorge Mautner é um homem, forte como um rochedo, claro como a água, leve como o vento, os fios elétricos, a bola de borracha, os buracos da flauta, a sola do sapato, as patas do mosquito, e o palito no meio do pirulito. Jorge Mautner pode ser qualquer coisa, porque ele quer ser qualquer coisa. Tudo. Claro que tudo é tudo e todo mundo é, diria você; mas Jorge realiza, em si, a caminhada para a consciência deste TUDO; e como ele brinca com as pedras do caminho!
2 - Jorge Mautner é uma criança distraída e tola, sua tolice é como a lente potente do telescópio do Monte Palomar; traz as estrelas para perto, para dentro, para o centro do pensar. Pensar tolices do menino numa máquina de ampliar. Assim é como eu já vi Jorge Mautner tantas vezes, a pensar, ele é, não tenho dúvidas; ele é um menino distraído que nos pede para lhe ensinar. Um mestre. Ele é um mestre.
3 - 'Desafinado' foi um manifesto da alma do homem da história daquele tempo-Brasil, anos 50. 'Tropicália' foi um manifesto da alma do homem da história daquele tempo-Brasil anos 60. 'Maracatu Atômico' é um manifesto da alma dos anos 50, 60 e 70, é deste tempo-Brasil, caminho do corpo universal, o espírito de Deus.
4 - O LP de Jorge Mautner tem treze músicas, dele ou de parceria com Nelson Jacobina, um garoto dos sonhos cariocas, de aventura de Ipanema. Tuti Moreno e Chico Azevedo, tocam bateria e percussão, e Jorge, Jacobina, Roberto Carvalho e eu, aparecemos aqui e ali, tocando piano, guitarra, violino, bandolim e violão. Jorge canta tudo com aquele jeito de século XIX e XXI. Eu gosto muito do disco. Ataulfo Alves se deliciaria com 'Matemática do Desejo'. Os sambas são todos lindos, e, 'Ginga na Mandinga', de parceria com o baixista Rodolfo Grani Jr. é uma serpenteira que se desenrola enrolando todo mundo, de João Gilberto a Herbie Hancock. Os rocktosos 'Guzzy Muzzy', 'Rock da TV', 'Cinco Bombas Atômicas' e 'Salto no Escuro' me fazem pensar que afinal pinta uma banda, aqui, tocando e soando como os Rolling Stones e assim mil anos-luz de distância dos Rolling Stones, pra frente ou pra trás. Aliás, o LP, eu tenho um pensamento/síntese: o disco está atrás ou à frente, acima ou abaixo de qualquer crítica. Para uma terra que tem Jorge Ben tinha que pintar Jorge Mautner.
Beijos,
Gilberto Gil
PS: Rodolfo, o baixista, é uma espécie, assim, de Gérson do time, observou Caetano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário