George Harrison foi sem dúvida um dos grandes ícones do rock. Um compositor fantástico e uma figura carismática, apesar de ser um tanto tímido e recluso para um astro do rock. George não era muito chegado a grandes turnês, e seus shows eram muitos esparsos. Por isso quando era anunciada uma turnê de George, o fato virava notícia no meio musical, como em 1992, quando saiu em excursão pelo Japão com o amigo de sempre, Eric Clapton. Na ocasião o correspondente do jornal O Globo nos Estados Unidos, José Emílio Rondeau, noticiou o fato na seção "Rio Fanzine", em 26/07/92:
"Desde 1974 George Harrison não fazia turnês. Apenas eventualmente o ex-Beatle subia ao palco, geralmente em ocasiões muito especiais, raras em espetáculos beneficentes, como o Prince's Trust Fund, ou dando uma canja em shows de seu velho amigo Eric Clapton. Triturado pela crítica durante a turnê 'Dark Horse', de 74 - uma excursão marcada por muito nervosismo e problemas em suas cordas vocais - George preferiu restringir suas atividades musicais ao estúdio.
Dezessete anos mais tarde, convencido (pressionado?) por Clapton, Harrison topou retornar aos palcos para uma mini-turnê de 12 shows em Osaka e Tóquio, no Japão. Este 'Live in Japan' é o registro dessa turnê: dois CDs (ou dois cassetes), com 19 faixas selecionadas de um repertório generoso, que cobre algumas das melhores suas suas com e sem os Beatles.
Livre, em teoria, da posição de bandleader - no íntimo, Harrison se comportava como mais um integrante da banda de Clapton, embora fosse ele a atração principal do show, todos os vocais principais fossem seus e quase todas as músicas, exceto uma ('Roll Over Beethoven', de Chuck Berry) fossem de sua autoria - George está à vontade e confiante. E com isso conseguiu realizar o melhor disco ao vivo já gravado por um ex-Beatle.
Apoiado por uma das melhores bandas em atividade - a de Clapton, que conta com músicos como o baixista e vocalista Nathan East, e os tecladistas Greg Philinganes e Chuck Leavell - George percorre com segurança e entusiasmo uma lista de clássicos, quase sempre acrescentando um peso e uma dramaticidade superiores ao ouvido nas gravações originais.
Ele pinçou músicas que cantava com os Beatles - como 'I Want To Tell You', que os japoneses ouviram pela primeira vez em 1966, quando os Beatles se apresentaram pela primeira vez no Budokan - as revisitou com um novo approach, enxertando novidades - em 'Taxman' ele pode ter mantido e utilizado em sampling a contagem e a tossida que abrem a versão do disco, mas agora ele ataca George Bush, ao invés dos governantes ingleses dos anos 60 alfinetados em 'Revolver'. Por fim, ele misturou sem a menor cerimônia assinaturas musicais de sua carreira Beatle e de sua discografia solo - no refrão de 'Isn't It A Pity', ele acrecenta um pedaço de 'Hey Jude".
Além disso, George reestruturou muitas canções, algumas delas do começo ao fim. 'Something' pega de surpresa o ouvinte, numa cover em muitos aspectos superior à versão original do disco 'Abbey Road'.
Estão aqui os pilares obrigatórios - 'My Sweet Lord' é provavelmente o que menos falta faria - mas há no disco um bom número de raridades nunca antes ouvidas ao vivo, como 'Piggies' (do 'Álbum Branco', com direito à coda de 'One More Time'). E mesmo o material mais fraco - 'Devil's Radio', 'All Those Years Ago', 'Darkhorse' - soa forte, por causa do ataque e do balanço da banda."
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