Em 1978 a revista Música trazia uma matéria de capa com João Bosco, que falou de sua carreira, seus discos e da parceria com Aldir Blanc, que começava a dar os primeiros sinais de uma dissolução, que ocorreria alguns anos depois. A matéria se intitulava "Novos Rumos Para João Bosco" e era assinada por Valdir Moura:
"Há cinco anos, o músico João Bosco de Freitas Mucci, 31 anos, vem vivendo da profissão de compositor/intérprete. Nesse período, quatro elepês foram gravados - 'João Bosco', 'Caça à Raposa', 'Galos de Briga' e 'Tiro de Misericórdia' - e seu trabalho em parceria com o letrista Aldir blanc tem sido unanimemente reconhecido como um dos melhores na música popular brasileira.
Rapidamente, ele analisa o encadeamento desses discos. 'Acredito que o primeiro disco - 'João Bosco' - tem uma colocação bem distinta dos posteriores. Não que seja diferente dos outros em termos estéticos, mas foi um trabalho feito por correspondência. Eu em Minas e o Aldir no Rio. Começamos a parceria em 69 e só viemos a gravar em 73. Então, o repertório do primeiro disco me pegou morando e convivendo com as coisas e pessoas de lá.. E morar lá significa realizar um trabalho dentro de um clima, de uma situação completamente diferente.'
Exatamente nesse período, o compositor muda-se para o Rio de Janeiro. 'Já no segundo disco - 'Caça à Raposa' - aconteceu a minha integração com a cidade.. 'Galos de Briga' e 'Tiro de Misericórdia' vêm dessa cidade grande, onde estou vivendo e compondo.' Todos têm uma importância muito grande, pois são trabalhos realizados no momento em que vivi. Por isso o que importa é a observação diária da gente, esteja onde estiver.'
A partir desse dado - a observação do dia-a-dia -, o processo de elaboração dos discos limita-se basicamente à seleção de músicas, pois 'a gente nunca trabalhou especificamente para fazer um disco, isto é, a partir da 'Caça à Raposa'.
O único trabalho, então, é o de selecionar o repertório do que já está composto. Dessa forma, o trabalho de composição foi feito sempre sem problemas, sem preocupações específicas com o disco. E na época de gravar, por exemplo, 'só anotávamos o que ia para o disco'.
Após esses anos de trabalho em parceria, Bosco afirma que seu trabalho musical, assim como o de Aldir, não existe isoladamente. 'Acredito no trabalho em parceria com Aldir, pois temos objetivos comuns em diversos caminhos da vida. Musicar letra, ou jogar letra em música, era uma coisa só. Sempre existiu a preocupação de ser parceiro, de somar, de ter um resultado final, embora nós nunca tenhamos visto a coisa sob esse ângulo, ou seja, analisar o trabalho de cada um. Fizemos, sempre, o ato de somar.'
Com a recente dissolução da dupla, que ambos chamam de abertura, os rumos ainda estão incertos. 'Nós abrimos a parceria e é muito difícil dizer o que vai ser feito. Na verdade, sou compositor e tenho o violão ao meu lado. É prematuro dizer o que vai ser feito. O fundamental é que, embora abrindo a parceria, resta uma coerência, e isso dá definição ao que será feito. Não posso dizer e não é do meu feitio estar compondo com 'xis' pessoas.'
No momento o mais importante é divulgar 'Tiro de Misericórdia', um trabalho que ele próprio considera de muita maturidade. O que vem a seguir, não se sabe. De certo, porém, só a firme proposta de 'fazer música tendo a preocupação com o que está ao nosso lado, da nossa formação, que nos aproxima e que fale a linguagem da gente. Isso vai continuar. Com quem, ou como, não sei.' "
(continua)
Adoro João Bosco,e estendendo o elogio,Bosco e Blanc na voz de Elis Regina é o ponto mais alto da nossa música.
ResponderExcluir