Para quem é fã de blues, ou acompanha o mundo do rock, sabe que Stevie Ray Vaughan foi um dos melhores guitarristas que passaram por nós, deixando sua marca como músico. Morto prematuramente em um acidente aéreo em agosto de 1990, Stevie é lembrado e cultuado até hoje. Em um recorte de uma matéria publicada no Jornal do Brasil, sem data, mas talvez dos anos 90, o jornalista e crítico Jamari França fala sobre um show-tributo ao grande guitarrista, que contou com a participação de nomes de peso do blues, em um especial de TV. Com o título de "Tributo a quem somou para o blues", segue abaixo a matéria:
"Stevie Ray Vaughan, um texano branco morto em agosto de 1990 num acidente de helicóptero, foi um dos caras que somaram na cartilha do blues. Uma história que começou a ser tocada na primeira metade do século nos algodoais do Mississipi pelos ex-escravos negros, trabalhando com um instrumento do homem branco, o violão, e botando para fora a tristeza de uma raça arrancada à força de suas raízes e abandonada à própria sorte num mundo hostil.
Os negros criaram o blues, eletrificando-o e o viram ganhar o planeta após os anos 60, quando uma geração de músicos ingleses criou uma nova cultura a partir dele e de seu filho, o rock'n roll (como diz Muddy Waters, 'the blues had a child and it was rock'n roll'). Para celebrar Stevie, seu irmão, Jimmie, guitarrista dos Fabulous Thunderbirds, reuniu um pessoal da pesada para um especial de TV. Stevie Ray Vaughan, a Tribute, que virou CD e vídeo, ambos lançados no Brasil pela Sony, a gravadora da japonesinha insinuante.
Dr. John, Eric Clapton, Robert Cray e Bonnie Raitt |
Eric Clapton, Buddy Guy, Robert Cray (que junto com Jimmie, tocaram num festival em Alpine Valley, Wincosin, de onde Stevie sairia no helicóptero que o matou), Bonnie Raitt, B.B. King, Dr. John, Art Neville, o grupo Til-a- Wirl e o Double Trouble, o trio que acompanhava Stevie, viram a alma do avesso em oito músicas para celebrar SRV. No vídeo, derramam adjetivos sobre o homenageado e a inclusão de vários trechos de Stevie tocando mostra que eles têm razão. Palavras como 'intensidade, força e paixão' se repetem nos depoimentos, um locutor menciona a luta dele contra a dependência de drogas (pó e álcool), como influenciou o curso do blues com o domínio absurdo de sua velha Fender Stratocaster, a guitarra que foi a dona absoluta do tributo, com excessão apenas para Lucille, a Gibson 335 de B.B. King.
King e Clapton chamaram atenção para a fluência de Stevie na guitarra: 'Eu toco como numa conversa. Faço frases, às vezes paro para pensar no que vou dizer em seguida. Stevie fluía e fluía, as ideias saindo sem parar. Eu não tenho isso.' diz o mestre Blues Boy. Clapton conta que a primeira vez que ouviu Stevie foi no rádio do carro, e parou no acostamento para escutar, de tão impressionado. 'O que me fascinava nele é que nunca parecia se perder, não fazia uma pausa para pensar no que faria a seguir. Era como um canal aberto.'
Buddy Guy, Jimmie Vaughan, B.B. King e Art Neville |
A ruiva Bonnie Raitt abriu a noite com Pride and Joy, arrasando na guitarra escorrida (slide) num número bem agitado com o Double Trouble. Jimmie Vaughan emenda com Texas Flood, intercalando versos com frases de guitarra num estilo rústico, golpeando as cordas com os dedos. B.B. King canta Telephone Song, com a elegância habitual tanto na roupa, um terno impecável, quanto no estilo de tirar frases curtas e dar puxadas nas cordas de Lucille. Long Way From Home, com Buddy Guy, é cheia de climas na voz e na guitarra; Guy, uma das grandes influências de Stevie, tira efeitos no braço da guitarra e faz escalas curtas. Clapton faz um solo antológico em Ain't Gone'n Give Up On Your Love, enquanto Robert Cray é mais econômico em Love Struck Baby. Aí as guitarras dão vez ao piano boogie de Dr. John, sacolejante em Cold Shot.
A seguir reúnem-se todos para Six Strings Down, com acréscimo de Art Neville no órgão Hammond, uma canção de Neville em homenagem aos grandes músicos mortos, que fazem uma banda no céu. Os três vocalistas negros do Til-a-Whirl arrasam a seguir em Tic Tac, uma canção pacifista de SRV e o final é o SRV Shuffle, um improviso em que todos solam e se divertem. Stevie certamente aplaudiu de pé."
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