O rock revelou várias cantoras que se tornaram verdadeiras musas, por sua beleza, charme e encantamento. Cada uma com seu estilo e seu jeito de se portar no palco e fora dele, com sua personalidade e imagem pública. Nos anos 60 e 70, por exemplo, podemos citar Grace Slick (Jefferson Airplane), Marianne Faithfull, Suzy Quatro, ou mais no fim dos anos 70, e chegando aos 80, Debbie Harry (Blondie), além de tantas outras. Mas uma figura especial foi Nico (1938-1988) vocalista da banda cult Velvet Underground. Nico começou como modelo, e ao entrar para o Velvet se tornou musa da vanguarda de Nova York nos final dos anos 60.
Em 1996 Nico ganhou um documentário, que foi comentado pelo jornalista André Barcinski no Jornal do Brasil em 07/01/96 com o título de "Enigmas da musa pop":
"O ótimo documentário Nico Icon, que acaba de estrear nos Estados Unidos, está jogando luz sobre uma das personagens mais interessantes e enigmáticas da cultura pop: Nico (1938-1988), a modelo e cantora que se tornou musa de Andy Warhol, de Lou Reed e de toda a vanguarda nova-iorquina do fim dos anos 60.
Nascida na Alemanha, Christa Päffgen (o nome artístico Nico foi inspirado pelo sobrenome de um namorado) se mudou para Nova York no início dos anos 60, depois de fazer fama nas passarelas de Paris - tanta fama, aliás, que foi escalada por Federico Fellini para interpretar a si própria em La Dolce Vita. Em Nova York ela começou a experimentar variadas formas artísticas, como cinema e música.
Sua beleza gélida atraiu muitos homens, entre eles o ator Alain Dellon (com quem Nico teve um filho, Ari, nunca reconhecido pelo pai) e músicos como Jim Morrison, do The Doors, Jackson Browne, Iggy Pop e Lou Reed. 'Nico era diferente de todas as mulheres que andavam pela Factory (o grande ateliê de Warhol)', diz no filme o escritor James Young, que tocou teclado na banda de Nico nos anos 80. 'Enquanto as mulheres costumavam ser expansivas, Nico era calada, introspectiva. Ela tinha um ar de mistério que atraía os homens'.
Nico e a Velvet Underground |
Warhol percebeu a chance de ouro de juntar uma nova banda que tinha urgência em arranjar um vocalista - a Velvet Underground - com uma cantora em busca de uma banda. Em 1967, a Velvet, com Nico e Lou Reed dividindo os vocais, lançou The Velvet Underground & Nico, um dos discos mais influentes do rock. Com a Velvet, o rock amadureceu e foi elevado à categoria de arte. E Nico teve uma influência decisiva. Sua voz assombrosa em faixas como Femme Fatale, I'll Be Your Mirror e, especialmente, na fantasmagórica All Tomorrow's Parties ajudou a transformar aquele primeiro LP da Velvet Underground em um clássico.
A importância histórica da colaboração de Nico com a Velvet Underground é tamanha que muitos nem se lembram da extensa e bem-sucedida carreira solo que a cantora teve depois de gravar o disco de 1967: foram 14 álbuns solo, entre eles a obra-prima gótica The Marble Index, produzida pelo velvet John Cale. A marca registrada da música de Nico era sua melancolia. 'Sua vida não foi feliz', disse a alemã Susane Ofteringer, diretora do documentário. 'Era natural que essa tristeza se refletisse em sua música'.
O filme de Ofteringer (em exibição até 16 de janeiro no Film Forum, em Nova York) tenta analisar a eterna insatisfação de Nico, uma artista que nunca parecia se sentir à vontade, onde quer que estivesse. Segundo seus amigos, Nico odiava trabalhar como modelo e ser alvo do desejo. 'Ela tinha medo de ser vista como um objeto', diz um deles. A reação contra essa imagem foi a proposital destruição de sua beleza física: Nico começou a usar heroína em quantidades absurdas, tingiu seu cabelo de negro e abandonou de vez a imagem de mulher fatal. 'Ela estava orgulhosa do fato de que seus dentes estavam podres, seu cabelo branco, sua pele ruim, e de que tinha marcas de seringa por todo o corpo. Essa era sua estética', diz James Young.
O documentário traz depoimentos interessantes de amigos e colaboradores de Nico, como os cineastas Paul Morrisey e Jonas Mekas, os músicos John Cale e Sterling Morrison, do Velvet Underground (este, recentemente falecido, vítima de câncer), Jackson Browne, e de antigos membros do grupo de artistas da Factory, como Billy Name e Viva, além de entrevistas emocionantes com o filho de Nico, Ari, e com parentes da cantora. 'Ela era uma pessoa incomum', afirma Ari. Em 1988, Nico morreu em um acidente de bicicleta em Ibiza. Um desfecho bizarro para uma vida incomum."
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