Sérgio Sampaio foi um dos mais brilhantes cantores e compositores brasileiros, surgidos em uma época igualmente brilhante - o início dos anos 70. Letrista inspirado e intérprete emocionado, Sérgio conheceu o sucesso e o ostracismo, mas sua arte sempre foi reconhecida por aqueles que entendiam e acompanhavam seu trabalho. Gravou pouco, apenas 3 discos individuais, alguns compactos, e participou de um disco coletivo - Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, com Raul Seixas, Miriam Batucada e Edy Star. A última matéria sobre ele, ainda vivo, que li foi publicada no jornal O Globo, em uma sessão intitulada 'Que fim levou", que falava sempre sobre algum artista que se encontrava fora da mídia. A matéria, assinada por Maria José Quadros, foi publicada em 23/05/93. Menos de um ano depois, em 15/05/94, Sérgio morreria, deixando uma obra riquíssima. Abaixo a reprodução da matéria:
"Aos 46 anos de idade, o cantor e compositor Sérgio Sampaio está se preparando para voltar aos estúdios e ao grande público, dos quais se afastou em 1977 depois de sacudir o país com as canções 'Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua' e 'Meu Pobre Blues', entre outras. Sem nunca ter abandonado a música - 'é a única coisa que sei fazer', diz - Sérgio não parou de compor durante todo esse tempo. As canções são apresentadas em boates, restaurantes e outros estabelecimentos pequenos em todo o país, onde continua a fazer shows. Há dois anos, ele se transferiu do Rio para Salvador, por considerar a cidade parecida com sua terra natal, Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, 'com a vantagem de ter o mar'.
O artista resolveu repensar sua carreira pouco depois de ter estourado nas paradas. O estouro de 'Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua', música vencedora do 7º Festival Internacional da Canção (FIC), em 1972(*), o atordoou de tal maneira que ele decidiu parar.
- Quando minha música começou a tocar no rádio, fiquei muito assustado. Aquilo mexeu com a minha cabeça, com o meu bolso, sem que eu estivesse preparado. Eu vivia na defensiva, tinha medo de ser usado, porque não entendia nada do mercado de música. Resolvi parar para construir meu caminho - lembra.
Antes de vencer o FIC (sic), ele já tinha três discos lançados pela CBS, com produção de seu amigo Raul Seixas. De 1972 a 1977, Sérgio passou pela Philips e pela Continental, mas se desentendeu com as duas gravadoras.
- Eu não compreendia o que eles queriam de mim - queixa-se.
O fato é que, segundo admite o próprio Sérgio, 'ficou um certo mal-estar no ar' e quando quis voltar a gravar, em 1980, encontrou as portas fechadas. Passou então a ter fama de artista de temperamento difícil, que considera injusta. Na época, um amigo lhe contou que ouvira de um executivo de uma gravadora o seguinte: 'Quero tudo que Sérgio Sampaio, João Gilberto e Tim Maia fizeram. Só não os quero por aqui.'
Em 1983, decidido a gravar de qualquer jeito, o artista fez um álbum independente, intitulado 'Sinceramente', que já vendeu 12 mil cópias.
- Foi uma necessidade pessoal, vital - explica.
Agora, ele revela ter todo o material pronto para um disco novo. Através de amigos, vem negociando com três gravadoras, cujos nomes prefere não dizer. Animado, ele conta que há seis meses deixou a bebida de lado. Por causa disso, está se sentindo muito bem.
- O álcool já me ajudou muito, porque sou muito tímido. Mas eu o estava usando muito mal, a ponto de começar a curva descendente. Era parar ou me entregar. Optei pela primeira via, porque já estou com 46 anos e tenho muita coisa para fazer - analisa.
Sérgio acha que teve sorte por ter conseguido abandonar o álcool enquanto ainda se encontra saudável e com vontade de realizar coisas novas. O disco que pretende gravar, afirma, mostrará a música que sempre fez: as composições falam de pessoas e sentimentos, seus temas preferidos.
- Gosto muito de gente, de falar de gente, e acho que agora estou mais preparado. Deixar tudo me custou muito e ainda me custa, mas hoje eu me sinto mais forte como artista - afirma."
(*) A informação da reportagem é errada. A música de Sérgio Sampaio não foi vencedora daquele festival, embora tenha feito enorme sucesso.
Uma felicidade triste ler esta matéria sabendo que um ano depois da esperança o Sérgio faleceu. Mas a obra é viva e perdura, ele vive nela. Obrigado por compartilhar, Márcio. Abraço!
ResponderExcluir