Palavras Domesticadas

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domingo, 1 de abril de 2012

Patti Smith Impedida de Cantar na Itália - 1980


Em uma postagem anterior eu lembrei de um episódio vergonhoso protagonizado pela ditadura militar no Brasil, quando a cantora Joan Baez, ícone da folk music, foi impedida de cantar no Brasil, por ser reconhecidamente uma defensora dos direitos civis e da democracia, e principalmente por sua vinda ao país ter na época recebido o apoio da oposição, representada pelo recém-fundado PT. Pois na Itália, no mesmo ano, algo semelhante aconteceu com a cantora Patti Smith, pelo fato de sua apresentação ser patrocinada pelo Partido Comunista Italiano.
Patti, que se envolveu com a poesia antes de virar compositora, tinha uma vinculação estreita com a contracultura de Nova York, onde costumava recitar seus versos em happenings que eram promovidos por um pessoal ligado ao artista plástico, cineasta underground e agitador cultural Andy Warhol. Passou a se envolver com a música mais tarde, quando manteve uma ligação com o polêmico fotógrafo Robert Mapplethorpe, que produziu seu primeiro compacto, que trazia as músicas "Hey Joe" e "Piss Factory". A relação de Patty e Mapplethorpe está muito bem relatada pela própria cantora em seu livro "Apenas Garotos", que aliás, foi comentado aqui nesse espaço.
Mas a consagração de Patti como cantora aconteceria em 1975, quando gravou o álbum Horses, um verdadeiro petardo, com composições próprias, além de um cover arrasador de "Gloria", clássico dos anos sessenta do grupo Them, liderado pelo irlandês Van Morrison. A receptividade de Horses por parte da crítica foi a melhor possível, tendo sido bastante elogiado por seu caráter inovador, e Patti Smith foi considerada uma das grandes revelações daquele ano.

Mas voltando ao episódio da proibição de sua apresentação na Itália em 80, a revista Manchete publicou uma nota, onde fala de Patti e do fato ocorrido:
"Quando ela foi lançada, tentaram vendê-la como um 'Rimbaud da música pop', explorando um visual agressivo na base do andrógino. Era a contrapartida feminina de Lou Reed, Iggy Pop, David Bowie e outros menos cotados. Anos antes da explosão punk, Patti Smith já fazia o gênero e foi sua grande precursora. Agora, depois de ter batalhado por seu lugar ao sol nos Estados Unidos, ela empreende, aos 33 anos, a conquista de Europa. Sem contar uma pequena incursão realmente underground - quando cantou anonimamente nos corredores do metrô em sua primeira visita a Paris. Patty estreou nos palcos europeus em 1976, e desde então formou uma legião de adeptos, em todos os países por onde passou. Neste último verão, foi um dos grandes acontecimentos musicais em Paris, no sul da França, na Alemanha, Suíça e Itália. No mês passado, mereceu uma capa da revista L'Espresso, respeitável semanário político-cultural que a chamou de Il diavolo. E diabólica foi mesmo sua passagem por terras peninsulares, onde aprontou uma confusão terrível. Levando em conta sua força junto à juventude italiana, O Partido Comunista quis usá-la como atração do seu Festival de I'Unità, em Milão. Os entendimentos se complicaram, houve muita discussão partidário-ideológica, e o festival acabou cancelado, mas Patti cantou em dois outros concertos promovidos pelo PCI, em Florença e Bolonha, cidades com prefeitos comunistas. Em ritmo de abertura, é bem possível que o Brasil também ouça Patti Smith. Ao vivo."

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