É interessante como ler determinados livros nos leva a uma sensação de estarmos vivendo momentos especiais diante de uma obra-prima literária. A força do texto nos envolve, nos leva a raciocinar, ficarmos analisando cada linha que lemos ao interrompermos a leitura, para depois retomá-la. Já senti várias vezes essa sensação, com diferentes obras e autores. Uma dessas leituras que me arrebataram foi um livro que já ouvia falar há muito tempo, mas nunca havia tido a oportunidade de ler: O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger. O livro foi relançado no Brasil há alguns anos, por uma nova editora, chamada Best-Seller, cujo primeiro lançamento foi justamente o livro de Salinger, e segundo ouvi dizer, a editora foi criada para lançar a obra, que estava fora de catálogo no Brasil.
O personagem principal é um adolescente, Holden Caulfield, que é o narrador da história. Lançado em 1951, o livro rapidamente se torna um clássico, e muitos adolescentes se identificam ou se inspiram no personagem, que acaba se tornando um ícone entre os jovens de então. Levando-se em conta que o livro foi lançado na era pré-rock'n roll (quando surgiram os primeiros ídolos da juventude pós-guerra) pode-se dizer que o personagem principal do livro é um dos precursores do que anos mais tarde seria denominado de "rebelde sem causa". Segundo contam alguns biógrafos, um certo adolescente chamado Robert Zimmerman, que mais tarde seria conhecido mundialmente como Bob Dylan, fugiu de casa várias vezes inspirado no personagem Holden Caulfield.
Caulfield não chega exatamente a ser um delinquente juvenil, que o cinema americano retrataria tão bem em filmes como Sementes de Violência ou O Selvagem, e revelaria ídolos de adolescentes, como James Dean e Marlon Brando, mas na verdade o personagem do livro carregava uma rebeldia e uma personalidade forte e marcante.
Expulso da escola por mau comportamento, e vivendo o dilema entre voltar pra casa ou experimentar o desejo da liberdade e viver aventuras, Caulfield resolve passar dois dias em Nova York. Introspectivo, imaturo para o sexo, mas com um desejo incontrolável de conhecer o mundo, seus perigos e tentações, o personagem narra ao longo do livro suas experiências na grande metrópole que é Nova York. As reflexões através dos monólogos ao longo da narrativa reflete seu desequilíbrio emocional, a perda da inocência e o desejo de desafiar o mundo dos adultos, "todos um bando de enganadores desgraçados".
J.D Salinger |
Salinger no texto do livro traça um perfil da adolescência de modo vivo, cruel, enternecedor, poético, etc. Em certo momento, Cautfield diz que queria ser surdo-mudo, pois "desse modo não precisava ter nenhuma conversa imbecil e inútil com ninguém". Na verdade essa frase reflete o pensamento do próprio autor do livro. Dois anos após a publicação de O Apanhador no Campo de Centeio, Salinger, que se tornara um escritor famoso pelo sucesso de seu livro, renuncia à fama, a glória e à vida agitada de Nova York para se recolher numa casa isolada no topo de uma montanha no estado americano de New Hampshire. Nesse isolamento voluntário continuou escrevendo, chegando a publicar mais três livros: uma coletânea de contos chamada "Nove Histórias" e duas novelas: "Franny e Zoey" e "Para Cima com a Viga, Moçada & Seymour, Uma Introdução". Sua curta produção literária se encerra no ano de 1963, e Salinger continuou completamente isolado do mundo, evitando qualquer aproximação com admiradores, estranhos ou curiosos. Morreu aos 91 anos, em janeiro de 2010, deixando pelo menos uma verdadeira obra-prima, um livro clássico na história da literatura mundial: O Apanhador no Campo de Centeio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário