Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Pink Floyd - A Viagem Continua


Existem bandas que estão marcadas para a eternidade, e o Pink Floyd é uma delas. A recente excursão de Roger Waters pelo Brasil prova isso. Na verdade, quem foi ver Waters foi de uma certa forma, para ver um pouco que seja da banda que marcou sua vida em algum momento. Mesmo aqueles que não são muito fãs do rock progressivo têm no Floyd alguma lembrança especial.
Em meu primeiro contato com a música do Pink Floyd, houve de mim um certo estranhamento, confesso que até um pequeno desconforto, por aquilo ser diferente de tudo (pouco ainda) que conhecia de rock. Depois meus ouvidos, mais domesticados, passaram a dar uma atenção especial àquela música etérea, carregada de vibrações estranhas, mas belas, uma coisa diferente. Em 30/08/87, o jornalista Tom Leão, em sua coluna Rio Fanzine no jornal O Globo, escrevia sobre o Pink Floyd, numa matéria intitulada "A Viagem Continua":
"Oficialmente o Pink Floyd não está extinto, mas há muito tempo que ele deixou de ser um grupo, passando para a condição de veículo no qual Roger Waters difunde suas loucas e criativas ideias e expõe seus traumas de infância. O Pink Floyd transformou-se num mito, daqueles que se respeita só de ouvir o nome, mas do conceito original pouco restou, e hoje ele é apenas uma boa lembrança. Aproveitando várias deixas, entre as quais o lançamento do novo trabalho solo de Waters, 'Radio K.A.O.S' e o anunciado show que o Floyd fará em outubro no Madison Square Garden, em Nova York, aqui vai um pouco deste mito do rock, que superou os rótulos de psicodélico e progressivo.

Quando o grupo inglês Pink Floyd debutou em 1967 com 'Pipers At The Gates Of Dawn', estavam abertas as portas da percepção no rock. Até então, nenhum disco havia captado com tal sensibilidade os efeitos de uma viagem lisérgica em vinil e até hoje ele continua imbatível. A fase délica do Floyd deveu muito a Syd Barret, que não segurou a onda com os ácidos e transformou-se num vegetal. Nenhum grupo apresentava shows tão visuais e surpreendentes.
Após o afastamento de Barret, que junto com Waters era o núcleo pensante do grupo, novos rumos foram tomados e, em poucos anos, o Pink Floyd passou de banda psicodélica para um dos expoentes do rock progressivo. Nesta fase, também, ele esteve à frente dos outros. Ao invés das sacais viagens que a maioria dos grupos do gênero empreendia pelo estilo sinfônico, o Floyd trilhou a linha dos álbuns conceituais desde o princípio, e explorou com maior inventividade os recursos dos teclados eletrônicos, à época ainda em fase de experimentos, longe dos mil e um recursos atuais.
O resultado máximo dessas pesquisas foi 'The Dark Side Of The Moon', indispensável em qualquer discoteca básica, que na época criou o recurso de som quadrafônico, para ser ouvido com quatro caixas de som. Quatorze anos depois de lançado, 'The Dark Side Of The Moon' continua entre os 200 discos mais vendidos nos Estados Unidos, e no Brasil ele nunca saiu de catálogo, sendo reprensado anualmente.

Na segunda metade dos 70, o Floyd foi cada vez mais se tornando o grupo de Roger Waters, os integrantes foram mudando, as brigas com David Gilmour tornaram-se frequentes, e várias vezes foi anunciado o fim do grupo. A última grande aparição conjunta foi no lançamento do álbum duplo 'The Wall', que rendeu turnês memoráveis, críticas ótimas e virou filme, dirigido por Alan Parker, com supervisão de Waters, que considera este o melhor trabalho do Pink Floyd. Esta, porém, é uma opinião particular, porque 'The Wall' é mais exorcismo dos fantasmas e traumas de infância de Waters do que um trabalho de grupo.
E ele deu continuidade a esses traumas com o último trabalho com o Pink Floyd, 'The Final Cut', de 1984. Foi o final mesmo? Bom, o certo é que Waters não cruza mais com Gilmour, Nick Mason e Rick Wright, que ganharam na justiça o direito de uso do nome Pink Floyd. Portanto, na noite em que o Floyd estiver aquecendo o Madison, Waters estará em Los Angeles, indiferente."

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