O Brasil em vários momentos demonstrou uma tendência em produzir arte revolucionária, produzir rupturas e estabelecer novas diretrizes. Podemos citar, por exemplo, o Modernismo, na década de 20, o movimento concretista de poesia, na década de 50, e também o Tropicalismo, nos anos 60. O Tropicalismo, ou Tropicália foi oficialmente lançado em 1967, no 3º Festival de Música Popular da TV Record, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso lançaram Domingo no Parque e Alegria, Alegria. Os dois baianos cantaram acompanhados por bandas de rock: Caetano com os Beat Boys, e Gil com os Mutantes. A presença de guitarras elétricas era uma novidade naquele tipo de evento, já que havia um forte preconceito contra qualquer tipo de música que sofresse influências do rock, o que não impediu que as duas músicas fossem classificadas, e se destacassem no festival. Em meio a guitarras distorcidas, atitudes extravagantes para a época, e letras de características inovadoras, parte da crítica conservadora da época hostilizou e minimizou o surgimento daquela nova estética. Essa reação também aconteceu por parte de muitos músicos, que se opuseram abertamente àquela novidade.
Porém, o Tropicalismo ganhava força e apoio de representantes dos setores mais vanguardistas da cultura brasileira, como os poetas concretistas Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, o cineasta Glauber Rocha, o diretor de teatro José Celso Martinez Correa, o artista plástico Hélio Oiticica, além de uma parte da imprensa.
Uma das versões para a denominação do movimento diz que foi ela tirada de um projeto ambiental do arquiteto e artista plástico Hélio Oiticica, na exposição "Nova Objetividade", que aconteceu no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. Mas a verdade é que a expressão foi usada mais amplamente, segundo dizem, na coluna do jornalista Nelson Motta.
A estética da Tropicália abrangia várias influências, desde o movimento antropofágico derivado da Semana de Arte Moderna de 1922, a poesia concreta, além do rock e da pop art, tudo misturado e regurgitado pelo grupo tropicalista, que além de Gil e Caetano, trazia Tom Zé, Gal Costa, os Mutantes, os letristas Torquato Neto e Capinam e os maestros e arranjadores Rogério Duprat e Júlio Medaglia.
A Tropicália também cultivava o mau gosto e o kitsh, normalmente rejeitados pela cultura oficial. Caetano na época declarou que "o bom gosto aprisiona muito, tolhe a criatividade de se botar para fora o avesso disso tudo".
O disco Tropicália ou Panis et Circenses, de 68, representou uma espécie de manifesto do movimento, e trazia todos os representantes do grupo tropicalista, e é um disco histórico, que sacudiu a pasmaceira nacional através da música. Outros setores das artes também se engajaram na estética tropicalista, podendo-se citar o teatro de José Celso Martinez Correa, cuja montagem da peça O Rei da Vela, de Oswald de Andrade no Tetro Oficina, é o exemplo mais marcante do teatro tropicalista. Na ocasião o poeta concretista Décio Pignatari criaria a expressão Geleia Geral, muito usada pelos tropicalistas.
Porém, em um país onde reinava uma severa ditadura militar, onde qualquer manifestação revolucionária e vanguardista representava uma ameaça às instituições, os tropicalistas não eram vistos com bons olhos. Em 68, Caetano e Gil voltavam a escandalizar e desafiar a estética e o conservadorismo da MPB, ao defenderem no Festival da Record as músicas É Proibido Proibir e Questão de Ordem. Caetano criaria um grande tumulto ao responder às vaias recebidas com um discurso inflamado, tendo os Mutantes ao fundo, com um acompanhamento de guitarras distorcidas, bem ao estilo de bandas psicodélicas.
Em dezembro de 68, com a criação do AI-5, que representou um atentado às liberdades criativas e qualquer manifestação de ordem política que viesse a contrariar o regime militar, Caetano e Gil foram presos e acabaram sendo forçados a se exilarem. Partiram para Londres, e o movimento se esvaziou, mas deixou profundas marcas na música e nas artes brasileiras.
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