Em fevereiro deste ano se completaram 20 anos de morte de um dos grandes músicos que o jazz produziu, o pianista Thelonius Monk. Em 1992, ao se completar 10 anos de seu desaparecimento, o jornalista e crítico José Domingos Raffaelli escreveu para O Globo uma matéria sobre o grande pianista:
"Há dez anos, em 17 de fevereiro de 1982, desaparecia um dos gigantes do jazz: o pianista e compositor Thelonius Monk. Apelidado de 'o alto sacerdote do bebop', foi o maior compositor e organizador do jazz após Jelly Roll Morton e Duke Elligton. Inicialmente identificado com o movimento bebop que revolucionou o jazz nos anos 40, na verdade seu estilo não se enquadra em nenhuma escola em particular. Inovador e experimentalista, virtuoso do tempo, espaço, acentuações e dos componentes básicos do jazz, sua música é uma sucessão de surpresas ritmico-melódicas totalmente imprevisíveis.
Sua música demorou a ser reconhecida. Ele dizia:'não importa se o público demora 15 ou 20 anos para aceitar o que você toca, o importante é continuar tocando'. Sua persistência triunfou. Aconteceu a partir de 1955, quando foi contratado pela Riverside, e seus discos tiveram boa aceitação. Em 1957 formou um quarteto com o saxofonista John Coltrane, extasiando músicos, críticos e público. Coltrane disse: 'Para tocar com Monk, você deve estar sempre alerta. Nunca se sabe o que vai acontecer'.
Monk nasceu em Rocky Mountain, Carolina do Norte, em 10 de outubro de 1917. Sua carreira começou em Nova York, aos 20 anos. Suas raízes cobriam a tradição do jazz e do piano blues, mas as grandes influências foram Duke Ellington, Tedddy Wilson e Fats Weller. Em 1941 participou das sessões que se realizavam no Minton's Playhouse, ao lado de Dizzy Gillespie, Charlie Christian, Kenny Clarke e outros pioneiros, época em que germinava o bebop, embora o estilo não estivesse cristalizado. Gravou pela primeira vez com Coleman Hawkins, em 1944. Três anos depois grava como líder para a Blue Note, revelando sua estatura de compositor em 'In Walked Bud', 'Well You Needn't', 'Ruby My Dear' e 'Round Midnight', uma das maravilhas melódico-harmônicas deste século. Na época poucos compreendiam sua música, que soava avançada e estranha. Depois gravou para a Prestige e Riverside. No final dos anos 50 formou um quarteto com o saxofonista Charlie Rouse, que conheceria grande sucesso, tocando em festivais e concertos no exterior. Com a falência da Riverside, a Columbia não perdeu tempo e contratou Monk. A essa altura, ele era uma personalidade, e sua foto aparece na capa da revista Time.
Em 1971 fez parte do grupo Giants of Jazz, ao lado de Dizzy Gillespie, Art Blakey e Sonny Stitt. Nesse ano, em Londres, grava sua última sessão para a Black Lion, com Blakey e o baixistas Al McKibbon. Logo depois parou de tocar, recolhendo-se a um retiro voluntário. Taciturno, enigmático, solitário e alheio ao mundo exterior, passou os dois últimos anos de sua vida quase sem falar, desligado de tudo. 'Ele precisa de poucas coisas: a esposa, os filhos e a música', disse seu amigo e colaborador, o pianista Hal Overton.
Thelonius Monk foi um gênio cuja música garantiu-lhe um lugar de amplo destaque o panteão do jazz.
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