Como surgem os boatos? Como eles se propagam? É difícil ter uma resposta. A verdade é que certos boatos são tão bem elaborados que acabam virando histórias oficiais, e até difíceis de serem desmentidos. A verdade é que algumas vezes até dá pena de se desmentir, de tão interessantes que são.
Um desses boatos, dentre milhares que se espalharam em torno do mundo do rock, diz respeito aos Beatles, quando em 1965 receberam do Império Britânico uma medalha de honra, uma condecoração normalmente oferecida aos grandes heróis militares. Desde que li essa notícia pela primeira vez, foi contado que os quatro músicos fumaram um baseado em um banheiro do palácio. Durante anos essa história foi contada e recontada, com riqueza de detalhes, mas depois desmentida, se não me engano, por George Harrison. Mas que dá pena saber que foi apenas um boato, isso dá. Seria mais uma das muitas histórias irreverentes e inusitadas envolvendo os quatro Beatles.
Para se ter uma ideia de como esse boato se alastrou, e era dado como fato, transcrevo uma descrição da notícia dessa condecoração, publicada em O Globo, ao lembrar alguns fatos ocorridos no mundo em 1965:
"O sonho estava começando quando o primeiro-ministro inglês, o trabalhista Harold Wilson, sugeriu a inclusão dos nomes dos Beatles na Lista de Honra do Aniversário de Sua Majestade, a rainha Elizabeth II, anunciada no dia 15 de junho de 1965. Não eram heróis militares, mas tinham conseguido conquistar para a Grã-Bretanha o coração de quase todos os jovens do mundo ocidental, que naquele momento olhavam para Londres com o fervor com que os muçulmanos se voltam para Meca, fazendo dela a capital da milionária indústria dos ícones pop.
É verdade que pelo menos nove Membros do Império Britânico não viam bravura alguma naqueles quatro jovens cabeludos e, indignados com a outorga dessa honraria aos Beatles, devolveram para o Palácio de Buckingham a flor-de-lis cinza e rosa que a rainha lhes havia pregado no peito. No entanto, calcula-se que, no dia 26 de outubro do mesmo ano, pelo menos três quartos dos jovens de Londres se espremeram em volta do palácio e cantaram entusiasmados 'Deus salve os Beatles', no lugar do tradicional 'Deus salve a rainha'.
Além de famosos, eles eram jovens e informais, capazes de ignorar as tradições da monarquia inglesa. E começaram a quebrar o protocolo no momento mesmo em que desceram do Rolls Royce que os conduziu ao palácio, sem casaca nem chapéu - 'Como poderíamos pôr todo o cabelo dentro de um chapéu?', brincaram. Do lado de fora, a Banda da Guarda Escocesa também foi obrigada a fugir do cerimonial, tocando as músicas dos Beatles para acalmar a multidão que se aglomerava junto às grades do palácio. Toda essa espontaneidade, no entanto, começou a se tornar extravagância quando os Beatles se trancaram em um dos banheiros do palácio para fumar maconha, tentando expelir a fumaça por uma janela. O problema teria sido ainda maior se o príncipe herdeiro Charles, que na época tinha 16 anos e era fã do grupo, tivesse comparecido à cerimônia. John trazia na meia um baseado com o objetivo de fumá-lo com o garoto.
Cinco anos depois, Lennon, que odiara a ideia de se tornar Membro do Império Britânico e só aceitara a honraria devido às pressões do empresário do grupo, Brian Epstein, devolveu a insígnia juntamente com uma carta na qual protestava contra o envolvimento da Inglaterra no conflito entre Nigéria e Biafra e o apoio aos EUA na guerra do Vietnã."
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