Até os anos 80 havia em minha cidade uma pequena loja de discos, já um pouco decadente, chamada Hit Parade, que tinha em seu estoque um verdadeiro tesouro escondido. O dono, um senhor de idade, um tanto mal humorado e pouco cortês com seus fregueses já não renovava seu estoque. Em sua loja não havia lançamentos, mas seu acervo, formado por discos antigos e encalhados era de arrepiar qualquer colecionador e admirador de música, seja rock ou MPB, e o que é melhor ainda, por um preço reduzido.
Lembro que em 1981, em uma das muitas constantes visitas que costumava fazer à loja, encontrei esse disco de Tom Zé, de 1972. Na época eu não conhecia esse disco, talvez somente uma música, mas já era fã de Tom Zé. Não pensei duas vezes em levá-lo pra casa assim que o vi no meio de tantos outros Lps. Ao chegar em casa e ouvi-lo me deparei com um disco genial, com canções com a marca daquele artista que eu já admirava, mas não conhecia muito profundamente sua obra. Foi o primeiro disco de Tom Zé que ouvi de cabo a rabo, e foi uma boa experiência.
Capa interna do disco, aberta |
Tom Zé continua na ativa, revigorado, criativo como sempre, se renovando e sempre atual, mas eu sinto um pouco de falta daquele Tom Zé de antigamente, menos experimentalista e mais autor de canções. E esse disco é um bom exemplo dessa fase de sua obra. O álbum traz ótimas composições, como A Babá, que traz uma letra bem interessante ( O Rockfeller acusou Branca de Neve/ Os anões se dividiram/ Três de sim e três de não/ Mas um morreu de susto...), Menina Amanhã de Manhã (que seria regravada no disco Estudando o Samba, de 76), Dor e Dor e Se o Caso é Chorar (belo samba-canção). Uma das músicas que mais me chamaram a atenção nesse disco é Senhor Cidadão. A faixa se inicia com um poema concreto de Augusto de Campos, "Cidade", recitado pelo mesmo, e em seguida Tom Zé, com participação do grupo Capote, liderado por Odair Cabeça de Poeta, inicia a música.
Quase todas as composições são de Tom Zé, algumas com parceiros como Perna (Se o Caso É Chorar, Menina Amanhã de Manhã e O Abacaxi de Irará - esta ainda com a parceria de Ribeiro) e Antonio Pádua (Happy End). A única exceção é Sonho Colorido de Um Pintor , de Talismã e B. Lobo. Nesse disco Tom Zé abriria caminho para seus dois trabalhos posteriores, Todos Os Olhos (1974) e Estudando o Samba (1976), duas outras obras-primas (o segundo, inclusive, já foi destacado nesse espaço). Para os novos fãs de Tom Zé, mais habituados com seu trabalho mais experimental e de pesquisa, é bom ouvir seus trabalhos mais antigos, como esse disco. Sempre vale a pena.
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