quarta-feira, 2 de maio de 2012
Eu Tenho Curiosidade em Conhecer o Papagaio da Vizinha
A revista Rock, A História e a Glória, que circulou nos anos 70, trazia uma sessão chamada "O Rock e Eu", onde alguma figura ligada ao rock falava da importância daquela música em sua vida. Em seu número 2, que circulou em 1974, o convidado foi Erasmo Carlos, que falou sobre sua infância e adolescência no bairro da Tijuca, no Rio, o início de sua carreira, o sucesso da Jovem Guarda, etc. Eis alguns trechos da matéria:
"Eu tinha catorze anos, quando começou minha vida de rock-maníaco. Para mim, o rock foi a coisa mais importante do século. Acho que a juventude começou a se libertar por causa dele, a sentir que mandava no mundo. Quando ouvia rock an roll me dava uma vontade danada de ficar nu e sair pulando. Depois, soube que isso acontecia a milhares de outros jovens. Até parece que o rock foi um negócio astral que aconteceu para mostrar um caminho e mudar tudo.
Minha paixão pelo rock me levou a frequentar o programa do Carlos imperial, onde conheci o Roberto Carlos e o do Jair de Taumaturgo, onde o Toni Tornado era o ás da mímica, dançando e fazendo gestos, em cima dos sucessos estrangeiros. Nessa época eu já trabalhava (fui recepcionista, boy, vendedor de artigos de senhoras), e fiquei secretariando o Imperial: comprava sanduíches e coca pra ele. Acabei convidado para fazer vocal no conjunto Snakes, acompanhante do Roberto Carlos, que o Imperial apresentava como o 'Elvis Presley brasileiro".
Comecei a compor (minha primeira música foi de carnaval, 'O Papagaio da Vizinha'), passei a secretário oficial do Imperial, enquanto era crooner do Renato s seus Blue Caps. Cantávamos nos bailes do subúrbio e o Imperial gostava de mim, porque eu era honesto. Ele queria que eu me tornassse produtor e fosse seu herdeiro, 'o homem do rock no Brasil'. Eu escrevia as colunas que o Imperial assinava na Revista do Rádio, e falava de mim mesmo, me promovendo. Fiz minha primeira versão, 'Splish Splash', sem nada a ver com o original, não sei inglês, mas escrevi o que a música me falava.
Depois de compor o 'Parei na Contramão' com Roberto, Benil Santos e Raul Sampaio me chamaram para gravar, cantando, na RGE. Foi uma luta colocar o baixo elétrico: levamos para o estúdio um disco americano pro pessoal ouvir, mas os caras achavam que seriam despedidos se tirassem um som como aquele. Gravei então 'Terror dos Namorados' e 'Jacaré', uma versão brsileira paa o surf, mas saiu ridícula, a tentativa de por na capa uma foto de um cara pegando uma onda na praia. A prancha de surf ainda não havia chegado aqui.
Só dois compactos depois, com 'Festa de Arromba' aconteceu o estouro. Começou o programa 'Jovem Guarda' (que ia se chamar Festa de Arromba), para nós uma brincadeira, uma coisa maluca. Não estávamos preparados culturalmente para aquilo. Ainda mais quando começarm a industrializar a Jovem Guarda toda.
Hoje me considero um homem culto pela vida. Tive ídolos, mas hoje gosto mais de músicas que ídolos. Tive minha fase de rock bravo, Rolling Stones, de rock doce, James Taylor. Gosto de Eric Clapton, Leon Rusel, Elton John, John Lennon e do Creedence Claearwater Revival. Estou praticamente há quatro anos parado de show business. Amadureci, não faço mais música de broto, porque não é mais a minha realidade. O que passa hoje pela minha cabeça são as coisas lá de cima. A imaginação, o sonho, o que eu tenho de mais livre. Sou um homem de rock, porque foi a música que me arrepiou, mas hoje faço o que quiser."
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