Em 1996 a Emi-Odeon relançava em CD o acervo de Paulinho da Viola pertencente à gravadora, 11 LPs e três compactos, gravados entre 1968 e 1979. Ao mesmo tempo era lançado mais um disco de Paulinho, Bebadosamba, pela BMG. O crítico Tárik de Souza, a respeito dos lançamentos, escreveu uma matéria para o Jornal do Brasil sobre a trajetória de Paulinho da Viola, com o título de "Iluminado". A introdução da matéria diz:
"Embaixador do samba junto à intelectualidade Zona Sul pós-bossa nova, Paulinho da Viola quebra um silêncio de oito anos ao lançar Bebadosamba pela BMG. Um de seus discos mais bem cuidados, funciona como um manifesto pela integração do ritmo. Mas não fica só nisso. Aproveitando a deixa, sua antiga gravadora, a EMI, relança toda sua discografia do minimalista. São 11 CDs, remasterizados no estúdio inglês Abbey Road, que permitem uma reavaliação do papel do compositor e cantor no universo da MPB. A coleção permite perceber que sua obra, no delta entre o choro e o samba, salpicada de vanguardismo, passeia desde a história do samba - foi ele quem apresentou clássicos à nova geração - a temas variados e recorrentes. Coube a Paulinho transferir a dor de cotovelo para o coração, dar novos formatos ao samba, experimentando diversas combinações pouco ortodoxas, fazer protesto sem ser panfletário, usar seu humor e o agudo sentido social como um cronista de costumes e respeitar sua origem no choro criando títulos que se tornaram standards. Não à toa, sua volta recebe aplausos unânimes da classe musical."
Na matéria, o crítico resume a carreira de Paulinho em tópicos, destacando características de sua obra, ao longo de sua carreira. Um boxe denominado "Mudando o Tom" destaca várias dessas características:
"Sambista Cardíaco: A tradicional dor de cotovelo ocupa um lugar de destaque nos discos de Paulinho. Mas ele prefere situá-lo no peito ou no coração, o órgão do corpo mais mencionado nos sambas alheios que escolheu e nos que assina sozinho ou com parceiros: Coração Imprudente, Mente ao Meu Coração, Coração, Sentimento Perdido, Chuva, Dança da Solidão, Nova Alegria, Vida, Duas Horas da Manhã.
Bamba Dissonante: Mesmo sem violentar o formato tradicional, Paulinho tomou liberdades com o velho ritmo. 'Meu samba não se importa se eu não faço rima/ se eu pego na viola e ela desafina' como ele mesmo anuncia em Roendo as Unhas, uma de suas gravações mais próximas do atonalismo. Experimentando combinações como um solo de caixa de fósforos versus cravo. Paulinho abriu espaço em seu repertório para novos timbres (e temas) no universo do samba ortodoxo. - Sinal Fechado, Comprimido, Vinhos Finos, Cristais, Cidade Submersa, Não Quero Você Assim, Orgulho, Num Samba Curto, Para Ver as Meninas, Consumir É Viver.
Protesto Discreto: Sem ser panfletário, combatendo o maniqueísmo com doses medidas de dialética, ele atirou farpas contra as injustiças sociais, a descaracterização do samba e a deterioração do ecossistema. - Argumento, Atravessou, Pode Guardar as Panelas, Amor À Natureza, Reclamação, Falso Moralista, Meu Novo Sapato, Sinal Fechado."
Muito boa a matéria,Paulinho da Viola merece todos os elogios.
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