Em 1976 João Bosco lançava seu terceiro disco, Galos de Briga, fruto de sua produtiva parceria com Aldir Blanc. Seu disco anterior, Caça à Raposa foi um marco em sua carreira, e fez muito sucesso na época. Por isso mesmo era grande a expectativa para seu novo disco. Novamente a dupla João e Aldir produziram grandes músicas, e assim mais um disco marcante e fundamental era lançado. Além disso, representou mais um sucesso de execução nas rádios e vendou bastante, numa época em que a música de boa qualidade atingia bons índices de vendagem, coisa cada vez mais rara hoje em dia.
Na época, o Jornal de Música nº 23, de setembro de 76, trazia uma boa matéria com João Bosco, assinada por Liana Fortes, falando de Galos de Briga. Nela João fala não só do novo disco, como um pouco de sua vida, de sua parceria com Aldir e de seus planos. Em certo trecho João diz: "O sucesso é muito fácil de fazer, porque é fácil saber o que o rádio quer tocar e a massa gosta de consumir, mas não é esse o nosso caso. O que eu acho maravilhoso é a gente gostar de uma coisa e as pessoas também." Abaixo, alguns trechos da matéria:
"A sinuca, o futebol, o botequim do Estácio e de Minas, a convivência diária em 5 longos e trabalhosos anos de carreira; esta é a história dos galos de briga, de João Bosco e Aldir Blanc, contada por eles mesmos, entre outras coisas, no seu último disco. Um disco popular em todos os sentidos no jeito, nos temas, no sabor e nas vendagens. Fruto de uma geração de compositores eternamente 'nova' e eternamente rotulada de 'difícil', 'maldita' e 'inacessível'. João Bosco foi um dos primeiros a derrubar esses (pre)conceitos. Seus discos vendem, suas músicas tocam no rádio, são cantadas e conhecidas. E João não se furta ao trabalho, seja em palco, tv ou palanque do interior. Galos de Briga: o nome de um disco, uma proposta, uma atitude de vida.
- É difícil falar sobre esse disco, porque ele é muito fácil, muito direto, não tem o que raciocinar em cima dele: Galos de Briga é aquilo e acabou. Ele conta tudo. Eu particularmente, a minha vida em Minas, o crooner, o garoto que canta no conjunto vocal, que gosta de bolero, que de repente tem um grupo de rock, vai para Ouro Preto e transa a cidade pelo lado fantástico dela. É o sonho do músico e do compositor. São os recortes da cantora por quem ele tem paixão, a vinda para a cidade grande, as desilusões, as surpresas, o outro lado da moeda, a consciência maior do dia-a-dia e a necessidade de uma maior sinceridade. É isso, quer dizer, é tudo isso. É o vivendo e aprendendo, são os olhos sensíveis do músico, não do economista, do engenheiro ou do médico. É a fotografia, a sensibilidade mesmo, o amadurecimento de tudo.
- Acredito que as coisas vão acontecendo de repente, que as pessoas vão gostando do que fazemos e nós vamos sendo reconhecidos porque o nosso trabalho está muito ligado às coisas delas. Não é o sucesso, é o contrário, é o sufoco mesmo, é a vontade de cantar e de falar. Só que de repente isso não foi possível de acontecer a nível popular, porque a cada dia as pessoas têm mais medo, não têm defesa, cada vez sabem menos o que está acontecendo. Aí você vem e começa a cantar umas coisas que elas gostariam de dizer e cantar. A razão do sucesso, então, não é bem ele mesmo. Talvez a razão dele seja o fracasso de todo mundo."
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