Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Poesia Concreta: A Genialidade Sobrevive

A poesia concreta sempre me fascinou, antes mesmo de admirar a poesia convencional. Aquela linguagem cifrada, seus significados nem sempre identificáveis e visíveis a uma primeira vista instigavam minha curiosidade e me fazia raciocinar. Nada melhor para um adolescente. Como toda manifestação de vanguarda, as críticas, incompreensão e até ridicularização ainda são constantes. Mas a verdade é que o concretismo sobrevive e ainda fascina novas gerações de poetas leitores e admiradores.
Os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, a santíssima trindade do concretismo, enfrentaram essas críticas, e ao contrário de se abalarem, continuaram a produzir sua arte, e enriquecer a cultura brasileira. Costumo dizer que um dos orgulhos que carrego em ser brasileiro, é saber que esse movimento nasceu em nosso país, e é reconhecido mundo afora por aqueles cujas mentes não se estreitam, como muitos que não admitem e aceitam novos conceitos e propostas.
Por ocasião dos 40 anos do lançamento do concretismo, em 2006, os críticos literários Elizabeth Orsini e Paulo Roberto Pires escreveram:
"Eles já foram xingados por fazer o 'rock'n roll da poesia', acusados de matar a inspiração, de serem 'débeis mentais' e muita gente boa chegou até a negar que eles fossem poetas. Em dezembro de 1956, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari eram os enfant terribles que na 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, inaugurada em São Paulo, criaram o que seria o equivalente literário daquela tendência das artes plásticas. No lugar de metáforas e da inspiração do poeta, buscavam formas que tivessem tanta força expressiva quanto as palavras sem a distinção entre conteúdo e expressão."
A mesma matéria, publicada em O Globo em 08/12/96 trazia um texto do poeta Carlito Azevedo, com o título "Evoé Noigandres!". Para quem não sabe, Noigandres era o nome do agrupamento dos concretistas e de uma revista publicada por eles na década de 50. Eis o texto:
"Num dia em que se encontrava superiormente apto para perceber verdades raras e óbvias, La Rochefoucauld anotou em seu caderno de máximas e reflexões que 'as polêmicas não durariam tanto se apenas um dos lados tivesse razão'.
Se a poesia concreta fosse apenas o que seus detratores tentam fazer parecer, certamente não estaríamos aqui discutindo sua presença quadrigenária na literatura brasileira. Por outro lado, o processo de hierarquização de poetas, realizado pelo movimento concreto, a partir das categorias poundianas de 'inventores', 'mestres' e diluidores', contribuiu para uma série de exclusões problemáticas. Mas se até Mário de Andrade escreveu que 'é preciso evitar Mallarmé', por que não 'é preciso evitar Mário de Andrade'?
O mais importante, entretanto, é notar que a parte da mais interessante parcela da produção artística contemporânea descende direta ou indiretamente do grupo Noigandres. A poesia de Arnaldo Antunes ou de Antonio Cícero, a música de Caetano Veloso ou Adriana Calcanhoto, o cinema de Júlio Bressane, o teatro de Gerald Thomas etc, tudo isso traz bem legível e ao mesmo tempo bem temperado, com outros molhos, o lema do rigor e da criação experimental.
A poesia de Ana Cristina César, Eudoro Augusto e Chico Alvim, que nada devia, e até se contrapunha ao concretismo, é a outra parcela da produção contemporânea que hoje importa, descendendo de Drummond e Bandeira. A convivência pacífica e enriquecedora entre essas duas principais famílias de criadores é a melhor herança que qualquer novo poeta pode desejar. Evoé Noigandres!"

2 comentários:

  1. Cara, seu Blog é a coisa mais bacana que descobri na Internet recentemente !!!

    Tenho espalhado para meus amigos e gostaria de te dar os parabéns.

    É raro acha textos bons sobre contra cultura, rock, arte hoje em dia...
    E tudo cheio de imagens, fotos e tal.

    Longa vida ao Tarati Taraguá.

    abração

    ResponderExcluir
  2. Valeu, Giovani. Comentários como o seu me incentivam a continuar publicando. Espero que continue acompanhando e divulgando o Tarati-Taraguá.
    Grande abraço

    ResponderExcluir