Na última quinta-feira, 13/12, o Brasil todo comemorou o centenário de nascimento de um de seus artistas mais populares e representativos: Luiz Gonzaga. Considerado porta-voz do povo nordestino, Luiz Gonzaga se tornou um dos cantores e compositores que melhor representaram a alma, não só do nordestino, mas do povo brasileiro em geral. Sua influência para vários músicos, principalmente os nordestinos, é cantada e decantada há décadas, atestando sua importância para a música brasileira. Mesmo um roqueiro como Raul Seixas, cuja escola musical passa longe da música brasileira - desde criança só ouvia música americana, abria uma excessão para Luiz Gonzaga, como uma influência, a ponto de ser pioneiro na fusão rock e baião, com "Let Me Sing, Let Me Sing", música que o lançou no VII Festival Internacional da Canção, em 72. Antes dele os tropicalistas Gil, Caetano e Gal trouxeram para a nova geração a música de Luiz Gonzaga, que a partir de metade da década de 50, principalmente após o surgimento da Bossa Nova, passou a ser considerado um música matuto e ultrapassado. Eu mesmo, só vim a dar maior atenção a Luiz Gonzaga quando já estava chegando à fase adulta. Não me afinava muito com o ritmo do baião, embora soubesse dos elogios que recebia de alguns dos meus ídolos musicais. Gostava mais de Jackson do Pandeiro e seu ritmo. Hoje os considero os dois maiores representantes da música nordestina, cada um seguindo seu estilo.
Creio que foi lá pelo final dos anos 70, com o surgimento de uma geração de músicos nordestinos, como Alceu Valença, Fagner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Ednardo e outros, que passei a me ligar mais em Gonzagão e sua música.
Para lembrar do Rei do Baião, vou reproduzir um trecho de uma esntrevista que ele deu à revista Música em 1980:
"- Quem foi que lhe deu o nome de Rei do Baião?
- Isso começou no tempo da Rádio Nacional. Quando eu comecei a cantar, meu prefixo na rádio era o Baião. Mas, pensando que o Baião pudesse acabar logo, providenciei uma canção que pudesse abranger o Brasil inteiro, então escolhi Boiadeiro ('Vai boiadeiro que a noite já vem'). Boiadeiro existe tanto no norte, no Sul, como na Argentina - o tema é sempre o mesmo. Aí o Baião começou a estourar. Naquele tempo, os artistas recebiam muitas cartas. Tinha semana que eu recebia 50, 100 cartas. Hoje o fã não sabe nem pra onde escrever, porque o artista não tem mais um prefixo. Então os fãs começaram a me pedir a letra do Baião e a me chamar de Rei do Baião. Nessa época o animador número um da Rádio Nacional era o Paulo Gracindo, que me chamava de 'Luiz Gonzaga, sua sanfona e sua simpatia'. Eu achei que, para o futuro, isso era pouco: preferi mesmo Rei do Baião.
-Como o senhor reagiu quando surgiu aquele boato que os Beatles iam gravar Asa Branca?*
- Tirei partido (ri). Dei entrevista como o diabo e ganhei dinheiro. E só ia dizendo: não sei se eles vão gravar; se vier em libra é melhor (ri). Depois as pessoas perguntavam assim: 'Gonzaga, porque os Beatles não gravaram Asa Branca?' Eu dizia:´'Porque eu não quis' Eles começaram a discutir entre si e aí eu lhes escrevi uma carta dizendo que acabassem com essa porcaria senão eu acabava com o conjunto deles. Eles acabaram o conjunto (ri).
- O senhor anda dizendo que vai largar a carreira. É verdade?
- Não, eu vou descansar, vou deixar de viajar. Essa minha vida é muito dura, viajo muito. Agora vou tomar conta das minhas coisas. Como eu tenho um contrato de cinco anos com a RCA, fico fazendo, enquanto tiver forças, um disco por ano. Quando precisarem do velho Lua para grandes festivais ou grandes festas, é só mandarem a passagem para Exu. Nesses casos eu não vou fazer nem questão de dinheiro, porque já estou na minha, estou vivendo minha vida, mas quero mais respeito com meu nome.
- O senhor não vai sentir saudade do palco?
- É claro que vou sentir, mas se continuar aceitando tudo o que estão me oferecendo - vem cá, vai pra ali, pra acolá - não vou desfrutar nunca o que ganhei. Nós não estamos em época de guardar dinheiro, estamos em época de investir. Estou investindo lá na minha terra, tem umas coisas lá pra eu cuidar. Quando completar quarenta anos de disco, aí eu fecho o balaio. O que quero é deixar de correr."
* O boato sobre o interesse dos Beatles em gravar Asa Branca foi inventado pelo produtor Carlos Imperial, talvez para trazer o nome de Luiz Gonzaga de volta à mídia, já que naquele período (anos 60) ele andava meio esquecido. Porém, em 78 o cantor grego Demmis Roussos gravou Asa Branca em ritmo de discoteque.
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