Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Jeff Beck - Entrevista - 1976 (2ª Parte)

"CC - O seu último grupo (Max Middleton, Bernard Purdle e Wilber Bascombe) foi só um negócio temporário pra promover o Blow By Blow, né?
JB - Não sou do tipo de 'amigos pra sempre'. Não gosto da responsabilidade de ter um grupo permanente, gente dependendo de mim.
CC - Como muitos outros artistas, você saiu da Inglaterra por causa dos impostos e pretende passar um ano na Califórnia. O que é que você vai fazer enquanto isso?
JB - Tenho vontade de tocar muito ao vivo. Agora com Jam, tô sempre descobrindo frases novas. Mas, mesmo com outros caras, eu tinha um material muito bom e queria fazer shows.
CC - A grande ironia é que você anda tocando com grupos americanos que têm som inspirado nos Yardbirds. E muitas vezes grupos - Aerosmith, por exemplo - são uma atração maior do que o seu mentor. (Joe Parry, guitarrista do Aerosmith talvez seja o fã nº 1 de Beck).
JB - Não me preocupo se toco antes ou depois deles... Acho até legal. Às vezes penso que criei um monstro, mas enquanto não copiarem as coisas que tô fazendo hoje, tudo bem. Eles ainda tocam coisas do Yardbirds e tão ficando ricos com isso. Devem ser mais espertos do que eu. Uma noite eu toquei Train Kept A Rollin, e a plateia reconheceu e aplaudiu. Pensaram que era um número do Aerosmith, porque eles tocam isso no seu set. Mas o público deles deve ter uns 16 anos, e há dez anos não entrariam em concertos.
CC -  Quando o Jeff Beck Group era liderado por Rod Stewart, o baixista era o Ron Wood, agora Wood entrou nos Stones no lugar de Mick Taylor.
JB - Chegaram a me chamar e fui até Rotterdam para experimentar. Mas... não me dei bem. Durante três horas toquei três acordes. Preciso de mais energia atrás de mim. Eu seria apenas um empregado para eles continuarem mais um ano. Quando eu estava lá, pensei que o lugar devia ser de Ron Wood. Os Faces já deram o que tinham que dar, e quando ouvi que Ronnie tinha aceito, pensei que essa escolha seria a ideal.
CC - Os dois guitarristas que mais aprenderam com você - Jimi Page e Eric Clapton - ficaram mais famosos do que você. O que você acha disso?
JB - Isso aconteceu porque eles formaram grupos. Eu fui de um lado a outro e sou muito perambulante pro ouvinte médio me acompanhar. Você pode entrar numa loja e comprar discos do Led Zeppelin ou um disco como 461 Ocean Boulevard, mas hoje não sei o que quero fazer. Sou indeciso no que faço, e as pessoas preferem algo mais permanente. Sou muito móvel. Pode ser que eu tenha muito do som antigo dentro de mim, mas minha cuca tá longe disso.
CC - Você não mantém muito contato com esses músicos, né?
JB - Eu sou mais orientado pro jazz. Eles são rock & roll branco com vocalistas estereotipados com roupas enfeitadas, por aí. Quer dizer... tudo bem, não tô falando deles, mas não é a minha. Gosto de pensar que tô fazendo uma coisa diferente. Tô ganhando bem e não tô passando fome. Viver e morrer no mesmo grupo não é uma boa pra mim. A maioria desses grupos ficam juntos porque individualmente são inseguros. Se você é baterista ou baixista precisa de um grupo o tempo todo... A não ser que você seja como Billy Cobham, com tanto talento quer pode tocar sozinho.
CC -  Agora você vai pra onde?
JB -  Com meu grupo antigo eu tocava mais solos longos de blues e guitarra de Memphis. Pensei que minha carreira tivesse virando pra esse lado. Mas, com eles, ficava tudo sob controle e eu tava ficando chateado. Quero me esticar mais, sabe... Quando subo no palco não tenho ideia do que vou fazer na guitarra, nenhuma pista musical. Ponho meus dedos nos trastes só pelo ouvido. Não olho meus dedos. Isso é bom, porque mesmo se alguém furasse meus olhos eu ainda ia poder tocar."

Nenhum comentário:

Postar um comentário