Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Erasmo Carlos - Revista Pipoca Moderna - 1982

A revista Piopoca Moderna, que circulou entre 82 e 83, em edições bimestrais, trazia em seu nº 2 (nov/dez 82) uma matéria com Erasmo Carlos, assinada por Rick Goodwin. Apesar de ser parceiro de um dos cantores de maior sucesso no país, Erasmo nunca viveu à sombra de Roberto, ao contrário, sempre percorreu seu caminho, nunca abandonando o rock'n roll - sua grande paixão musical. A matéria, que tem por título "Erasmo - escravo da calça Lee, da Narinha, de Deus e do rock and roll' é transcrita abaixo:
"Deixe a meta do poeta, não discuta/ deixe a sua meta fora da disputa/ meta dentro e fora, lata absoluta/ deixe-a simplesmente matáfora... Não é, Erasmo?
Erasmo Carlos não sabia se era ou não. Ouvira Gilberto Gil cantar 'Metáfora' na televisão, no Outras Palavras da Bandeirantes, e no fim, dedicar a música a ele. Nos seus shows, Gil confirmaria a dedicatória. E até hoje, ao falar nisso, Erasmo fica intrigado e feliz. 'Roberto Carlos chega e faz 'Amigo'. Caetano diz no Canecão: 'As pessoas me cobram porque sou otimista em termos de Brasil. É porque existem pessoas como Erasmo Carlos'. E agora o Gil'. Mas não sabe explicar 'qual é o borogodó que tenho. Não sou nada disso'.
Ana Lúcia Novaes, da Polygram tem uma explicação a partir de um papo de Caetano, que explicava pra ela seu fascínio por Jorge Ben: que entendia o mecanismo que Chico, Gil, usavam para fazer músicas, mas Ben, era um mistério pra ele. Será Erasmo o Jorge Ben do Gil?
O Tremendão pode ser visto por aí acompanhado de um bumerangue vermelho. Pra quem acha que é merchandising do seu último disco - pra faixa 'Meu Bumerangue Não Quer Mais Voltar' - diz que está é aprendendo a ser bumerangueiro, além de sair mostrando pros que ficaram curiosos com a sua música. Ele mesmo, com 41 anos, nunca tinha visto um. Mas em 59, quando datilografava as paradas internacionais pruma coluna de música, apareceu um australiano estourando com 'My Boomerang Won't Come Back'. Isso ficou na memória dele. Ou, como diz, 'na procura de temas pra gravar um disco a gente consulta o arquivo da nossa mente e descobre coisas aparentemente esquecidas'.

É, música simples às vezes têm histórias complicadas. Ano passado, em Arapiraca, roubaram o pandeiro do Erasmo. Um bonitão, Ludwig, meia-lua. Então, no caminho pra Recife, passaram em Caruaru pra reaver o pandeiro. Nessa noite, o motorista do ônibus, pra não dormir, ia contando histórias de estrada. E no rádio tocava uma música de Milton falando em 'boleia de caminhão'. E a lua parecia que que acompanhava o ônibus. E pintou uma carreta escrito: 'NO BARALHO DA VIDA ENCONTREI MINHA DAMA'. Assim veio a canção 'Filosofia de Estrada'.
Que também tá no seu disco novo, Amar Para Viver ou Morrer de Amor. Se o anterior, Mulher, era romântico, de sensualidade quarentona, quase um Roberto, este é mais Erasmo, inocente e nostálgica Jovem Guarda. Embora ele diga que jamais deixou de fazer Jovem Guarda, 'é o que sei fazer, é o que meu coração sente mais, meu esplendor criativo. O que chamo de Jovem Guarda é rock & roll. O rock é uma coisa aberta, sincera, sem preconceitos, uma coisa de união e paz, mesmo os rocks agressivos. É o que sinto, como o cara que ama e é escravo do rock. É, bicho, quem ama se escraviza. Sou escravo da calça Lee, da minha mulher, de Deus e do rock & roll'.
Da calça Lee???? 'Não me vejo com outra calça, bicho. Nos últimos 10 anos, fiquei uns 3 dias com outras calças. Meu terno e paletó com jeans'. Antes que vire anúncio: os andrologistas não são contra? 'Dizem que pro homem, as calças são justas e tiram a sensibilidade do pênis, que pra mulher, a umidade, questões de higiene... mas acho que ninguém tá se importando com isso. Tomando-se um banho antes das relações sexuais, tudo bem, continua-se usando jeans'.
Erasmo continua não só de jeans, como de colares, aneis e camisa aberta no peito; quarentão, jovem e em guarda. Pronto pras comemorações dos 20 Anos Depois. E pra volta do bumerangue. Porque 'a Jovem Guarda tema ver com o que a rapaziada tá fazendo hoje. Foi um rescaldo da grande influência do rock & roll. Agora, a garotada faz um rescaldo da influência do new wave e do punk. A vantagem é que, além da influência americana e inglesa, existe a brasileira, graças a nós e ao tropicalismo.' Mostra uma expressão na Pipoca Moderna que achou um barato: new-iê-iê-iêve. Agora, fico puto com rock tupiniquim. Tupiniquim, bicho!' Pra acalmar, mostra outra: nova-jovem-guarda. É uma brasa!. 'Me sinto homenageado...'
O pivô de tantas homenagens sai agora de uma festa de aniversário na Polygram pra tirar retrato com os participantes de uma gincana. E quer coisa mais bidu do que gincana?"

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