Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Afrika Bambaataa Já Passou Por Aqui

Afrika Bambaataa é um dos grandes representantes do hip hop e da música negra eletrônica dos anos 90. Em 1998, o jornal O Globo noticiava a vinda do músico ao Brasil para se apresentar como DJ em um evento. A matéria é assinada por Carlos Albuquerque e é intitulada "O rei do hip hop quer conhecer o funk dos ETs":
"Se o hip hop fosse um estádio, na entrada não poderia faltar uma estátua de Afrika Bambaataa. ele é o pai da matéria, o poderoso chefão, o mestre, o dono da ideia, o rei da cocada, o camisa dez, etc. DJ, produtor e militante de boas causas (como a Zulu Nation), foi graças a ele, e pioneiros como Kool Herc e Grandmaster Flash, que o hip hop e o rap vieram ao mundo. Sua influência pode ser sentida hoje em dia em áreas tão distintas como o drum'n' bass inglês ou o funk carioca.
E agora, a boa notícia: Afika Bambaataa se apresenta, como DJ, amanhã à noite, num lugar inusitado: o Rock in Rio Café. Ele é a primeira atração do projeto/festa THC, que pretende trazer nomes da música eletrônica ao local. Depois de Bambaataa, já estão programados para este mês Yves Derautier (dia 8),  Acid Junkies (dia 15) e Dimitri, aquele que tocava com o Dee-Lite (dia 22).
- Me falaram que é uma noite de techno e house. Então, vou preparar um set com isso e também drum'n'bass, electro e, claro, hip hop da velha guarda., além de algumas coisas novas. Na verdade, o que eu quero mesmo é que os brasileiros mexam a bunda - diz ele, por telefone, falando de Nova York.
Disso, como a história prova, Bambaataa entende. No começo dos anos 70, mais precisamente em 1973, no Bronx, ele, Herc e Flash começaram a usar duas pick-ups e um mixer (um formato pouco usual para a época, no mesmo ano em que Rick Wakeman lançava o grandiloquente 'As seis esposas de Henrique VIII') para criar um novo tipo de música. A ideia inicial era usar discos de soul e funk, tocados simultaneamente, descartando os vocais e quebrando em pequenos pedaços as partes instrumentais. Depois, MCs vieram cantar e deitar falação por cima dessas bases improvisadas. Dessa brincadeira, nasceu a cultura hip hop (acrescida da dança break e dos grafites) e a música rap. E o mundo nunca mais foi o mesmo.
- O que fizemos foi usar esses trechos instrumentais, o breakbeat, para criar um novo tipo de funk - conta ele. - No começo, James Brown era a base de tudo, mas depois vieram sonoridades novas, como as feitas pelo Kraftwerk.
Foi exatamente influenciado pelos beats marciais e roboticamente funky do Kraftwerk que Afrika Bambaataa criou seu maior clássico: 'Planet Rock', uma das músicas mais sampleadas de todos os tempos. Por conta do relançamento agora de várias músicas do seminal selo Tommy Boy, um dos primeiros a apostar no hip hop, 'Planet Rock' ganhou roupa nova, num remix do poderoso DJ Grooverider.
- Grooverider é legal, ele é funky - diz Bambaataa - Eu adoro drum'n'bass ou jungle. É mais uma variação do hip hop. Também adoro techno, que é black music na essência. Na verdade, tudo vem da África e de seus ritmos.
Ex-integrante de uma gangue, Bambaataa sabe como é dura e perigosa a vida nas ruas das grandes cidades. Por isso, criou a Zulu Nation, uma espécie de ONG black dedicada a tirar os jovens negros das ruas, dos traficantes e afastá-los da violência. A ZN cresceu, apareceu e hoje é um modelo de ativismo bem sucedido. E sempre atuante.
- O crack, as armas circulando livremente, a AIDS, o racismo, tudo isso tem que ser combatido, mas de forma pacífica, como sempre foi com a Zulu Nation - diz ele. - Temos contatos e associados em toda a parte, inclusive no Brasil. Nossa luta continua.
Em 1984, Bambaataa gravou com John Lydon a música 'World destruction', de batida hip hop e letra apocalíptica. Ele acha que, infelizmente, a canção continua atual.
- O mundo está cada vez mais estranho, sombrio, mas eu acredito na luz.
Místico, Bambaataa acredita também em discos voadores e diz esperar ansiosamente pelo novo milênio.
- Vamos fazer contato. E os alienígenas vão nos mostrar novas batidas musicais. Vai ser o novo funk."

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