Em 1962 o cinema brasileiro passava por uma revolução estética promovida por jovens cineastas - o Cinema Novo, e naquele ano foi lançado um dos mais controvertidos filmes nacionais do novo movimento: Os Cafajestes, filme de estreia de Ruy Guerra, um moçambicano envolvido com cinema, e que depois de deixar seu país, e ir para a Europa, passando por Portugal, e depois para Paris, onde estudou cinema, veio parar no Brasil.
O filme causou um grande impacto na época, pela audácia do tema - a devassidão e falta da caráter de dois malandros cariocas, daí o título do longa. Tendo como protagonistas Jece Valadão e Daniel Filho, Os Cafajestes ainda trazia no elenco Norma Bengell, Lucy Carvalho, Hugo Carvana e Glauce Rocha em participação especial, dentre outros.
Jece Valadão e Norma Bengell |
O mundo dos vícios, da exploração sexual e da falta de caráter domina o filme. Dois cafajestes, um pobre (Jandir, vivido por Jece Valadão), e um rico (Vavá, interpretado por Daniel Filho), convencem duas mulheres, interpretadas por Norma Bengell e Lucy de Carvalho, a tirarem fotos em uma praia deserta com a intenção de chantageá-las mais tarde.
Vavá, o cafajeste rico e playboy de Copacabana é quem arquiteta o plano, pois vivia preocupado com a situação financeira de seu pai, um rico banqueiro que corria o risco de ir à falência. Com a possibilidade de perder a mesada para seus excessos, e um dia ter que trabalhar para se sustentar. Vavá recorre ao amigo Jandir para executar seu plano, e afirma que o objetivo da chantagem seria evitar a ruína do pai, mas na verdade, o que ele pensa é em sua própria sobrevivência. A vítima da chantagem seria o tio rico de Vavá, que é o maior depositante do banco de seu pai, e amante da personagem Leda, interpretada pela jovem e exuberante Norma Bengell. Os dois planejam forçar Leda a tirar fotos completamente nua na praia, para aplicar a chantagem em seu rico amante, porém a personagem frustra os dois ao não se importar em ser fotografada naquelas condições, demontrando não temer ser vítima da chantagem dos dois cafajestes, pois segundo ela seu velho amante não se importaria , pois não a queria mais. Porém, a jovem propõe que o plano dos playboys tenha prosseguimento, dessa vez tendo como vítima a filha do seu ex-amante, por ela ser responsável pelo afastamento dos dois. Essa é a trama do filme, que se notabilizou por mostrar o primeiro nu frontal do cinema nacional, protagonizado por Norma Bengell, numa cena de quatro minutos.
Jece Valadão e Glauce Rocha, em participação especial |
As cenas ousadas, logicamente causaram escândalo. No meio da semana de estreia o filme passou a ser exibido com cortes, por ordem de seu produtor. O próprio Jece Valadão, que atuou na produção também como produtor executivo, cortou algumas cenas, sem autorização do diretor Ruy Guerra. O governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto proibiu a exibição do filme em todos os cinemas do estado. As autoridades alfandegárias dos Estados Unidos negaram o ingresso de Os Cafajestes em função da situação em que o filme se encontrava no Brasil: proibido em vários estados, tratado como mercadoria pornográfica pelas autoridades.
O filme, porém, era reconhecido como uma obra de valor artístico, e inovador. Glauber Rocha, por exemplo afirmou; "Os Cafajestes possuía certa transcendência: densidade existencial, clima de determinado universo fechado numa mise-en-scène agressivamente pessoal, apesar de todas as influências facilmente identificáveis, principalmente de Resnais e Antonioni... é histórico: a formalização... não resistindo à evolução do cineasta em busca da unificação cultural logicamente estilística. Insolente, corajoso, anárquico e talvez moralizante. Um cinema bossa nova."
Hoje, mais de 50 anos depois, Os Cafajestes é visto como uma obra clássica, contestadora, ousada e transgressora. Um dos grandes representantes do movimento do Cinema Novo.
Eternamente NOVO E INSPIRADOR.
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