A revista AZ nº 123, de março de 1990 trazia uma edição especial sobre o movimento hippie, a lisergia e o psicodelismo dos anos 60. Em uma das matérias, intitulada "Só Doidão", havia um bom texto sobre o assunto, assinada por Mauro Borges:
"Flower Power. São Francisco, 1966, a bordo do Jefferson Airplaine. Começa a viagem.
Ao contrário do que se possa imaginar, muito antes de invadir os gramados de Altamont e Woodstock e ser símbolo da loucura hippie, o LSD frequentou e animou muitas parties and caves dos 60. As boates do psicodelismo ou psychodelic nightclub eram os pontos de encontro de mocinhos com cabelos tijela, batas indianas com calças jeans e garotas com ar de permissividade enrustida, saias curtíssimas e cílios longuíssimos. Mesmo nos clubs, a música pop queria ser adulta, e não mais teenager, como havia sido até então. Nada mais de Yé, Yé, Yé ou Stop In The Name of Love. Agora é a vez das acid bands. Grateful Dead, Steve Miller Band, Doors, Pink Floyd, Yardbirds, Beatles e Rolling Stones revisitados.
A coisa toda era sacudir os cabelos sem se importar com uma coreografia. Ninguém dançava igual a ninguém; afinal, todos criavam suas próprias viagens e eram adultos o suficiente para decidir como queriam dançar. O que não era de todo verdade. Basta rever um dos famosos capítulos de Maxwell Smart - o Agente 86 - em que as Vacas Sagradas, um lisergíssimo grupo pop, pretende hipnotizar - através de um programa de televisão - todos os jovens da América para concluir que a coreografia era a mesma para todos. Podemos dar um desconto apenas à pretensão.
Com todas estas mudanças na alma dos frequentadores, os night clubs também tiveram de se modificar. E a principal coisa a mudar foi a iluminação. Com uma música mais pesada, agressiva e, ainda por cima, elaborada, os proprietários se viram obrigados a investir na trip de todos e encherem suas cavernas de luzes estreboscópicas, luzes bolhas (aquelas dos desenhos do Homem Aranha), luz negra e sequenciadores. Além de um arsenal de projetores de slides e filmes. Tudo com o objetivo de dar mais vazão à loucura dos dançarinos e criar um perfeito ambiente psicodélico. Dessa maneira, os clubs perderam o ar elitista ou teeneger e assumiram uma terceira vertente. Oficialmente nascia o dance underground. O legado é muito mais forte do que se possa imaginar. Forma base para as discotecas dos anos 70 e as megadisco de agora, onde a iluminação assumiu proporções de ficção científica mas não impulsiona à dança. Talvez seja realmente a falta de um aditivo extra. Quem sabe boa música. Mas apesar de toda a parafernália, a primeira metade dos anos 70 foi dos festivais ao ar livre. Deitar na grama e sonhar. Os clubs foram deixados de lado e lisérgica passou a ser a natureza.
A palavra lisérgico ficou relegada aos anos 60. Até um belo dia em 1988, quando jovens ingleses resolveram deixar a house music um pouco mais histórica e repetitiva. Adotaram o velho smile em suas camisetas, bottons, calças, bonés, enfim, em todos os cantos e criaram a Acid House. Naquele ano, a Inglaterra viveu o segundo verão do amor e os clubs foram palcos dessa reedição. A droga foi o XTC ou Ecstasy, a droga do amor. Consumida como pipoca no circuito Ibiza, Rimini (Itália) e Londres, o XTC conforme seus usuários, é a herdeira do LSD.
Ela deixa seus consumidores dóceis e felizes, com um espírito fraternalista e a libido a mil. Por isso a música soa inexplicável (ou insuportável) aos ouvidos de quem não consome a droga. As noitadas acids em Milão eram verdadeiros laboratórios Reichnianos. Margareth Tatcher também no final de 88 fez questão de acabar com a farra e reprimir judicialmente, fechando algumas casas clubs.
Mas Londres não desiste. E os endiabrados londrinos sempre querem mais. Para fugir do horário-limite para o fechamento das discotecas, que na capital inglesa ocorre às 3 da manhã, eles criaram as Raves. Estas festas acontecem fora da cidade, em fazendas ou lugares abandonados, movidas a XTC e house new age (a batida house com teclados intermináveis, na linha viagem, mesmo). É o que parecia ser uma nova fase na cultura pop já está sendo desmantelado. A Dama de Ferro ataca outra vez com todo seu aparato policial, bloqueando estradas e acabando com estas raves durante a noite. Um dos promotores destas festas foi condenado a 10 anos de prisão por incentivar o consumo de drogas. O fato é sério e já ocupou as capas dos principais jornais e revistas europeus, incluindo um dos últimos números da The Face. Com certeza a palavra lisérgico não se adapta à mão pesada da primeira-ministra. Talvez ela sinta falta do não-lisérgico dos punks e, quem sabe, até promova mais este revival..."
A palavra lisérgico ficou relegada aos anos 60. Até um belo dia em 1988, quando jovens ingleses resolveram deixar a house music um pouco mais histórica e repetitiva. Adotaram o velho smile em suas camisetas, bottons, calças, bonés, enfim, em todos os cantos e criaram a Acid House. Naquele ano, a Inglaterra viveu o segundo verão do amor e os clubs foram palcos dessa reedição. A droga foi o XTC ou Ecstasy, a droga do amor. Consumida como pipoca no circuito Ibiza, Rimini (Itália) e Londres, o XTC conforme seus usuários, é a herdeira do LSD.
Ela deixa seus consumidores dóceis e felizes, com um espírito fraternalista e a libido a mil. Por isso a música soa inexplicável (ou insuportável) aos ouvidos de quem não consome a droga. As noitadas acids em Milão eram verdadeiros laboratórios Reichnianos. Margareth Tatcher também no final de 88 fez questão de acabar com a farra e reprimir judicialmente, fechando algumas casas clubs.
Pô, Márcio, seu texto é bom demais, doce como o "doce". Lisérgica mesmo está a profusão de sentidos qu'ele aflora. Meus cumprimentos.
ResponderExcluirObrigado, Luiz.
ResponderExcluirUm abraço