Em 1974 o glam rock era uma vertente em moda no mundo do rock. Nomes como David Bowie, Marc Bolan, Sweet e New York Dolls dominavam a cena. E um dos nomes mais em voga desse segmento na época era Alice Cooper, que fazia um rock pesado, com grande teatralidade em suas apresentações. Naquele ano, Alice viria ao Brasil, onde fez um show que arrastou multidões onde se apresentou. O Brasil, na época não era um grande mercado para grandes shows internacionais de rock, e Alice vivia seu auge, daí a importância daquela vinda do astro ao nosso país. Em março daquele ano, a revista Pop trazia uma matéria com Alice. Segue abaixo:
"Para sua mãe, Ella Furnier, ele é e sempre será Vincent. E não há nada no mundo que a faça chamá-lo de Alice. Mas este estranho nome talvez seja a chave do sucesso do rei do rock bissexual americano, que conseguiu chamar a atenção do mundo inteiro com o exotismo e as loucuras de suas apresentações e atitudes, no palco e fora dele. Líder de um dos mais espetaculares grupos de toda a história da música pop, Alice Cooper vive (mesmo!) intensamente tudo aquilo que para muita gente parece apenas encenação e charme para tornar seus shows mais envenenados e assim levar toda a patota à loucura e à histeria total. Na realidade, Alice é mesmo imprevisível. Tudo o que ele diz e faz é inesperado e, muitas vezes, até incompreensível. Como sua incrível mania de beber cerveja, por exemplo. Cindy, garota de Alice há muitos anos conta que o tempo máximo que ela o viu longe de uma lata de cerveja foi 7 minutos, exatamente o tempo que ele levou para ir ao terminal do aeroporto até o avião, quando foi servido pela aeromoça. Ele bebe, simplesmente, um caixote de cerveja por dia... No fim da tarde come alguma coisa, geralmente um sanduíche, e só vai jantar de madrugada. Mas quando está no palco, Alice fica mais louco ainda. Ele diz que tem um segundo 'eu' que só aparece quando entra em cena e vê o público. Aí, acontece uma metamorfose e surge um monstro selvagem e aterrorizador que produz um espetáculo repulsivo e fascinante ao mesmo tempo. A morte é o tema central de seus shows. 'A morte é o último segredo da vida. Ela me dá medo, mas graças ao meu papel de Alice, sempre consigo vencê-la'.
Apesar de toda a agressividade em cena e nas declarações em público, Alice vai faturando cada vez mais. Ele explica as razões do seu sucesso: 'A gente sacou a hora certa e começou a criticar a América. E as pessoas ficam chocadas. Mas o estranho é que quanto mais cruel é o show, mais contentes as pessoas saem do teatro. Acho que a maioria nem percebe que a sua própria imagem está refletida no palco. É uma imagem exagerada, mas verdadeira. Tem gente que diz que eu sou doente, mas doentes são eles, que pagam tanto dinheiro para me ver'. Os olhos estão semicerrados. Alice vai falando devagar, entre um gole e outro de cerveja. 'Estamos milionários, por isso podemos nos dar ao luxo de cometer qualquer tipo de exagero, sem nenhum grilo. O público aceita tudo, por causa de todo o dinheiro que existe atrás de nós. Afinal, nos tornamos subprodutos dessa honrada sociedade de onde viemos' Mas existe um outro lado de Alice Cooper. Ele é um cara descontraído que gosta de rir e tem um fraco especial por joias indianas. Às vezes, consegue até ser simpático. Por isso, está sempre cercado por um monte de garotas, onde quer que apareça. Elas o rodeiam, pedem autógrafos e fazem o possível para beijá-lo. E muitas vezes provocam tumultos incríveis na porta dos hoteis e dos teatros, obrigando a polícia a entrar em ação para acalmar os ânimos. A mensagem musical de Alice é agressiva. Mas ele é cada vez mais amado.
A cuca de Alice está sempre fervilhando de novas ideias. Sua inspiração vem das coisas que ele observa a todo momento. A canção Unfinished Sweet, por exemplo, nasceu no consultório do seu dentista.
Durante um tratamento, ele gravou o barulho da broca elétrica, e no disco, dá até pra ouvir o dentista dizendo:'Não vai doer.' Mas a sua grande preocupação é com os lances que acontecem no palco. Num recente show no teatro Olympia de Paris, Alice entrou em cena com um copo de cerveja na mão. Com gestos delicados, colocou-o em cima de um banquinho. Aí, pegou o microfone e deu início ao festim diabólico com Elected, fazendo misérias no palco, rebolando sensualmente e ameaçando o público com uma enorme espada. Depois cantou Teenage Lament, enquanto acariciava sua serpente Kachina. No grande final, 'morreu' pendurado numa forca. O som estridente das guitarras não conseguia cobrir os gritos que vinham da plateia: 'Nós te amamos, Alice, nós te amamos.'"
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