O pensamento existe como uma energia que invade e comanda todas as coisas. Ele invade o átomo e mora dentro dele e em todas as suas partículas e também fora do átomo, que também é cheio de átomos. Todos nós caminhamos num mesmo barco velejando em direção ao abismo que é feito de sol. Nós andamos em direção ao Sol. Depois da morte, nós nos transformamos em partículas de Sol e de outros sóis que há pelo universo.
A grande roda que é o fim do infinito está sempre cheia de acontecimentos e prenhe de novidades. Nós sentimos estas realidades como profundas batidas no coração, como suspiros alongados e visões de serenidade profunda.
A escuridão nunca existe. O universo e os ínfimos recantos do espaço são sempre iluminados por alguma luz branca, azul, amarela ou cores nunca vistas. Mas a escuridão não existe.
Nós contemos a luz que ilumina e em cuja velocidade a eternidade existe. Nós somos fruto desta luz e algumas vezes nós a irradiamos em plenitude nos raros momentos em que entramos em contato com a respiração cósmica, que é diferente em cada momento.
As pedras não pensam, mas eu acho que pensam. Elas têm em si o grande germe do pensamento, porque tudo é pensamento no universo conhecido e desconhecido. As pedras pensam, os átomos pensam, a água pensa, o fogo do cosmos pensa, e até o homem pensa.
As coisas rolam num movimento incessante e todas as coisas rolam numa direção e, às vezes, isto acontece ao mesmo tempo em que estão rodando numa direção. Há muitos ritmos no universo, as coisas rumam em várias direções ao mesmo tempo e não se rasgam. Depois há um ponto no universo em que tudo começa a voltar e onde o tempo gira sobre si mesmo. Mais veloz que o raio da luz corre aquela energia que nos deu a vida e o pensamento. E nesta velocidade maior o tempo volta para trás revendo todas as coisas que foram mas sempre com novidade. As grandes esferas se amam mutuamente com um amor de fogo e água.
Não há verdade alguma no cosmos, só um ritmo de paixão. Os deuses usam coroas de louros e são lindos e sussurram mistérios enquanto dançam requebrando ao som de tambores tocados por adolescentes nus.
Os mortos não estão mortos quando mergulham na velocidade que corre para trás e que é maior do que a luz. As sombras que são os mortos começam a adquirir cores não visíveis e viajam para trás. Algumas sombras escolhem voltar, ou para eras mais antigas ou mais novas, e elas se confundem porque não há delineação precisa de mais nada. Tudo é como se fosse uma enorme onda de oceano quente que se repete muitas vezes. Há os leões que rugem e estranhas arenas de luta e sacrifícios. Há sangue.
O sangue e a luz estão misturados. A carne é feita de luz e os ossos são luminosos, enquanto a alma é feita daquela energia que é maior do que a luz e que vai para trás.
Tudo é mantido por uma grande mão que é o tempo, ela segura os astros e as coisas e a carne e os fogos e as águas. Há muitos fogos assim como há muitas águas, mas há só uma energia que vai para trás. Todos nós somos filhos da mesma coisa e somos a mesma coisa.
Jorge Mautner
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