Haroldo de Campos (1929-2003) foi um dos pilares da poesia concreta, ao lado de seu irmão Augusto e Décio Pignatari. Em 1992 Haroldo lançou o livro Galáxias, onde veio encartado um cd chamado "Isto Não É Um Livro de Viagem", com fragmentos do livro, lidos pelo próprio autor.
Galáxias é uma obra-prima concretista, sobre o qual falou Haroldo:
"Iniciei as Galáxias em 1963 e as concluí em 1976. Sem contar as publicações episódicas na revista Invenção, nº 4 (1964) e 5 (1966-67); as traduções de alguns dos fragmentos para o alemão (1966), francês (1970), espanhol (1978) e inglês (1976, 1981) e a primeira recolha de uma sequência ampla de textos galáticos em Xadrez de Estrelas (Perspectiva, São Paulo, 1976), só em 1984 pude ver concretizado meu projeto em condições funcionalmente adequadas, graças à editora Ex-Libris, de Frederico Nasser: formato grande, visibilidade de leitura, verso das páginas em branco, fazendo as vezes de silêncio ou pausa intercorrente e perfazendo o total programático de 100 páginas. Audiovídeo texto, videotextogame, as GALÁXIAS se situam na fronteira entre prosa e poesia (...)"
A edição de Galáxias de 1992, pela Editora 34, também é caprichada e digna da obra do autor, e o cd, que tem produção de Arnaldo Antunes, valoriza ainda mais o volume. Sobre o lançamento, na época saiu no jornal O Globo uma matéria, dando destaque ao cd, e trazendo um perfil de Haroldo. Assinada por Miguel de Almeida, a matéria tem por título "A poesia de Haroldo chega ao cd". Segue abaixo, um trecho da resenha:
Haroldo no estúdio, lendo trechos de Galáxias |
"Admirado por Cabrera Infante, Umberto Eco e John Cage; elogiado e tietado por Caetano Veloso, Arrigo Barnabé e Arnaldo Antunes; cúmplice visual de Sacilloto, Volpi e Aguillar. O retrato não é uma distante figura do passado, mas de alguém muito vivo e em atividade permanente nos últimos 40 anos: Haroldo de Campos. Na próxima sexta-feira, dia 3, Haroldo desembarca no Rio, na livraria Marcabru, para o lançamento do cd 'Isto não é um livro de viagem', no qual ele próprio lê 16 fragmentos de seu livro 'Galáxias' (Editora 34). Após os autógrafos haverá um mesa redonda com Gerd Bornheim, Luiz Costa Lima, Nelson Ascher, José Lino Grunewald e, possivelmente, Arnaldo Antunes, dos Titãs.
Quem vê Haroldo de Campos se apaixona pela figura: óculos de grau forte, barba e cabelos grisalhos, meio roliço e encantador na sua conversa recheada de imagens poéticas e observações desconcertantes. Ele mora num sobrado na rua Monte Alegre, vizinho da PUC, no paulistano bairro de Perdizes. Advogado e professor, aposentado no inicio dos 80, ele se dedica com afinco ao seu ofício: ser poeta.
'Tanto museu como música vêm da palavra musa. Eu sou da derivação que deu em música', declarou Haroldo ao receber o título de professor emérito da PUC-SP. Deu em música, teatro, cinema e poesia, além de ensaios literários iluminados e traduções elogiadas - eis um possível 3x4 das suas múltiplas atividades. Ele aceitou também convites para trabalhar com diretores teatrais e escrever roteiros cinematográficos.
Neste exato momento, um dos pais da poesia concreta está criando, junto com Gerald Thomas, um tríptico sobre Fausto. 'Não sei quando ficará pronto, mas já está elaborado e dando muito trabalho.', afirma Haroldo, que troca faxes com o diretor, na Europa.- Serão três momentos de Fausto. O primeiro é um texto básico meu, escrito há muitos anos; o segundo são as duas cenas finais do 'Fausto' de Goethe, com minha tradução; e o terceiro é um texto novo que estou escrevendo com colaboração do Gerald. A bola está rolando.
E trabalhar com ele está sendo ótimo, porque Gerald tem uma cultura literária muito boa.
Carinhosamente chamado de 'Fax Fausto' (nome provisório), o projeto não tem data para ser encerrado - 'O nome vem porque viajamos muito, e o fax é nosso meio de comunicação'.
Há ainda o barulho silencioso que 'Gláxias' vem provocando, não apenas no meio literário, mas também na música brasileira. Alguns fragmentos do texto foram musicados por Caetano Veloso, Edvaldo Santana, Péricles Cavalcanti e Livio Tragtemberg. E o próprio Haroldo apareceu no filme 'Os Semões', de julio Bressane, lendo algumas das passagens da epopeia.
De todos esses nomes é Caetano quem conhece o texto há mais tempo - desde 1969, quando o autor foi a Londres, durante a realização de uma pesquisa, e aproveitou para visitar Caetano e Gil, na época exilados do Brasil pelo regime militar.
- Uma noite, em Londres, o carro de Caetano foi abalroado por outro automóvel. Eu senti uma fissura no osso ilíaco. No dia seguinte percebi que mal podia me mexer na cama. Aí o Caetano e o Gil me levaram para a casa deles. O que era uma situação desagradável passou a ser prazeroso.
A cena da época: meio imobilizado, Haroldo ouve as últimas composições de Caetano e Gil; apresenta a eles o amigo cubano Cabrera Infante, um tarado por música, que reconstroi em um de seus livros, 'Três tristes tigres', uma cena no Cassino da Urca. E também quando Caetano e Gil pedem a Haroldo que leia alguns fragmentos de 'Galáxias', que ele vinha escrevendo desde 1963."
Entrei em contato com a poesia concreta com a obra de Caetano Veloso.
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